Nas escolas e nas ruas, professores admitem radicalizar os protestos

Nas escolas e nas ruas, professores admitem radicalizar os protestos

 

Nos sindicatos e na blogosfera começam a detectar-se sinais de “revolta” de quem não terá trabalho em Setembro. Depois dos contratados, muitos professores do quadro vão ficar este ano sem lugar nas suas escolas

Depois de semanas de incerteza sobre quantos ficariam sem actividade lectiva, os professores começaram, ontem, a dar sinais de revolta. É o que diz Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional de Professores (Fenprof ), mas também César Paulo, que há menos de um mês criou um grupo no Facebook em defesa do vínculo dos contratados. Ambos dizem temer “a radicalização dos protestos” de milhares de docentes desempregados. “Ainda em Julho”, arrisca Nogueira. Ou, “pelo menos, em Setembro”, prevê César Paulo.
Centenas de professores têm sido informados nos últimos dias de que não terão horário atribuído no próximo ano lectivo
Foi na sexta-feira que terminou oficialmente o prazo para os directores identificarem os professores que, segundo os seus cálculos, não terão componente lectiva em 2012/13. Mas só ontem, através de contactos dentro da própria escola nas redes sociais, se começou a ter “uma noção mais clara da brutalidade do despedimento que o Ministério da Educação está a promover”, diz César Paulo. “Alguns ainda choram, desesperados. Outros já dizem para avançarmos, que estão dispostos a tudo. Começa a ser assustador”, reflectia ontem aquele professor.

Na semana passada, Mário Nogueira previu que as medidas tomadas pelo ministério de Nuno Crato — como a criação dos mega-agrupamentos, a revisão curricular e o aumento do número de alunos por turma — provocassem a extinção de cerca de 25 mil horários. Ontem, ele e Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), já diziam temer que a situação seja “ainda pior”. Há notícias de agrupamentos com 50, 60, 90 e até mais de cem “horários zero”. Ou seja, de professores do quadro, com 15, 20 e até 30 anos de serviço, que terão de ir a concurso por não terem lugar nas respectivas escolas. Para estes, para já, a violência “é psicológica” — na pior das hipóteses ficam noutra escola ou com horário zero, mas a receber os seus vencimentos. “Mas para milhares e milhares de contratados, que foram essenciais ao funcionamento do sistema, há essa violência e a outra, a de não saberem como vão pôr comida na mesa, em Setembro”, zangava-se ontem Manuel Pereira.
Todos os professores e dirigentes contactados pelo PÚBLICO disseram que se vê gente a chorar nas escolas. “Os do quadro sentem-se descartados. Nós, que estivemos dezenas de anos a contrato, começamos a ter uma noção clara de que é o fim. A profissão acabou”, lamentava ontem César Paulo. Na página do Facebook que criou há cerca de um mês — e que juntou num ápice mais de 20 mil membros — planeavam-se vigílias e viagens à Assembleia da República já nesta quinta-feira, dia em que Nuno Crato é ouvido no Parlamento. Mário Nogueira, pela Fenprof, promete “acção” ainda este mês.

“O ministério pode muito bem ter acendido o rastilho de um movimento que vai estalar nas ruas sem que alguém o possa controlar”, dizia ontem o líder da Fenprof.

“Entre os milhares de professores que ficarão desempregados há muitos casais, com filhos, com empréstimos para pagar”, lembrou ontem Arlindo Ferreira, um dos promotores de um dos mais participados blogues sobre Educação.

Arlindo foi um dos foram chamados pela direcção da respectiva escola esta segunda-feira: “Éramos 32. Chamaram-nos para uma reunião e explicaram-nos por que nos mandavam para destacamento por ausência de actividade lectiva”. Tenta descrever o ambiente, mas não encontra as palavras. Diz que “o sofrimento e a desorientação” das pessoas, “mesmo dos directores”, “são indescritíveis”. E lembra que o ministério, neste momento, já tem “os números” — “Se não o querem dizer, não digam. Mas reflictam sobre eles e ajam, ao menos isso”.

 

17 Jul 2012

Edição Público Porto

Educação

Graça Barbosa Ribeiro

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13 comentários

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    • Maria da Fonte on 17 de Julho de 2012 at 12:40
    • Responder

    Aplaudam agora o Senhor Exigência.
    Com falinhas mansas andou a pregar aquela coisa das disciplinas ditas essenciais.
    Alguns professores acharam-se muito importantes pela referência e aplaudiram.
    No fim, como se vê, apanhamos todos por tabela.
    Já não são só EVT e ET (embora sejam os que estão a apanhar mais) a GRITAR.
    Infelizmente ficamo-nos pelos gritinhos e não passamos disto.
    Faço um apelo a iniciativas criativas para que esta situação incomode os partidos, os governantes, os sindicatos e os líderes de opinião (jornais e televisões).
    É hora de nos mexermos!

  1. Lá ser hora de nos mexermos, é.
    Mas eu ando a estudar a coisa e falta massa crítica transpartidária na mesma- pq eu não acredito na apartidarização da coisa..
    Vejo tentáculos do BE e do PCP em todo o lado.Tudo bem.
    Mas preciso de ver também o PS, o CDS e o próprio PSD, assim como os sindicatos na área da FNE
    Aquela carta conjunta foi um começo- mas é preciso ter mais signatários, nomeadamente da chamada direita.
    As próprias Câmaras Municipais também já se chegavam à frente porque para as festas e para o folclore chegam-se sempre.

    • Marisa on 17 de Julho de 2012 at 13:28
    • Responder

    E já agora, desculpem o termo, baixemos as “calças” à prova de ingresso, tendo em conta este escândalo com o Relvas, eu posso dizer que se tiver de a fazer, NÃO FAÇO!

    1. Quem deve fazer a prova são estes governantes não acham? A começar pelo Relvas que praticamente tem 12.º ano.

  2. A fenprof e a esquerda folclórica coloraram este ministro no governo.. agora.. é tarde.O que esperavam?
    http://omocho.info/mocho3/?p=7735

    • Ana Pinto on 17 de Julho de 2012 at 14:34
    • Responder

    A Fenprof e a esquerda folclórica é que colocaram o Crato? Diga o nome do planeta onde vive ou então que comprimidos toma porque são muito bons…

    1. A ALiança PCP /PSD/BE .. foi evidente antes e depois. Basta ver os protestos ou a falta deles…Só não conseguem ver os “doentinhos” . Quem não tem argumentos manda bocas.. tretas…

    • António on 17 de Julho de 2012 at 14:42
    • Responder

    colegas, toca a votar no pior ministro no site http://economico.sapo.pt/index.php (são todos, embora para nós seja o crato), o crato já está em 3º:)), votem nele!!!

    • rduarte on 17 de Julho de 2012 at 15:20
    • Responder

    E se nos deixassemos destas tricas e pensassemos a sério. Não vos chega de enxovalhos? PARTAMOS PARA UMA GREVE POR NÍVEIS DE ENSINO.2F PRÈ,3F 1ºCICLO,4ªF 2ºCICLO,5ªF 3ºCICLO,6ªF SECUNDÁRIO.

    • Maia on 17 de Julho de 2012 at 15:54
    • Responder

    Os ministros decidem e os funcionários acatam! O ministro das finanças decidiu que alguns funcionários (os admitidos a meio de 2011) devem receber o subsidio de férias… por acaso esses funcionários não são os admitidos depois do governo tomar posse? Mera retórica… o que aconteceria se os funcionários públicos com os subsidios cortados resolvessem o seguinte: Se não recebo o subsidio de férias então não vou trabalhar em Julho e gozo férias em Agosto! Se não recebo o subsidio de Natal não vou trabalhar em Dezembro, ou seja se não me pagam, não trabalho… não é falando mal dos governantes que se vencem lutas, é lutando, é ferindo onde doi mais…
    LUTEMOS POR NÓS, SE NÃO O FIZERMOS NINGUÉM O FARÁ.

    • Silva on 17 de Julho de 2012 at 16:12
    • Responder

    Acho que chegou a hora de todos nós começarmos a pensar em lutas mais duras. Em setembro vai ser a maior razia de sempre.

    • maria on 17 de Julho de 2012 at 16:14
    • Responder

    ninguem pode estar indiferente a esta calamidade.
    uns sentem-no já na pele,os contratados não reconduzidos.todos os outros,apesar de…ainda recebem.
    destruiram tudo…até os reformados estão á mingua,pois o dinheiro já não chega para pagar o sustento dos filhos e netos.tenho filhos,sei como é.tirem as benesses aos politicos e directores de grandes empresas que já chega para todos.os profs sempre pagaram impostos e são todos licenciados em via ensino,devem ser tratados com mais respeito.
    os sindicatos não devem parar,é inadmissivel sermos os pobres e a classe média a pagar o que outros roubaram.
    deveres e direitos são para todos.

    • fernando on 17 de Julho de 2012 at 16:28
    • Responder

    É uma calamidade, mas alternativas credíveis? Supõem que Seguro as têm? Já nem falo em Louçã que provavelmente continua a achar boa ideia taxr o capital, como se o capital estivesse ali parado à espera que o Louçã o vá taxar. Um problema enorme, uma dívida colossal a juros elevadíssimos. Sócrates, onde nos foste meter? Temo por ver que o maior sindicato perante a evidência da clamidade se cola aos diretores e à Confap, como se as agregações fossem o mal. Antes poupar nos administrativos que nos verdadeiros professores.

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