O benefício da dúvida aos novos protagonistas- José Manuel Alho

O banquete – O benefício da dúvida aos novos protagonistas 

Hoje, toma posse o XXIII governo constitucional.

Na Educação, o Ministro é João Costa. Como qualquer um de nós, se cuspido para estas lides, apresenta motivos de elogio e reúne quesitos para crítica contundente. Para (único) Secretário de Estado da Educação, foi designado António de Oliveira Leite.

Comecemos pelo essencial: o sistema educativo precisa de rotina e previsibilidade. A sanha (pseudo)reformista, assente num experimentalismo patológico, introduziu entorses e deformações várias. Urge devolver ao setor o realismo pragmático e securizante dos ousados.

Se a Educação não deve estar refém dos (legítimos) interesses dos professores, não será menos verdade que não pode estar sujeito às chantagens inconfessáveis de outras  organizações corporativistas. Na última década – para ser generoso – os docentes, a pretexto de pífias laborações imediatistas, foram, consecutiva e invariavelmente, servidos em mal urdidas bandejas de sacrifício, descaradamente conotadas com populismos alimentados pelo ódio e inveja sociais. Nada de novo numa nação cuja religião assenta na cobiça do mérito alheio.

Em resumo, como em qualquer outra área nevrálgica do país, nenhuma mudança, genuinamente transformadora, poderá ser feita contra os seus profissionais. É dos livros. Não é preciso ir a Coimbra para entender…

Sem necessidade de elencar a recensão abreviada dos mais sonsos disparates cometidos, em Portugal, em tão crucial setor para o devir das futuras gerações, arrisco conceder o benefício da dúvida. Bem sei que não está na moda, neste mundo de certezas instantâneas e inabaláveis, atrevermo-nos a dar um benefício. Muito mais o da dúvida. Mas eu aceito fazê-lo. Porque há um futuro por assegurar. E ninguém tem o direito de se colocar à margem da solução.

Do que ouvi. Com quem conversei. De todos, escutei razões para não exluir ou estigmatizar. Bem sei que os Professores têm sido – e aqui não há inocentes – vítimas de toda a sorte de abusos e iniquidades. É tempo de pacificar o tom da conversa. O instituto da PALAVRA pode muito até porque a PALAVRA precede a AÇÃO.

Por maiores e mais graves que tenha sido as negligências e omissões dos sindicatos tradicionais, que até têm procrastinado a renovação das suas lideranças, cumpre reconhecer o seu inestimável papel  na valorização da Escola Pública. Sem eles, tudo fica mais difícil.

Por outro lado, existe uma pedra que protelou toda a engrenagem: o reconhecimento de TODO o tempo de serviço prestado pelos professores para efeitos de progressão na carreira. A recusa na procura, ponderada, de uma solução aceitável não permitirá outros compromissos vitais para a qualificação integrada do nosso ensino. Valorizar quem permaneceu no sistema educativo, quando tudo o resto falia, é um imperativo de consciência patriótica. Enjeitá-lo seria uma insensatez que, todos, pagaríamos (demasiado) caro.

Por fim, como professor do 1.º Ciclo, aguardo pelo cumprimento da promessa de António Costa aos monodocentes, que lideram a lista de vítimas de todas as injustiças infligidas aos profissionais da educação desde o início deste século.

Chamem-me romântico. Apelidem-me de lírico. Tanto faz. Até prova em contrário, opto por, sem reservas mentais, ter esperança porque (ainda) arrisco dar obenefício da dúvida.

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14 comentários

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    • Injustiças on 30 de Março de 2022 at 19:20
    • Responder

    Maior injustiça será dos colegas que estando como todos os outros congelados mais de 9 anos, prolongam o seu congelamento no 4º ou 6º escalão à espera de vaga para o acesso ao próximo escalão.
    A idade, infelizmente, não congela neste período..

    • Blue on 30 de Março de 2022 at 21:12
    • Responder

    Eu não diria que os professores do Ensino Básico sofreram as maiores injustiças por parte dos sucessivos governos nos últimos 22 anos, pelo menos!!!!
    Eu diria que transversalmente todos os professores sofreram atrocidades e injustiças, todos os educadores e todos os funcionários das escolas, por igual!
    A maior atrocidade de todas foi a unificação da carreira! Onde já se viu aqueles que mais estudaram ganharem o mesmo que aqueles que na carreira de docentes menos estudaram?
    E por aqui me fico! Sou professora do Secundário e ganho mesmo que um Educador de Infância! Peço desculpa e não tinha que a pedir, mas não concordo! Por isso não há professores!

      • Única on 30 de Março de 2022 at 22:43
      • Responder

      Onde já se viu… Sim, não há nenhum país do mundo onde exista a fantástica, extraordinária, a única….. carreira única!
      E ainda mais grave é que os autores (governantes e sindicatos) ainda não foram sequer julgados e condenados por tamanhas atracidades que fizeram!

      • Lumi on 30 de Março de 2022 at 22:57
      • Responder

      Devia pedir mesmo desculpa. Não entendo o que quer dizer “quem estudou mais devia ganhar mais do que os que estudaram menos” Um Educador de Infância é um professor menor? Por trás de um “brilhante” professor do secundário está um “excelente” educador de infância…é nos primeiro anos que se prepara a papinha toda. Mais tarde o resto é cosmética.

        • Vai estudar. on 31 de Março de 2022 at 3:57
        • Responder

        E o professor universitário também é um professor menor?
        Uma babá será sempre uma babá.
        Tivesses estudado.

          • Vai estudar pra "babá" on 31 de Março de 2022 at 4:14

          Um palerma será sempre um palerma…

      • Bebeste tinta azul on 31 de Março de 2022 at 4:09
      • Responder

      Deves pensar que trabalhas mais do que os outros…
      O que és mais do que uma educadora de infância que trabalha muito mais do que tu, que não tem dia de folga, que não tem redução de horário só porque a idade avança…
      Deves pensar que és a rainha e que só o teu trabalho tem mérito.
      Não te esqueças que quando dizes mal dos colegas do elo anterior da cadeia alguém acima da cadeia faz o mesmo contigo e com o teu trabalho.
      Por termos estas mentalidades bacocas é que o sistema está como está…
      E sim os mais roubados foram os docentes do pré escolar e do 1 ciclo.

        • Babá on 31 de Março de 2022 at 7:36
        • Responder

        Se o ensino secundário é um oásis deverias aproveitar o concurso e candidatares-te.
        Ah… as habilitações literárias são insuficientes e ,assim sendo, tens que ser a ama dos rebentos.

        • Tá bem tá on 31 de Março de 2022 at 11:53
        • Responder

        Deixa de ser asinina.
        As minhas habilitações são as necessárias para a função.
        Se quiseres vir para o ensino básico também podes vir, mas não tens habilitações para a função.
        Se acham que é pelo facto de rebaixaram os colegas dos outros ciclos é que o sistema educativo vai mudar então estamos conversados em relação a mentalidades bacocas.
        As habilitações literárias de pouco te servem se não desempoeirares o cérebro.
        Não são rebentos, estúpida, são alunos.

    • Coitaditos!!! on 31 de Março de 2022 at 12:55
    • Responder

    Tanta ignorância!!!
    O texto é interessante, mas o colega estragou tudo ao dizer que é professor do 1º ciclo.
    Não sabe que neste blog há aqui comentadores, racistas, xenófobos em relação a este assunto?
    Repare que apenas se fixaram nisso.
    Continua esta conversa das habilitações. Já em 1997, havia mais educadores e professores do 1º ciclo com mestrados do que nos outros ciclos. Antes de escreverem, é bom que se informem. Já aqui expliquei que alguns dos professores do 2º e 3º ciclos, tinham antes apenas o 5º ano antigo( curso de formação feminina e curso de mecanotecnia, etc.) O que pediam às pessoas para exercer determinada profissão.
    O que pedem hoje aos educadores de infância e professores do 1º ciclo é exatamente o que pedem para os outros docentes. Deixem o passado, fixem-se no futuro, não percam tempo com questões menores. Sejam profissionais de educação. Lutem por aquilo que vos interessa, são uns entorpecidos, adormecidos, acomodados, não se chegam à frente.
    Se as “babás e os regentes” são de menos importância não levem os vossos filhos ou netos, fiquem com eles em casa, ponham-nos no secundário convosco. Porque os vossos filhos ou netos com estes valores, também não devem fazer falta aos Educadores de Infância e aos Professores do 1º Ciclo, porque a falta de expetativas face à escola passada por vós, influencia o desempenho das “crias.”
    Mas quem fala também não deve ter andado em nenhum jardim de infância e deve ter aprendido a ler e escrever e nada mais. Caso contrário saberiam que as formações mudaram para todos com os tempos.
    “E o professor universitário também é um professor menor?”. Depende, pois o professor no início da carreira, salvo raras exceções, ficam com a dita “rolha” no fim de acabarem o curso, sem preparação pedagógica, são inicialmente monitores e assistentes, só depois é que vão governando a vida, fazendo mestrado, doutoramento, com apenas 12 horas de componente letiva por semana. Mas nunca lhes é exigida a parte pedagógica, também não é preciso, despejam e quem aprende aprende quem não aprende volta lá, as vezes que forem precisas. Conheci um professor de estruturas( engenharia) que tinha uma sala com 500 alunos, pois havia alunos com barbas brancas sem conseguirem acabar o curso.
    Parem com esta palhaçada, comentem os artigos e respeitem quem os escreve, porque comentar com bacoradas é fácil.

      • Nem mais on 31 de Março de 2022 at 15:53
      • Responder

      Não diria melhor.
      Mas este insulto constante de bestas letradas ao pré escolar e 1 ciclo mete nojo.
      Se calhar acham que alguém se vai pôr de joelhos, só porque são professores do secundário. ..
      Desempenhem bem a vossa profissão, sem menosprezar o importante trabalho dos outros.
      Este espírito de sobranceria é nocivo na sociedade portuguesa.
      Na “minha” escola todos são tratados por igual, respeitados e a sua opinião é ouvida inclusive os AO que desempenham um papel fundamental na vida da comunidade escolar.
      Estes fundamentalistas metem nojo…

  1. “Benefício da dúvida”!!!! A quem????
    Não repararam que os “novos coveiros” da educação e dos professores, estão lá há DÉCADAS!!!!????
    Com professores destes (do 1º ou de outro ciclo qualquer) continuaremos a ser desprezados e humilhados.

    • Ar.canjo on 1 de Abril de 2022 at 12:28
    • Responder

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    • ToiniVeitonen on 28 de Junho de 2022 at 8:47
    • Responder

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