O banquete – O benefício da dúvida aos novos protagonistas
Hoje, toma posse o XXIII governo constitucional.
Na Educação, o Ministro é João Costa. Como qualquer um de nós, se cuspido para estas lides, apresenta motivos de elogio e reúne quesitos para crítica contundente. Para (único) Secretário de Estado da Educação, foi designado António de Oliveira Leite.
Comecemos pelo essencial: o sistema educativo precisa de rotina e previsibilidade. A sanha (pseudo)reformista, assente num experimentalismo patológico, introduziu entorses e deformações várias. Urge devolver ao setor o realismo pragmático e securizante dos ousados.
Se a Educação não deve estar refém dos (legítimos) interesses dos professores, não será menos verdade que não pode estar sujeito às chantagens inconfessáveis de outras organizações corporativistas. Na última década – para ser generoso – os docentes, a pretexto de pífias laborações imediatistas, foram, consecutiva e invariavelmente, servidos em mal urdidas bandejas de sacrifício, descaradamente conotadas com populismos alimentados pelo ódio e inveja sociais. Nada de novo numa nação cuja religião assenta na cobiça do mérito alheio.
Em resumo, como em qualquer outra área nevrálgica do país, nenhuma mudança, genuinamente transformadora, poderá ser feita contra os seus profissionais. É dos livros. Não é preciso ir a Coimbra para entender…
Sem necessidade de elencar a recensão abreviada dos mais sonsos disparates cometidos, em Portugal, em tão crucial setor para o devir das futuras gerações, arrisco conceder o benefício da dúvida. Bem sei que não está na moda, neste mundo de certezas instantâneas e inabaláveis, atrevermo-nos a dar um benefício. Muito mais o da dúvida. Mas eu aceito fazê-lo. Porque há um futuro por assegurar. E ninguém tem o direito de se colocar à margem da solução.
Do que ouvi. Com quem conversei. De todos, escutei razões para não exluir ou estigmatizar. Bem sei que os Professores têm sido – e aqui não há inocentes – vítimas de toda a sorte de abusos e iniquidades. É tempo de pacificar o tom da conversa. O instituto da PALAVRA pode muito até porque a PALAVRA precede a AÇÃO.
Por maiores e mais graves que tenha sido as negligências e omissões dos sindicatos tradicionais, que até têm procrastinado a renovação das suas lideranças, cumpre reconhecer o seu inestimável papel na valorização da Escola Pública. Sem eles, tudo fica mais difícil.
Por outro lado, existe uma pedra que protelou toda a engrenagem: o reconhecimento de TODO o tempo de serviço prestado pelos professores para efeitos de progressão na carreira. A recusa na procura, ponderada, de uma solução aceitável não permitirá outros compromissos vitais para a qualificação integrada do nosso ensino. Valorizar quem permaneceu no sistema educativo, quando tudo o resto falia, é um imperativo de consciência patriótica. Enjeitá-lo seria uma insensatez que, todos, pagaríamos (demasiado) caro.
Por fim, como professor do 1.º Ciclo, aguardo pelo cumprimento da promessa de António Costa aos monodocentes, que lideram a lista de vítimas de todas as injustiças infligidas aos profissionais da educação desde o início deste século.
Chamem-me romântico. Apelidem-me de lírico. Tanto faz. Até prova em contrário, opto por, sem reservas mentais, ter esperança porque (ainda) arrisco dar obenefício da dúvida.