Opinião – Fenómeno Educacional – Provas de Aferição a Disciplinas sem programa (o obscurantismo do sistema) – Carlos Tiago

 

Fenómeno Educacional – Provas de Aferição a Disciplinas sem programa (o obscurantismo do sistema)

Aproxima-se a realização das Provas de Aferição (para os alunos, nem de aflição), este ano, pela primeira vez nas disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica no 2.º ciclo (5.º ano de escolaridade).

Nas últimas dezenas de anos tem aumentado a implantação da sociedade da tecnologia, da automação, da robótica, da inteligência artificial e da manufaturação, neste país (nesta selva onde tudo é possível e alguns fazem tudo o que querem e nada lhes acontece), mas no sentido inverso têm caminhado as políticas educativas dos vários Ministérios da Educação, ao diminuírem as cargas horárias e/ou acabarem com as disciplinas artísticas, artesanais/manuais e tecnológicas no ensino básico obrigatório, bem como têm reduzido e/ou eliminado os investimentos em recursos humanos, instalações, equipamentos e materiais de consumo diversificados.

No 2.º ciclo foram reduzindo a carga horária da disciplina de Trabalhos Manuais até acabarem com ela e reduziram a carga horária da disciplina de Educação Visual. Criaram uma disciplina de Educação Visual e Tecnológica com menos carga horária e por fim retiram dela o par pedagógico (2 professores por turma/sala). Separaram-nas voltando a reduzir a carga horária e com um professor com os alunos da turma toda ao mesmo tempo, a funcionarem numa “autentica batalha campal” para uma disciplina que deveria ser eminentemente prática e com utilização de equipamentos e ferramentas. Para o próximo ano letivo, ao abrigo da “autonomia” (mini-selva) podem as Escolas diminuí-las ou até eliminá-las.

No 3.º ciclo diminuíram a carga horária até acabarem com a disciplina de Trabalhos Oficinais e com a divisão da turma em 2 grupos com 2 professores. Substituíram-na pela disciplina de Educação Tecnológica com uma reduzida carga horária e apenas com um professor para os alunos de toda a turma para darem continuidade à “batalha campal”. Finalmente extinguiram-na pura e simplesmente, possibilitando a oferta de disciplinas pela referida “autonomia” dos interesses “duvidosos” também já instalados nas Escolas.

Posto isto, regresse-se às Provas de Aferição a realizar nas disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica, nos seguintes termos:

– Disciplinas sem programa, mas com Metas, ou seja, o Ministério da Educação manda os professores lecionarem as disciplinas sem definir programas individuais para elas, contudo define Metas a atingir obrigatoriamente, reportando para que sejam organizadas as atividades daquelas disciplinas com base num programa de uma disciplina que já não existe e está completamente desatualizado com dezenas de anos (o da disciplina de Educação Visual e Tecnológica), ou seja, não serve para ser lecionada, mas serve para “esventrar” o seu programa;

– Deverão os professores apoiarem-se no programa da antiga disciplina de Educação Visual e Tenológica que tinha mais carga horária e par pedagógico (2 professores por turma), “inventando”, “desenrascando”, “assegurando” o que o Ministério da Educação não tem competência e nem sabe fazer ou o que é um programa para cada uma daquelas disciplinas;

– Em cada Escola são os professores a “parirem” programas para estas disciplinas com o intuito de preparem os alunos para uma Prova de Aferição nacional cujos moldes desconhecem por completo e para as quais não lhes foram dadas quaisquer orientações nem sequer matrizes/informações/exemplos de provas relativamente aos conteúdos programáticos.

Pergunta-se/Questiona-se:

– Como é possível obrigar os alunos a realizarem uma Prova de Aferição em disciplinas onde nem sequer existe programa? Em centenas de disciplinas nos vários ciclos são as 2 únicas disciplinas que não têm programa.

– Será que a realização da Prova de Aferição nestas disciplinas sem qualquer tipo de orientação é para avaliar a capacidade dos respetivos professores que as lecionam relativamente à incompetência do Ministério da Educação? Certamente com eles aprenderão o que não sabem, pois a maioria dos professores são os mais antigos e experientes no sistema educativo e estão diretamente relacionados com a capacidade de trabalho, organizativa e produtiva.

– Onde estão os encarregados de educação e a sua preocupação com o que o Ministério de Educação manda fazer aos seus educandos para avaliar os professores (ou o sistema falido, como o país)? Estarão certamente preocupados com o que os professores mandam fazer aos seus educandos e com o que lhes exigem relativamente aos comportamentos e atitudes corretas que devem ter e não têm na sala de aula, especialmente nas disciplinas práticas, em que é preciso transformar materiais utilizando técnicas complexas e diversificadas.

– Se isto se passasse com as disciplinas ditas “importantes”, o que já teria acontecido e quantos “experts na matéria” já tinham vindo “partir a louça toda” e defender o “ego”? Aqui se vê a importância das diferentes disciplinas (teóricas ou práticas) e porque é que os alunos não querem esforçar-se no trabalho produtivo, em que o Ministério da Educação é o primeiro a desvalorizar as componentes artísticas, tecnológicas e artesanais, salvo as áreas desportivas, musicais e da representação (relacionadas com o espetáculo). Não esquecer que tudo o que existe e que é utilizado é sempre produzido, mas para ser concebido é necessário saber ver (EV) e saber fazer (ET).

O Ministério da Educação com este tipo de política educativa vem, mais uma vez, desvalorizar, enxovalhar e nitidamente extinguir os já poucos professores das antigas disciplinas de Trabalhos Manuais e Trabalhos Oficinais e os atuais professores das disciplinas de Educação Visual e de Educação Tenológica, não aproveitando mínima e adequadamente as suas valências. O Ministério da Educação não soube fazer os programas das disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica, mas sabe fazer Provas de Aferição para as avaliar e vir colocar em causa o que os professores lecionaram aos seus alunos, mandando depois às Escolas os relatórios incriminatórios.

 

 

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