Entre 18 e 19 de Janeiro de 2024, terão, alegadamente, ocorrido vários episódios de violência em contexto escolar, nomeadamente agressões/abusos de natureza sexual, entre Alunos do Agrupamento de Escolas de Vimioso…
Segundo o Ministério Público, citado pela SIC Notícias, em 31 de Julho passado:
– Nesses episódios terão estado envolvidos pelo menos 22 Alunos: 11 agressores e 11 vítimas;
– “No decurso da investigação, o MP teve acesso a vários vídeos de telemóvel, que serviram como meio de prova. O MP descreve diversos episódios, ocorridos nos dois dias, nos quais os suspeitos “agarraram e manietaram” as vítimas, levando-as, uma a uma, para “a mesa do bar”, onde eram sujeitas a toques, gestos e movimentos corporais de cariz sexual.”
– “A procuradora diz que os jovens agiram, “em conjugação de esforços, com o propósito de satisfazerem os seus instintos sexuais e libidinosos”, praticando sobre os ofendidos, com idades entre os 11 e os 14 anos, “atos de natureza e conteúdo sexual”, apesar de saberem “que assim colocavam em causa os sentimentos de pudor, vergonha e intimidade” das vítimas.”
– “O MP concluiu que “inexistem indícios suficientes que permitam afirmar” que os suspeitos tenham concretizado a alegada sodomização, determinando o arquivamento nesta parte.”
Pela descrição dos factos apurados pelo Ministério Público, poderá inferir-se o seguinte:
– Entre agressores e vítimas, o número de Alunos directamente envolvidos nos episódios descritos foi elevado (22 Alunos), não sendo expectável que os alegados actos violentos tenham sido praticados em absoluto silêncio ou sem quaisquer perturbações audíveis;
– Os comportamentos dos agressores sobre os ofendidos terão ocorrido na mesa do bar, ou seja, num local que, à partida, não será propriamente recôndito, escondido, inacessível à vista da maior parte da população escolar;
– Os episódios descritos terão ocorrido em dois dias consecutivos…
Dadas as circunstâncias anteriores, não poderá deixar de se perguntar o seguinte:
– Como compreender que, logo no primeiro dia, nenhum adulto tenha posto cobro a tais comportamentos? Como compreender que tais comportamentos se possam ter arrastado por dois dias?
– Será plausível que nenhum adulto tenha presenciado tais comportamentos ou tomado conhecimento dos mesmos, logo no primeiro dia, pois só assim se poderá justificar a sua repetição no dia seguinte?
– Houve ou não tentativa de ocultação destes episódios?
Apesar de não ter ficado provada a existência de sodomização consumada, os restantes comportamentos descritos pelo Ministério Público, e assumidos como verdadeiros, são, também eles, de uma gravidade extrema, impossíveis de serem ignorados ou silenciados…
Se houve tentativa de ocultação, o mínimo que se poderá afirmar é que “atirar a violência escolar para baixo do tapete” não a eliminará…
Sem conhecimento factual acerca do que verdadeiramente se passou a esse nível, também sabemos, contudo, que em algumas escolas, se assiste, frequentemente, à minimização do número de ocorrências de natureza violenta em contexto escolar, ao mesmo tempo que se relativiza a gravidade das mesmas…
Nessas circunstâncias, o que realmente parece importar é salvar as aparências, tentando preservar, a todo o custo, uma imagem pública da escola que se pretende “imaculada” e “impoluta”…
O principal resultado dessa conduta acaba por ser a “normalização” e a “desculpabilização” da violência escolar, o que resultará na aceitação da mesma como uma inevitabilidade, impossível de debelar…
Dessa forma, cria-se a desconfiança de que existirão muitos casos de violência escolar que, por não serem reportados, acabam escondidos, “atirados para baixo do tapete”, mantidos na penumbra ou disfarçados e que, por esse motivo, nunca constarão em qualquer registo ou estatística oficial, quer seja ao nível de escola, quer seja ao nível das estruturas do Ministério da Educação…
E se esses casos não estiverem registados oficialmente, será como se nunca tivessem existido…
Enquanto a violência escolar continuar a ser vista e tratada como um assunto “proibido”, de difícil admissão, continuar-se-á a negar a existência do problema, o que, na prática, corresponderá a tolerar comportamentos violentos…
“Todos sabiam, mas ninguém fez nada” é uma afirmação recorrentemente ouvida…
O medo e o silêncio das vítimas parecem estar instalados em algumas escolas, muitas vezes justificados pelo receio de “arranjar ainda mais problemas” ou de represálias e retaliações…
Enquanto isso, os agressores continuarão a gozar de liberdade de acção, muitos deles sem serem oficialmente identificados, responsabilizados e sancionados, quase sempre convencidos da sua invencibilidade…
Seja em que escola for, quando um grupo de jovens se mostra capaz de recorrer à violência extrema, acabando por humilhar e agredir sexualmente outros pares, sujeitando-os sem qualquer pudor a situações degradantes, estaremos sempre perante um problema deveras assustador e preocupante…
A crueldade com que muitos desses actos são praticados denuncia a ausência de empatia, de princípios éticos e morais e de sentimento de culpa, assim como o desrespeito total pelos direitos do outro…
Mas a violência em contexto escolar não pode ser vista como uma inevitabilidade…
A violência em contexto escolar também não pode deixar de ser denunciada…
A violência não pode deixar de ser denunciada, sobretudo por aqueles que, no contexto escolar, têm o dever e a responsabilidade de zelar pela segurança e pelo bem-estar das crianças e dos jovens aí presentes, mas também pela integridade física e moral de todos os que aí trabalham…
Não pode haver nenhum tipo de cumplicidade ou de tolerância, face à violência em contexto escolar…
A violência em contexto escolar não pode ficar impune, mesmo quando assuma um carácter esporádico, sendo certo que a liberdade individual e a dignidade humana não são compatíveis com o medo imposto por essa inumanidade…
E nenhum de nós, na medida das respectivas responsabilidades e atribuições, se poderá demitir desses deveres…
Paula Dias
10 comentários
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Muito estranho. Nenhum adulto percebeu o que estava a acontecer? Viram e não atuaram?
Existem vídeos.
Ou ninguém viu ou fingiu que não viu.
Discernimento, ética e bom senso. Obrigada pela intervenção colega.
Caso claro de ocultação e fechar de olhos ao que se passa nas escolas.
Não há queixas, não há problemas.
Quem se “atreve” a fazer queixa é mal visto.
Não se pode fazer participações disciplinares.
Não se pode chamar a polícia.
Não se aplica o estatuto do aluno.
Os psicólogos resolvem tudo, fazendo nada, com a cumplicidade das direções e diretores de turma.
E muitos mais do “não de pode”, acontecem nas escolas.
Não é com a cumplicidade das Direções é a mando das Direções e com o abafar destas e o rasgar, inclusivamente, das participações. Resumindo em algumas escolas não existem participações, porque os seus registos são eliminados e quem se queixa disso ainda tem problemas disciplinares.
Sim, mas não são as direções. São os diretores. Estão habituados à fraude à mordaça e à impunidade.
Eu nem me quero atrever dizer que parece ser cultural. Na terra.
Não conheço Vimioso.
Será que os funcionários da escola não viram? Não acredito .! 2 dias seguidos!! Com filmagens e tudo!
Devem achar normal que os jovens façam aqueles jogos sexuais ou mesmo atos sexuais com os mais novos para se iniciarem na vida adulta .
Rituais de passagem.
Machos!
Se não é cultural então é resultante do medo que os funcionários têm deles. De represálias.
Muito estranho tudo isto. E o ministério público foi muito brando. Deviam ir para o regime fechado nos centros educativos e seguirem lá os tais planos de educação sexual.
Trabalho comunitário? Estão a brincar com as vítimas e as famílias.
Excelente texto da Paula Dias. Corajoso.
Ninguém quer abordar o assunto.
Na maior parte das escolas por onde passei existe a ocultação de violência escolar, alguns com mais e outros com menos gravidade.
Violência entre alunos e violência sobre professores e funcionários.
A maior parte dos professores tem medo de enfrentar as direções que os desencorajam a apresentar participação disciplinar, quanto mais apoiar os professores numa queixa na policia.
Os alunos que são vitimas não são apoiados e os respetivos pais não sabem o que fazer.
Isto que afirmo não é meramente teórico, mas sim fruto de várias situações que fui observando ao longo dos anos assim como situações pelas quais passei.
Em casos graves, se algum colega for vitima de tais situações deve de imediato fazer queixa na policia, se for vitima de agressões físicas, deve também ir ao IML.
Só depois é que faz queixa na direção da escola.
Tal como diz o Zé. São diretores mas também quem julga, Se não há coragem de punir justamente, demitem-se quem devia punir no minimo com dias de suspensão, não era arquivar como não te tivesse passado nada. Ze toy
A direção da escola devia ser exonerada. Já. E as funcionárias do bar com processos de suspensão. Já. Pela câmara.
Vão brincar com a saúde mental dos filhos deles.
Não servem para estar a frente de uma escola. São permissivos. Não servem para ser funcionários numa escola onde a cultura é essa!
Isto é de bradar aos céus!
Parece os seminários dos padres pedófilos.
Coitados dos profs que lá ficaram sem pedir .