15 de Agosto de 2024 archive

É impossível unir a Classe Docente…

 

Definitivamente, solidariedade é aquilo que não existe na Classe Docente…

A solidariedade entre as partes que compõem a Classe Docente parece ser algo inalcançável, tantos são os conflitos de interesses e as visões iminentemente sectárias e facciosas, muitas vezes assentes no individualismo de pensar apenas em si próprio…

Definitivamente, não há remédios, nem antídotos, que consigam debelar a desunião docente…

E como é fácil, demasiado fácil, despoletar-se e observar-se essa confrangedora desunião…

E, não, não são necessários quaisquer artigos de opinião sobre temas potencialmente “fracturantes” (o que quer que isso seja) para se observar a gritante ausência de solidariedade entre Professores, para isso bastam, quase sempre, os próprios Professores…

Em alternativa, poder-se-ia evitar a abordagem de determinados temas ou fazer de conta que alguns problemas não existem, mas isso obviamente também não os eliminaria… Não é por não se falar de certos problemas que os mesmos desaparecem…

Por outras palavras, e com toda a frontalidade, a conclusão a extrair neste momento parece ser esta:

– É impossível unir a Classe Docente… Continua a ser impossível unir a Classe Docente…

No contexto anterior, o mais avisado será talvez esquecer a ambição de ver uma classe profissional coesa, pois que isso mais parece uma “demanda pelo Santo Graal”, de resto impossível de localizar ou sequer de comprovar a respectiva existência…

Neste momento, parece que a única alternativa possível será a tentativa de limitar os danos causados por essa inultrapassável desunião, ainda que essa tarefa também se apresente como muito difícil…

Enquanto os Professores continuarem a preferir digladiar-se a propósito de tudo e mais alguma coisa, de nada valerão os apelos ao bom senso, nem certos discursos motivacionais, venham de onde vierem…

Na Beira Baixa há um ditado popular, de certa forma inclemente e bruto, que diz isto:

– “Quem morre porque quer, nem pela alma se lhe reza”…

Metaforicamente, os Professores “morrem porque querem”?

Às vezes, parece que sim…

Às vezes, parece que sim porque não lhes bastarão as malfeitorias sucessivamente perpetradas pela Tutela, ainda os próprios parecem esforçar-se por piorar a sua situação, ora atacando os pares, ora remetendo-se ao silêncio típico dos que se abstêm, ora subjugando-se à cobardia da inacção, quando possa estar em causa a luta pelo bem comum…

Às vezes chega mesmo a parecer que não existe consciência de bem comum na Classe Docente… Repito uma imagem que já utilizei noutra ocasião e que me parece muito elucidativa dessa inconsciência:


(Imagem roubada da Internet, de autor desconhecido).

Obviamente, nas circunstâncias ilustradas por esta imagem, o mais provável será que o barco vá ao fundo e que todos naufraguem…

Enquanto o “buraco não for do nosso lado”, ficaremos a assistir, de forma impávida e serena, por vezes até vangloriosa, às dificuldades alheias, sem sequer percebermos que o rombo no barco também acabará por, irremediavelmente, nos afectar…

De que interessa o bem comum, pois se até há quem o considere como um acabado lirismo?

Perante uma possível catástrofe, com previsíveis consequências nefastas para todos, fica-se frequentemente a “olhar de fora”, quase numa perspectiva voyeurista, permanecendo numa falsa zona de conforto, dominada pela atitude “pode arder, desde que não seja comigo”…

O maior problema é que por essa perspectiva, mais cedo ou mais tarde, todos acabarão por “arder” ou por “naufragar”…

E parece ser este o resumo da desunião e da falta de solidariedade entre Professores:

– “Ainda bem que o buraco não é do nosso lado”…

E se a Carreira Docente se encontra em frangalhos e praticamente impossível de consertar, obra perversa de quem tutelou a Escola Pública nos últimos anos, contribuindo, dessa forma, para a desagregação e para a fragmentação das partes que a compõem, também é verdade que os próprios Professores se têm mostrado particularmente propensos a querelas internas e a conflitos fratricidas…

Na Classe Docente parecem coexistir muitas “linhagens”, “formas de sentir” e profusas “facções”, que frequentemente desencadeiam “explosões de susceptibilidades”, hostilidades várias, amofinações, discórdias e conflitos de interesses, todos culminando na ausência de consensos…

Às vezes, vai-se ainda mais longe e entra-se na vertigem de “salerosos” concursos de “medição de atributos”, principal consequência de indisfarçáveis rivalidades, ainda que, em simultâneo, se assista, por vezes, à tentativa de reprimir tais pelejas pela intelectualização de algumas emoções…

Mas no fim, enquanto o buraco não for do nosso lado, “tá-se bem”…

Fui ao meu “baú de memórias” do ano de 1996… A propósito de uma Tese de Monografia, apresentada por mim nesse ano, transcrevo aqui um parágrafo aí constante:

– Parece-nos unânime que os professores nem sempre souberam combater os “males” que assediaram a sua profissão. Além dessa, outras críticas poderiam ser apontadas aos professores e às suas organizações. Contudo, também não é possível continuar a desprezar e a menorizar as capacidades de desenvolvimento dos professores, pois eles constituem um potencial cultural, técnico e científico que, não sendo ignorado, pode ajudar a preparar um novo ciclo na história da escola e dos seus actores (Nóvoa, 1992).

 

Passados 28 anos, tudo indica que os Professores continuam a não saber combater os males que assediam a sua profissão, que as suas organizações continuam a ser alvo de críticas acérrimas, sobretudo acusadas de não serem confiáveis nem verdadeiramente agregadoras, e que o tão almejado novo ciclo ainda estará por cumprir…

Parece que, afinal, não se operaram alterações significativas no contexto descrito há 28 anos, patente no referido parágrafo…

Se calhar, 28 anos é pouco tempo… Deve ser isso…

Paula Dias

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