Por três vezes fui colocado em apoio educativo, foi assim que comecei a minha carreira. Das três vezes, três organizações diferentes. Da primeira vez, colocado numa escola a apoiar uma turma, a direção propôs a divisão da turma em duas, ficando eu a lecionar dois anos e o colega titular de turma, outros dois. Permaneci todo o ano letivo nesse modelo. Da segunda vez, prestava serviço em três escolas, chegaram a ser quatro durante algum tempo, mas o modelo era mais conhecido. Andava de escola em escola, dando apoio, substituindo colegas que faltavam e que usufruíam de horas de redução para amamentação, ou seja passava o dia a calcorrear as estradas do concelho. O caricato deste modelo, é que recebia telefonemas já depois das 9:00, estando eu já numa escola tinha de me deslocar novamente, no meu carro, para outra escola e o mais rapidamente possível. Contava-me, um destes dias, um colega que, quando lhe acontecia tal situação se deslocava de transportes públicos, chegando à escola por volta da hora de intervalo e pedia a restituição do dinheiro despendido no bilhete… Da terceira vez, o apoio educativo, foi exercido em apenas uma escola, onde prestava serviço em três turmas, as substituições, duas, foram organizadas com tempo, uma vez que foram por períodos prolongados. Mas isto foi o que se passou comigo… tenho ouvido relatos de colegas que nem sei como classificar!!!
Pois, temos um colega, colocado em vaga de apoio educativo, no 1º ciclo, lá para os lados da capital, que, tendo os filhos em duas das turmas onde presta serviço, vê os seus filhos retirados das turmas onde estão matriculados durante o período em que lá se encontra, sendo que nenhum dos seus “rebentos” seja ou necessite de ser apoiado. Isto, não me parece muito correto. Não seria mais profícuo retirar da turma os alunos que beneficiam de apoio? Estamos perante um atropelo dos direitos dos filhos do colega, também eles, alunos como qualquer outro, em benefício de outros. Estamos perante um modelo que embora seja o normal, é de todo anormal para aqueles a quem prejudica. O apoio educativo tem como função a descriminação?
Um dos objetivos do apoio educativo é: “Promover a integração e a igualdade de oportunidades para todos os alunos com dificuldades de aprendizagem, motivadas quer por necessidades educativas especiais, quer por serem originários de países estrangeiros com sistemas educativos diferentes.”, logo, quem não tem dificuldades educativas não tem direito a igualdade de oportunidades… é a tal equidade…
Também há muitos colegas que, em detrimento do apoio propriamente dito, são professores “enfeitadores”, enfeitam escolas com desenhos e cartazes, colam e constroem prendas e prendinhas, máscaras e mascarilhas, vestidos e vestimentas, tudo para agradar…
Falta ao apoio educativo, clarificação. Tem, de uma vez por todas, que se clarificar e organizar o apoio educativo, e as funções do professor de apoio no 1º ciclo. Não podemos continuar a ser “pau para toda a colher”. Ou somos professores de apoio, ou professores substitutos. Ou realizamos um trabalho com continuidade pedagógica, ou os resultados serão pouco significativos e essa figura não tem razão de ser.
Pergunto-me… Qual será o real objetivo do apoio educativo?…
7 comentários
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Concordo, excepto no ter que, não me soa bem – obriga-me a pensar!
E ainda há as pessoas que dando apoio a coisa é pior que um desapoio e mais não digo.
Temos que lidar com toda a espécie de diversidade, com toda a miríade de sexos que surjem – o problema é ainda não se ter compreendido bem aquela coisa frágil do devir.
O apoio educativo nunca funcionou bem no 1.º ciclo, é mais uma pecha deste nível de ensino, agravado, este ano, com a obrigatoriedade do cumprimento de 50% do horário com turma pelos docentes do quadro com funções nos Apoios Educativos.Por regra os professores de apoio são os tapas furos quando o professor titular de turma falta.É mais um assunto que merece uma boa reflexão.
Pelos exemplos descritos… talvez sirva apenas para fingir que os miúdos têm apoio e calar EE e associações de pais…
Parece-me lamentável que nestas matérias os representantes dos pais/EE alinhem no fingimento e estejam calados…
Como acho que a falta de seriedade nestas matérias não resulta de incompetência ou de ignorância acredito mesmo que todo este fingimento e falta de regulamentação (em que cada director parece fazer como “lhe dá na bolha” que a tutela/ inspecção achará sempre que estará no âmbito das suas competências) mais não seja que um verdadeiro ante-projecto de vocacionais no 1.º ciclo e, quiçá, na pré.
DOu apoio em 4 escolas e não recebo nada pelas deslocações….e já andei a tapar “buracos” noutras 2 escolas… enfim
Não sou do 1º ciclo, mas concordo inteiramente com o artigo. Sou docente de EE e acho lamentável que os alunos com mais dificuldades (não sendo NEE) não possam contar com o apoio educativo. Uma das coisas que mais me revolta é a ”utilização” dos professores do apoio para as tais funções ”enfeitadoras”… e isto com a conivência (exigência….) das coordenadoras de escola…E fico-me por aqui… Um reparo: discriminação…