Lembro-me, quando ainda era jovem, de ver uma entrevista com o Professor Agostinho da Silva, onde ele dizia que o capitalismo estava a conseguir o que o comunismo nunca conseguira: substituir a máquina pelo homem dando-lhe mais tempo para o ócio e para a arte.
Achei fantástico esse raciocínio mas não conseguia compreender pois na minha zona ainda se ouviam as sirenes das fábricas por todo o lado. Era um reboliço com as pessoas a irem e virem dos seus trabalhos num corre corre.
Quando entrei para a Faculdade de Belas Artes, no 5º ano estudavam cerca de 5 alunos, pois muitos deles eram absorvidos pelo mundo do trabalho.
Alguns rios eram coloridos com as cores da moda, derivado aos tintos que as fábricas usavam para tingir os tecidos dessa europa toda.
De um momento para o outro aparecem leis a proteger os trabalhadores, o ambiente, a denunciar a mão-de-obra infantil. Os custos de produção subiram, as encomendas desceram, o emprego começa a escassear e dá-se um fenómeno interessante pois o trabalho passa a ser encomendado aos países asiáticos, onde estas leis não se cumpriam. (????)
Sendo um país com um grande atraso ao nível da educação em relação ao resto da europa, despertamos para este fenómeno da escolaridade obrigatória, na esperança de que a sociedade iria ser salva pela educação e pela cidadania.
Hoje podemos constatar que muitas das famílias dos nossos alunos não têm emprego e testemunhamos que muito do esforço que está a ser feito para reduzir as diferenças sociais através da educação não é de todo eficaz. Grande parte dos alunos que pertencem a classes sociais desfavorecidas parecem não querer “dar a volta” às suas vidas nem aproveitar as oportunidades que o estado lhes proporciona. Numa passividade (e às vezes agressividade) estranha, estas famílias parecem não se preocupar com o futuro dos seus filhos, deixando-os à deriva, em auto gestão.
Qualquer um de nós está sujeito a ficar sem trabalho, basta que alguém se lembre de fazer turmas com 100 alunos, ou começar a dar aulas por vídeo-conferência ou outras soluções que hoje são tecnicamente possíveis e que implicam sempre a dispensa de recursos humanos. Qualquer um de nós pode ficar revoltado com a vida, com o sistema e ter que repensar a sua forma de viver. Qualquer um pode passar para esse lado?
A sociedade terá que aprender a viver (ou sobreviver) sem emprego mas, infelizmente, ainda parece estar longe da perspetiva visionária sobre o ócio e a arte do Professor Agostinho.
De que forma a escola poderá contribuir para este futuro? Vamos continuar a dar mais do mesmo? Vamos continuar a tentar ajudar quem não quer ser ajudado?
Estas são algumas das reflexões para os próximos vídeos.
Para já deixo uma reflexão sobre a família e o sonho.