15% dos professores já ultrapassaram o limite da exaustão

Resultados preliminares de estudo sobre desgaste emocional dos docentes portugueses revelam que mais de 60% estão em burnout. Foram inquiridos 19 mil professores, há milhões de dados para tratar, as conclusões detalhadas são apresentadas em outubro.

Setenta por cento dos professores ensinam em exaustão emocional, 15% já ultrapassaram os limites do cansaço, mais de 50% revelam sinais preocupantes, e mais de 40% não se sentem realizados na profissão. Estes são alguns indicadores de um estudo que inquiriu 19 mil docentes de todos os níveis de ensino de escolas públicas e privadas do país. A taxa de burnout da classe docente é alta. O excesso de burocracia, a indisciplina dos alunos, a idade, a falta de autonomia são causas apontadas por quem ensina. Os primeiros resultados já foram divulgados e podem ter reflexos políticos, sindicais e até mesmo jurídicos. A análise pormenorizada será divulgada em outubro.

Os 70% incluem os docentes que estão medianamente exaustos, muito exaustos e totalmente exaustos. Quase 48% revelam sinais minimamente preocupantes de exaustão emocional, 20,6% demonstram sinais preocupantes, 15,6% apresentam sinais críticos, e 11,6% têm sinais extremos de esgotamento. No geral, 23,6% dos docentes inquiridos não referem quaisquer sintomas de burnout. A maioria dos professores exaustos tem mais de 55 anos de idade. Em termos de género, não há diferenças, a exaustão é idêntica em homens e mulheres. E tudo indica que o principal problema não sejam os alunos, mas sim a organização e condições do trabalho.

A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) pediu à Universidade Nova um estudo sobre o desgaste emocional da classe docente. Raquel Varela, historiadora, investigadora e professora, está a coordenar este trabalho que envolve inquéritos com questões laborais e modos de vida. Dias antes de apresentar os resultados preliminares, a investigadora deixava o aviso. “Temos um número de professores estatisticamente muito relevante que está a trabalhar em condições de adoecimento grave”, referia à Lusa. Algum tempo antes, numa entrevista ao semanário Expresso, a investigadora afirmava que estudos semelhantes já não funcionavam como alerta, nem como prevenção. “Já não concluem que há processos de fadiga, há realmente fadiga e exaustão que, no limite, e no caso dos professores, levará à falta de profissionais no país”, dizia.

Seguiram-se mais chamadas de atenção. Antes da divulgação dos primeiros resultados, Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, deixava bem claro que o estudo serviria para pressionar o Governo a avançar com um novo regime de aposentação dos professores – assunto que, aliás, tem estado na lista de exigências de várias estruturas sindicais do setor educativo. E, nessa altura, lembrava que cerca de 12 mil professores estavam de baixa prolongada.

“O estudo vai retirar dúvidas, tirar teimas, se é que alguém ainda as tem, de que de facto têm de ser tomadas rapidamente medidas”, referia Mário Nogueira na conferência de imprensa em que foi assinado o protocolo entre a FENPROF e a Universidade Nova para a realização do estudo. “O desgaste está há muito identificado, está há muito reconhecido, incluindo por governantes. Não há aqui nada que vamos descobrir de novo”, acrescentava, anunciando mais um propósito da investigação. “Desta vez, decidimos que, em vez de apenas alegar a existência de estudos que comprovam este desgaste, fazer um estudo de fundo. Até porque numa iniciativa internacional, na Escócia, um dos compromissos que o Governo assumiu foi fazer um estudo sobre a situação do desgaste, mas não apresentou nenhuma proposta. Então a FENPROF decidiu fazê-lo”, afirmava o dirigente sindical.

O envelhecimento da classe e o desgaste profissional andam constantemente em cima da mesa das negociações. A FENPROF tem vindo a defender que os professores devem poder reformar-se com 36 anos de serviço, como há 12 anos, sem penalizações e que quem perfaça 40 anos de trabalho, independentemente da idade, possa retirar-se sem complicações, já a partir do início do próximo ano.

Os inquéritos foram planeados para saber em que condições os professores estão a trabalhar, se conseguem resolver os problemas dos alunos, quantas disciplinas têm no horário, se há problemas de indisciplina nas salas de aula, a que distância moram da escola, quanto tempo demoram a chegar ao local de trabalho.

São três questionários validados internacionalmente e a pesquisa liderada pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova, conta com a participação de académicos de várias universidades, nomeadamente do Instituto Superior Técnico e de faculdades brasileiras. Os investigadores envolvidos garantem que o estudo permitirá compreender como as condições de trabalho afetam a saúde mental e as condições familiares dos professores. “Não antevemos no estudo que as pessoas vão entrar em burnout, elas já estão exaustas”, sustentou Raquel Varela na apresentação dos primeiros resultados.

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