Texto de João Ferrer.
A balcanização e proletarização da classe docente
“Lamento a proletarização da profissão de professor” afirma Vítor de Aguiar e Silva…e, eu também!
Acrescento, até, que existe uma balcanização da profissão. O termo, que diz respeito à fragmentação de uma região ou de um país em zonas mais pequenas e geralmente hostis entre si, parece-me adequado na medida em que espelha cada vez mais aquilo se passa na classe docente.
Vítor de Aguiar e Silva “É um mestre, autor da mais importante obra portuguesa de Teoria da Literatura” ‒ foi com estas palavras que o Presidente da República felicitou o vencedor do Prémio Vasco Graça Moura 2018, tendo o júri destacado o seu “o percurso incomum”.
Tenho, a partir daqui, muitas questões!
E, em primeira linha, sobre o “nosso” Presidente: “Marcelo descobriu uma fórmula: a Presidência, exerce-a na rua, a tirar selfies, a beijar crianças e velhinhas, a dar palmadas nas costas dos homens, a entrar em tabernas.”
Este presidente das selfies e dos afetos, que apoia tudo e todos, não tem uma só palavra para com os professores, ou pelo menos para “a proletarização da profissão de professor”.
Repare-se no que se passa com a questão da recuperação do tempo de serviço; no que diz respeito aos concursos; no problema dos professores contratados e no “funil” que o Ministério da Educação impõe (por ordem do Ministério das Finanças) ao acesso aos 5º e 7º escalões.
“Ao longo do processo negocial realizado, desenvolvido em três rondas, o Ministério da Educação revelou-se completamente insensível aos argumentos apresentados pela Fenprof, mantendo uma postura de total inflexibilidade em torno das suas posições iniciais. Face à situação negocial criada, mas admitindo que a postura dos responsáveis do ME possa ser ainda alterada, a Fenprof decidiu avançar para o pedido de negociação suplementar, criando, desta forma, condições para que o processo negocial desenvolvido seja digno desse nome”, justificou esta estrutura, afeta à CGTP, em comunicado.”
Ou seja, “uma postura de total inflexibilidade”.
Também a FNE, afeta à UGT, aponta no mesmo sentido numa nota divulgada. “Como a versão final que a FNE recebeu não contém nenhuma alteração que dê resposta às questões colocadas nas anteriores reuniões de negociação, foi solicitada a abertura de negociação suplementar sobre este diploma, por se considerar que com um novo encontro, e ponderados os argumentos que têm vindo a ser apresentados, se poderá encontrar uma formulação mais justa para a matéria em discussão”.
O acesso aos 5.º e 7.º escalões está condicionado à abertura de vagas para o efeito, um processo que se encontra por regulamentar desde que o Estatuto da Carreira Docente foi alterado em 2010.
Muito bom! Então e agora?
O projeto de portaria, no seu artigo 3.º, refere que o número de vagas para a progressão aos referidos escalões é estabelecido por total nacional por escalão e fixado anualmente por despacho dos membros do governo responsáveis pelas áreas das finanças e da educação.
Ou seja, é o que quiserem e se quiserem, esses senhores das Finanças!
E então o que se passa com o projeto de portaria sobre o posicionamento no escalão da carreira docente dos educadores de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário, do pessoal com tempo de serviço prestado em funções docentes antes do ingresso na referida carreira e a que se refere o n.º 3 do artigo 36.º e o n.º 1 do artigo 133.º do ECD? Refiro-me aos docentes do 1º escalão.
O Artigo 2.º que regulamenta as condições de acesso afirma:
“Só podem ser objeto de posicionamento em escalão da carreira docente diverso do previsto no n.º 2 do artigo 36.º do ECD, os seguintes docentes:
- a) Os que sejam portadores de qualificação profissional para o desempenho de funções docentes;
- b) Aqueles cujo tempo de serviço prestado em funções docentes antes do ingresso na carreira tenha sido avaliado com a menção qualitativa mínima de Bom;
- c) Os que tenham já realizado o período probatório ou estejam dispensados do mesmo.”
No Artigo 3.º, e ainda sobre o reposicionamento no escalão da carreira docente, pode ler-se “é efetuado no correspondente ao tempo de serviço prestado em funções docentes antes do ingresso na carreira, contabilizado de acordo com as condições fixadas no artigo anterior, e de acordo com os critérios gerais de progressão constantes do artigo 37.º do ECD.
Aos docentes a reposicionar é exigido o cumprimento dos seguintes requisitos:
- a) Tenham obtido já, na avaliação do desempenho na carreira, pelo menos menção qualitativa não inferior a Bom;
- b) Tenham um número de horas de frequência, com aproveitamento, de formação contínua ou de cursos de formação especializada obtidas após o ingresso na carreira, que seja pelo menos igual ao produto resultante da multiplicação do número de anos necessário para a progressão ao escalão em que devam ser reposicionados por 12,5.”
Ora…muito bem! Mas não esqueçam as cotas do 5º e 7º escalão.
Em suma: A carreira docente é uma mentira. Roubo de anos de serviço e, um afunilar, estreitar, afilar, desencorpar, apontar, desengrossar e abicar dos docentes ao acesso aos últimos escalões.
Lamento a balcanização e proletarização da classe docente.
4 comentários
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Eu não li o texto. Convém saber que personalidade verborreica é um defeito e capacidade de síntese é uma virtude na nossa profissão! Por isso, quando leio “Mestre da obra portuguesa de Teoria da Literatura” e percebo o tamanho do texto, vejo um sinal STOP e a indicação de que devo parar!
Por isso, falo apenas da balcanização da profissão e tentarei acertar no que fala a seguir partindo da sugestão: tente perceber “mas é” as causas da balcanização!
Uns provêm do estudo das letras, não possuem qualquer valia para a sociedade além da formalização e verbalização de palavras, capacidades que utilizam até à exaustão na tentativa de subjugação dos parceiros de profissão.
Outros vêm das artes, das ciências do desporto, das ciências exatas, das ciências menos exatas e todos têm a sua linguagem, sempre com os seus interesses pessoais em primeiro plano.
No final, uns foram graduados em faculdades de excelência, outros em ensino superior de qualidade duvidosa, acentuando mais as clivagens!
Com isto tudo, uma graduação baseada apenas no critério “envelhecer” (coisa única no país!!!), escolha para cargos diretivos por “afinidades pessoais” ou “forças com influência” e atribuição de notas máximas de avaliação por critérios subjetivos, temos a cereja no bolo da imagem da classe.
Depois desta balcanização, qualquer governo/instituição/pessoa aproveita esta nossa fragilidade para decidir/obter/opinar qualquer coisa sobre o ensino em portugal!!!
Então quando são grandes e contenham citações, até parecem obras de arte as opinações!
Os PROFESSORES NÃO QUEREM SER AVALIADOS e querem ir TODOS PARA O 10 ESCALÃO.
Caros Professores,
Para que conste devo dizer que a as ORGANIZAÇÔES (empresas e instituições) possuem uma ESTRUTURA de Recursos Humanos em PIRÂMIDE, ou seja, temos uma pirâmide de base larga e topo estreito.
Os Senhores Professores não podem chegar todos a GENERAIS, pois se tal ocorrer ficamos com mais generais do que soldados.
Os Professores são uma das Classes Profissionais mais privilegiadas porque possuem salários demasiadamente elevados para as competências profissionais que possuem. Não falo apenas daquela gentinha formada nos PIAGETs, ESEs, Lusófonas e outras TASCAS e que hoje são Educadoras da Infância (antigas AMAS e BÁBÁS) ou Professores Primários (antigos Regentes Escolares).
Os Salários desta gente deviam iniciar-se em 800 euros e, o topo de carreira, devia rondar os 1500 a 1600 euros ILÍQUIDOS (BRUTOS) para os mais qualificados (Mestrados e Doutoramentos).
Os CONTRIBUINTES estão fartos de Sustentar um bando de incapazes cujo desempenho profissional se baseia em SALIVAR.
Ainda bem que os responsáveis politicos estão a colocar um travão à BANDALHEIRA reinante que foi fruto da ABRILADA.
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