Para aqueles que, ante o riso alheio, estremecem com urticária (um post à moda do Fafe)
Celebrando antecipadamente a pureza diurna do 25 de abril.
Do Sentimento Trágico da Vida
Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.
(…)
Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.
E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.
Natália Correia, in Poemas (1955).
2 comentários
agora que já só temos para falar das sombras interditas
quando desenhamos com cuidado as horas igualmente repartidas
dizemos ainda ser a flor certa um sorriso desconhecido
muitas vezes sonhada e sempre verdadeira
ninguém subirá ao púlpito para gritar que estamos perdidos
e estaremos perdidos por nisso acreditarmos vagamente
esta flor mágica sempre visível na seiva petrificada
corrompe a nossa fé e recupera fragmentos intocáveis
repete texturas esquecidas quando se regenera
recorda-nos ser inacessível a verticalidade da superfície polida
eu aviso-vos para que não queiram crer sem acreditar
dizia o púlpito sempre a descer por escadas cristalinas
a limitação do olhar ou recordações que se bebem sem respirar
estaremos no fluxo da alma desmedida e sempre aí retidos
olharemos relógios fixos e as suas imagens tácteis
suspiraremos pelas margens sombrias onde já nos refugiamos
Sempre poderás utilizar o meu nome em vão, fiz uma escolha tardia: morri.