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Out 11 2025
Foi ao fim do dia, os corredores da escola começam a cheirar a pó e desinfectante e o ruído dos alunos é um eco vazio, quando ele veio ter comigo. Não me lembro se trazia a mochila às costas ou se a arrastava pelo chão, apenas o rosto pálido mais o olhar de quem se encostou ao abismo e ficou a olhar para baixo a pensar numa solução. Disse querer morrer, e o mundo, naquele instante, tornou-se pequeno demais para nós os dois.
As boas notícias? Quando um aluno vem falar connosco, traz não apenas a dor, mas um resto de confiança, uma migalha de esperança a acreditar ser ainda possível a salvação.
E eu, professor cansado de corrigir erros atrás de erros em cadernos sem fim, tornei-me naquele momento o ouvinte a quem nada pode falhar, o ombro onde o desespero encosta a cabeça.
Ele não disse muito. Há palavras as quais, uma vez ditas, empurram-nos ainda mais fundo. Disse-lhe apenas ter feito bem em falar, estamos todos aqui e sempre aqui prontos a escutá-lo sem julgamento, sem rótulos, sem pressa para o curar.
Dentro de mim, no entanto, o medo era um animal escondido.
Depois, o protocolo e o contacto com o Safeguarding Lead, essa figura representativa da compaixão burocrática. Disse-lhe ser importante falar com essa pessoa e em conjunto encontrar um plano. Ele olhou para mim como se o “plano” fosse apenas mais uma palavra inglesa, dessas aprendidas apenas para olvidar mais tarde.
Sentámo-nos os três numa sala onde a luz fria das lâmpadas queria desaparecer. O Safeguarding Lead perguntou-lhe, com aquela voz treinada para a empatia:
“Porque te sentes assim?”
“Há quanto tempo pensas nisso?”
“Os teus pais sabem?”
“Há alguém com quem possas falar?”
E ele respondia entre frases curtas, quase sussurros a tentar não acordar o sofrimento. Eu, ao lado, limitei-me a respirar — e a pensar quando também quis desaparecer, nas noites sem fim onde a solidão é uma pedra no estômago e o futuro um corredor sem saída.
Dessas respostas nasceu o chamado well-being plan, o plano de bem-estar. Palavras tão limpas mais pareciam inventadas para esconder a sujidade do medo. Mas foi dele quem partiu a ideia, não de nós — ele próprio a desenhar as pequenas rotas para a fuga: falar com um amigo, ir para o campo de futebol quando o desespero viesse, pedir ajuda antes de a dor se tornar uma navalha. Vi nos olhos dele, por um instante, o começo de uma vontade.
Depois explicámos-lhe o resto: avisaríamos os pais para em seguida contactar o Child and Adolescent Mental Health Service, ou CAMHS, esse exército invisível de psicólogos a tentar todos os dias, segurar adolescentes à beira do nada. E há um número para ligar, uma porta para bater, uma ambulância se for preciso. Tudo quanto se pode dizer quando a única vontade é a de querer abraçar, e abraçar não, segurar, agarrar esta criança à terra e a terra somos nós.
E sim, se o perigo fosse imediato, alguém iria com ele até ao hospital, ficaria à espera dos pais a guardar a entrada nesta noite e nenhuma criança pode ir sozinha se o socorro é tantas vezes um abismo.
Quando tudo acabou e o miúdo foi para casa pela mão dos pais, o Safeguarding Lead disse-me ter agido bem. E eu fiquei ali sentado, sem saber como fazer com estas mãos. E ninguém fala do peso do silêncio depois — o silêncio entre o professor e o quadro vazio, o silêncio de quem ouviu a palavra “morte” dita com a naturalidade de um bom-dia e o professor também precisa de quem o ajude, quem o escute e apoie.
Estamos todos aqui e sempre aqui prontos a escutar, sem julgamento, sem rótulos, sem pressa para curar.
Às vezes, quando volto a casa pela estrada molhada e o rádio murmura notícias por ouvir, lembro-me dele. Penso se estará bem, se alguma vez terá voltado a sentir o impulso, se o plano — aquele papel com perguntas e números de telefone —serviu para alguma coisa.
E então percebo como prevenir não é impedir. É segurar uma mão no momento certo, oferecer a nossa presença antes do escuro. É lembrar, mesmo quando o dia termina e o corpo quer desistir, bastar apenas uma mão, uma voz, um olhar para dizer não, ainda não acabou.
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Out 11 2025
Num agrupamento de escolas da cidade da Maia, uma aluna do 7.º ano, durante a hora de almoço, à porta da escola secundária, enquanto aguardava que a mãe a fosse buscar, agrediu colegas, funcionários, o diretor e um agente da autoridade. Este último, após ser empurrado pela aluna, caiu e sofreu um traumatismo no joelho.
No local já se encontrava uma ambulância do INEM, tendo sido solicitada uma segunda para transportar o agente ao hospital.
A mãe da aluna, que inicialmente estava presente, acabou por deixá-la sozinha alegando que tinha de ir trabalhar. Também ela foi agredida antes de se ausentar. Toda a situação teve origem no facto de a mãe ter prometido à filha um chocolate; como já estava atrasada e lhe disse que não podia comprá-lo, a aluna atirou-se para o chão em fúria, insistindo em ter o chocolate.
A estudante acabou por ser levada numa ambulância, imobilizada, uma vez que ninguém a conseguia conter.
A aluna afirma ser vítima de bullying e que não tem amigos na escola — o que corresponde à verdade, pois, devido ao seu comportamento agressivo, os colegas evitam aproximar-se dela. Costuma ofender as pessoas de forma injustificada.
Foram ouvidas todas as pessoas agredidas, incluindo o diretor do agrupamento, cujas declarações foram anexadas ao processo.
Face à gravidade da situação, foi sugerido o internamento da aluna no serviço de Pediatria ou de Psiquiatria do Hospital Magalhães Lemos.
relato de um EE
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