Nick Cave no Coliseu: Um brilhante fucking disaster
Um Coliseu esgotado recebeu, acarinhou e rejubilou com o regresso de uma das figuras mais queridas e míticas do rock. Nick Cave e os Bad Seeds deram o pontapé de saída da nova digressão em ambiente de grande descontracção, com o vocalista bem disposto e motivado para um concerto de 2 horas e meia de duração, e um desfile de mais de duas dezenas de canções.
A meio do concerto recebo uma mensagem de uma amiga perdida no meio da enchente do Coliseu que dizia «este psicopata é brilhante». Partilho esta intimidade porque foi uma frase que me acompanhou no resto do concerto. A figura de Cave inspira mesmo a comentários destes, toda aquela sua teatralidade expressa em gestos com os braços, curvando o corpo em danças descoordenadas, os diálogos irónicos com a plateia, os recados, e dedicatórias para os camarotes ao lado do palco, tudo somado faz dele uma enorme figura rock n`roll da velha escola.Nick Cave enche o palco com a sua presença, até aquele bigode lhe assenta bem, embora o espaço esteja bem preenchido com os músicos Bad Seeds os olhares centram-se nos movimentos do homem, às vezes Warren Ellis com a sua imponente barba também brilha, e quando tudo arrancou ao som «Night of the Lotus Eaters» deu logo para ver que íamos ter mais uma noite de celebração.As duas horas e meia foram naturalmente preenchidas na sua maioria pelos temas do novo disco «Dig, Lazarus, Dig!!!» já bem assimilados pelos fãs, com um aparato luminoso e visual bem ao estilo do grafismo do álbum. Apesar da adesão às novas canções é claro que foi quando Nick Cave fez incursões pelo seu passado discográfico que as emoções andaram mais á solta pelo Coliseu. Foi ver o povo a cantar clássicos como «Papa Won`t Leave You», «Tupelo», «Deanna», «The Ship Song», «Henry», ou «Stagger Lee», em comunhão com o seu líder, e a marcarem com emoção mais este regresso a Portugal.Há que dizer que a entrega da banda foi irrepreensível, e por ser a noite de estreia desta digressão desculpam-se as várias falhas, e alguma descoordenação entre as músicas, e nos seus arranques. Aliás, Cave foi o primeiro a reconhecer que nem tudo estava a correr bem chegando a apelidar a prestação como um fucking disaster. E mais à frente com mais uma falso arranque da banda ainda atirou aos companheiros um «you fucking idiots». Exageros à parte o carisma do homem tudo resolve, e depois de um alinhamento de dezasseis canções houve tempo, e vontade, para um encore de cinco temas, e um outro final com mais três. Destaque nesta parte final para a versão de uma canção que Bob Dylan fez para Johnny Cash, para o intimo «Into My Arms», «Albert Goes West» que Cave estava na dúvida se teria sido escrita por Bobby Gillespie dos Primal Scream, ou Jarvis Cocker, e a noite encerrou com «Nobody`s Baby Now».
Mais de que um concerto, a celebração ao vivo com uma enorme figura. Hoje é a vez do Porto.
22-04-2008
LOGO À NOITE ESTOU LÁ NEM QUE CHOVAM JACARÉS, CROCODILOS OU MILU’S.