Escola a mais, família a menos…

 A denominada “escola a tempo inteiro”, excêntrica “inovação educacional” concebida por José Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues, tem permitido e fomentado que muitas crianças possam ficar confinadas num espaço escolar durante sete, oito, nove ou, até mesmo, dez horas por dia…

 

Em 2019, a competência da organização e da gestão da escola a tempo inteiro foi transferida para as Autarquias…

 

Pelo Artigo 39.º (Escola a tempo inteiro) do Decreto-Lei n.º 21/2019, de 30 de Janeiro, as crianças do Ensino Pré-Escolar e do 1º Ciclo podem ficar encerradas em determinados espaços escolares na maior parte do seu dia, como se fossem putativos reféns:

 

– Compete às câmaras municipais promover e implementar medidas de apoio à família que garantam uma escola a tempo inteiro, designadamente actividades de animação e de enriquecimento curricular, antes e depois do período diário de actividades lectivas e durante a sua interrupção…

 

Temos, assim, crianças, entre os três e os dez anos de idade, diariamente massacradas com o cumprimento de insanos e abomináveis horários, que muitos adultos provavelmente não suportariam…

 

Temos, assim, crianças, entre os três e os dez anos de idade, depositadas na escola ou noutros espaços escolares durante a maior parte do seu dia, obrigadas a permanecer nesses lugares até serem resgatadas pela respectiva família…

 

A escola a tempo inteiro será boa para quem?

 

Para as crianças não é, com certeza, boa…

 

A escola a tempo inteiro dificilmente contribuirá para a boa saúde mental das crianças ou para o estabelecimento de relações afectivas securizantes com as respectivas figuras parentais ou até para o tão almejado sucesso escolar…

 

E o que sobra em escola falta em família…

 

Família que, nessas circunstâncias, frequentemente aproveita para se desonerar de muitas das suas responsabilidades parentais, às vezes esperando da escola aquilo que é da sua exclusiva competência…

 

Mas a escola não pode substituir a família, nem ocupar o seu lugar…

 

As Associações de Pais, em vez de reclamarem por medidas laborais protectoras da educação e da natalidade, têm permanecido em silêncio face a esta aberração, manifestando assim o seu acordo tácito com a denominada escola a tempo inteiro, que mais não faz do que legitimar e “oficializar” o aprisionamento de crianças, com a conivência e autorização dos pais…

 

O pretenso “apoio” às famílias, aludido no Artigo 39.º do Decreto-Lei n.º 21/2019, de 30 de Janeiro, acaba por evidenciar, na realidade, o fracasso das políticas sociais de apoio à família, em particular aquelas que respeitam à educação de crianças e jovens e aos incentivos à natalidade…

 

E, entretanto, as crianças continuarão enjauladas, sem o direito a serem, de facto, crianças…

 

A escola a tempo inteiro prova que somos um país pobre a todos os níveis…

 

Paula Dias

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5 comentários

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    • Cláudia on 26 de Maio de 2024 at 10:51
    • Responder

    Excelente texto! A escola de hoje mais não é do que um “depósito” de crianças e adolescentes. Aos professores é pedido não só que ensinem, mas também que eduquem os seus alunos, tarefa que deve estar a cargo da família.

  1. “A denominada “escola a tempo inteiro”, excêntrica “inovação educacional” concebida por” … dois incompetentes, a saber: “José Sócrates/Maria de Lurdes Rodrigues […]”.

    • Sociedade capitalista doente on 27 de Maio de 2024 at 1:46
    • Responder

    A escola a tempo inteiro é sinal / sintomas de uma sociedade doente. No caso a portuguesa.
    Protege se o lucro das empresas e desprezam se as famílias. Por isso há cada vez menos crianças. E depois choram que a demografia não aumenta.
    O estado português em vez de produzir leis que protejam as crianças e as famílias exigindo que as empresas tenham horários que permitam criar e educar crianças, faz leis que aprisionam as crianças nas escolas .
    Maldita sociedade! Sociedade capitalista doente!

    • homem da paróquia on 27 de Maio de 2024 at 17:15
    • Responder

    la vache do iscte reprovad na avaliação mas reitora.

    • Oraida Cardoso on 30 de Maio de 2024 at 16:58
    • Responder

    Subscrevo inteiramente este texto que deveria ser reencaminhado para os diferentes partidos que nos representam na Assembleia da República para que legislem no sentido de impedir que as nossas crianças fiquem para além das 17h30 nas nossas escolas. Esta é uma preocupação que me acompanha diariamente. Muitas destas crianças têm idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos. O que está acontecer revela uma enorme falta de sensibilidade e de respeito pelas crianças portuguesas que chegam a permanecer mais de 10 horas numa mesma escola quase durante os 365 dias do ano. Passam mais horas num mesmo espaço que a maioria dos adultos nos seus empregos!!!
    Temo pelas consequências no comportamento de algumas destas crianças no futuro, quer no seu relacionamento com a escola quer na sua interação com a sociedade …!

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