Em 2008, fomos derrotados. Já desistiram de lutar?

Quem ainda quer ter mais democracia na escola ajuda, divulga e assina a petição.

Quem se lamenta da falta de democracia e se resignou fica quieto.

Fica o link: Petição | Alteração ao DL 75/2008 – Limitação a 3 mandatos da possibilidade de reeleição consecutiva de Diretores/as de Escolas e Agrupamentos de Escolas (parlamento.pt)

1.A lei 75/2008 é uma tropelia à democracia feita com truque.

Toda a gente acha que eleição direta é mais democrático que indireta. Mas a questão jurídica não é se é mais ou menos democrático. A questão é se não tem o mínimo democrático para caber na Constituição.

As eleições indiretas são pouco democráticas (aliás, é inesquecível a cena da chapelada da “Queda de um anjo” de Camilo, à volta de eleições indiretas) mas serão tão pouco que a Constituição não as permita?

2.Ora, no caso da lei 75/2008 foi tentado discutir a inconstitucionalidade junto do Provedor de Justiça (além do parecer bem conhecido do Garcia Pereira, a Fenprof pediu ao Provedor, que tem esse poder, que suscitasse junto do Tribunal Constitucional a inconstitucionalidade da Lei).

O pedido da Fenprof foi respondido com o texto que anexo  https://www.provedor-jus.pt/documentos-html/?id=5219

Nele o Provedor dizia não ver inconstitucionalidades nos pontos que lhe foram perguntados (lendo, concordo, e não gosto disso ser assim, mas o facto é que é).

3.Se repararem, eu escrevi “nos pontos que lhe foram perguntados”.

Porque houve um ponto que não foi perguntado e que, a meu ver, é inconstitucional: a recondução do diretor sem nova eleição.

Porque o que faz a democraticidade mínima (que impede ser inconstitucional) é haver uma eleição, qualquer que seja. E a recondução não é eleição (porque na definição do conceito é obrigatório haver a possibilidade de candidaturas alternativas). Mas ninguém seguiu esse caminho para por a lei em crise.

  1. A recondução existe porque a primeira versão da lei previa selecionar os diretores por concurso, como outros dirigentes da administração pública, sem eleição. E, para nomeados, a recondução está prevista e não suscita grandes dúvidas legais.

Quem tem mandato eletivo não pode ser reconduzido. Ora pensem lá: acham que era constitucional reconduzir o presidente de junta em 2 mandatos seguidos sem uma eleição com alternativas, pelo meio?

O parolo de Viana anda a falar disto há muito tempo ( Carta aberta aos conselhos gerais: sejam democratas! Não reconduzam diretores! (I) | ComRegras ) mas ninguém liga muito, tão entretidos andam nas discussões de filosofia política e a esquecer que, para mudar uma máquina, não bastam ideias gerais sobre os princípios, mas conhecer bem a mecânica, as peças e sua interconexão.

  1. Quem fez a lei descobriu depois que, sem uma qualquer eleição, mesmo indireta, a nomeação do diretor e a lei violavam a CRP e a Lei de Bases. Vai daí fizeram o absurdo de um concurso que termina em eleição. Mas não retiraram a recondução que, num processo eletivo, não pode ser. Arriscaram a inconstitucionalidade. E ganharam porque nunca ninguém contestou esse ponto em tribunal.
  1. Assim, a lei está em vigor e nunca foi desafiada com sucesso na sua constitucionalidade. E já sei o coro de protestos: “até parece que concordas com a lei diabólica”.

Uma argumentação dessas é pueril. É uma birrinha dogmática de quem acha que temos de ser contra as coisas, todos alinhados por uma mesma doutrina e todos da mesma maneira.

Que há umas maneiras puras de contestar e umas tortuosas.

  1. Há leis conformes à Constituição péssimas. A questão é que ser conforme à Constituição faz com que a discussão do 75/2008 transite do domínio da Lei para o da política. Dentro das opções que a Constituição permite, havia outras muito melhores. Mas é preciso lutar por elas e rua a rua, casa a casa. Houve várias tentativas políticas de mudar a lei no Parlamento e falharam.

E sem esquecer que, péssima que seja, é a lei com que vivemos. A lei pela qual são eleitos os coordenadores, os diretores, membros do conselho geral, que regula os conselhos pedagógicos, etc. Dizer que um membro de um conselho pedagógico fica moralmente diminuído por colaborar com a lei é ofensivo, para ele e para todos os outros “que colaboram com a lei” porque vivem em escolas que são governadas por ela e querem por a sua escola a funcionar. E não é provar que a lei passa a ser boa. É por a escola onde trabalham a funcionar.

  1. Mas há quem se resigne a que só vai mudar numa “grande revolução” e há quem, sem nunca aceitar a lei pelo seu valor facial, a queira mudar e atacar com as armas disponíveis, já que ela está imposta.
  1. Fazer uma petição é de graça, não obriga a contratar advogado ou pagar custas e vai ao sítio onde as leis se mudam. E se o tema for focado pode reagendar a questão.

Porque é que os sindicatos não voltam à carga e suscitam a questão daquele ponto que parece, a quem tiver umas luzes disto, inconstitucional? Fazer uma petição sobre isso não é simples. Não cabe numa página e ninguém a lê, requisito mínimo para a assinar….

E para alegar inconstitucionalidade com base sólida, mesmo a que intuitivamente se vê  (contra, por exemplo, o princípio da democraticidade e de normas concretas da CRP) é preciso contratar juristas. O que o grupo que contratou o Garcia Pereira em 2008 fez. O trabalho do ilustre causídico não deu muitos frutos, mas não vale a pena ficar a chorar esse passado. Confesso que já não me recordo o que disse sobre reconduções mas alguém esclarecerá, com certeza.

E é isto. Há aqui uma ideia de luta. Quem ler o texto da petição e concordar assina. Quem não concordar, nada contra da minha parte. Só peço é que à minha frente não se lamuriem, que ninguém faz nada contra a falta de democraticidade nas escolas ou para lhes aumentar a democracia.

 

Luís Sottomaior Braga

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11 comentários

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    • Falcão on 20 de Janeiro de 2022 at 23:34
    • Responder

    Já assinei a petição, até porque concordo com ela em número, género e grau! Mas acho que a petição tem um lado menos positivo, é que acaba por legitimar, de certa forma, o modelo de gestão em si e isso é o pior que podemos fazer. Ele tem é de cair pela base, e não apenas ser enxertado!

    Por outro lado… não leves mal mas ohh Braga… ehh pahh… acho que já CHEGA de andares sempre a incomodar aquelas santas criaturas na Comissão de Educação, qualquer ainda te fazem a vontade e convidam-te para um lugar elegível numa lista para ver se gostas de passar a vida a levar com peticionários armados ao pingarelho! Ou então é porque és masoquista, tiras prazer de tanto desprezo!
    Aquilo só lá vai à com benzina pahh!

    Abraço e nunca desistas!

    • José António Campos on 20 de Janeiro de 2022 at 23:47
    • Responder

    Não concordo minimamente com o exposto na critica que é feita a quem na embarca na assinstura desse documento! Passo a explicar: Eu Não o Assino não por ser daqueles a quem o autor da publicação critica, no meu entender de forma menos respeitosa e sem espírito democrático, dizia eu Não Assino porque a limitação do mandato devia ser de 2 Anos e não 3, de firma a evitar a manutenção de clientelismos dentro dos agrupamentos que se vão institucionalizando ainda para mais com a municipalização da educação! Não me revejo nesses 3 anos e por isso não assino e devolvo ao autor das criticas as mesmas

      • Luis Sottomaior Braga on 21 de Janeiro de 2022 at 8:47
      • Responder

      Portanto quer ir mais longe. E que está a fazer por isso?

    • Luis Sottomaior Braga on 21 de Janeiro de 2022 at 8:48
    • Responder

    Portanto quer ir mais longe. E que está a fazer por isso?

      • José António Campos on 21 de Janeiro de 2022 at 8:59
      • Responder

      Uma das coisas que faço é não ligar a comentários desse tipo que nada dizem nem acrescentam , limitam-se unicamente a ocupar espaço com arrosoado demagógico! Adeus,e continue a votar em quem costuma que vai mesmo logre é eu ter de pagar pelas suas decisões! Para a próxima em vez de usar o sarcasmo como arma de arremesso utilize os neurónios de forma consistente e racional pois não conseguiu ver no discurso o que apresento como proposta e que motiva a minha não assinatura para a próxima lei-a com atenção o que se publica para não cair neste tipo de situações tristes!!!!! Over&Out!

        • Falcão on 21 de Janeiro de 2022 at 10:31
        • Responder

        Caro José António Campos,
        Tem todo o direito de dizer o que pensa, mas o Luís Braga colocou-lhe uma questão pertinente: se não concorda com a proposta, tem algo melhor a adicionar? Fez outra petição de acordo com aquilo que defende? Ou vai mudar as coisas apenas dentro da sua cabeça? É realmente um bom retrato da classe docente… não gostam, não assinam, criticam, pensam diferente, mas no concreto não fazem nada para mudar as coisas! É triste e é muito por isto que continuamos a deixar andar… e o ME e os seus braços armados dentro das escolas, fazem o que querem! Se era para dizer isto caro José Campos, mais valia estar calado!
        Quanto a mim, a única crítica que fiz ao Luís Braga é que ele tem de pensar se não estará a atingir um overburning de petições e às tantas os senhores deputados (que nunca ouvem com muita atenção os peticionários) acabam por ver o nome dele uma vez mais e acabam por encolher os ombros e fazer de conta que levam isto a sério… mas há um mérito que ninguém lhe pode retirar: pensa os problemas e apresenta soluções concretas, mesmo que se discorde disto ou daquilo, dá um contributo. Muito melhor andaríamos se em cada escola houvesse um Luís Braga pelo menos!
        Abraço!

    • gin on 21 de Janeiro de 2022 at 11:14
    • Responder

    Parolo de Viana? Está-se a dirigir ao autor do blog SemRegras?

    • João on 21 de Janeiro de 2022 at 12:45
    • Responder

    Não basta mudar os mandatos. Todos os professores devem votar na eleição. Docentes e não docentes.

    • JB on 21 de Janeiro de 2022 at 15:39
    • Responder

    o aparelho socialista alastrou-se como uma teia cancerígena no seio da Educação… vai ser difícil tirá-los de lá a bem!

  1. “Só peço é que à minha frente não se lamuriem, que ninguém faz nada contra a falta de democraticidade nas escolas ou para lhes aumentar a democracia.”.
    A sua proposta é uma perda de tempo e a conclusão, citada acima, é verdadeiramente risível. Então sr. dr. Braga, um regime ditatorial ser durar doze anos em detrimento de dezasseis, deixa de o ser?????
    Que argumento é esse????

    • abébias on 23 de Janeiro de 2022 at 19:31
    • Responder

    Algures num reino distante Um dia aconteceu…..
    estavamos 2009 ano de concursos o governo do SOCRATES e nao Engenheiro mas sim ENG. tecnico, promoveu um concurso para as Escola denomindas TEIP.
    Nesse reino ainda de presidentes de admnistrativos e ou diretivos e ou executivos, os docentes que concorriam para essas denominadas escolas faziam um chamada ENTREVISTA E ENVIAVAM UM CURRICULO . Sendo sempre o requisito nº1 ter lecionado numa escola TEIP. requisito inteligente . portanto nao existiam listas graduadas nacionais era todo na santa escolinha.o dito requisito ja entenderam caros colegas seria o primeiro e porquê?
    lembram-se estimados colegas?
    Essa entrevista nao era mais que o visto de certificação para que os docentes amigos dos presidentes de então e nem eram diretores colocassem no quadro dessa escola TEIP os amigos que queriam .
    Era assim como na Velha Roma um poder arbitrário ,ou como luis XIV .
    Foi assim que muitos destes ilustres comentadeiros e proposeiros de petições se imuseram na escola a seu belo prazer , os amigos estaão lá ainda e no QUADRO DE NOMEAÇAO DEFINITIVA.
    Muitos de vocês ficaram para trás nas listas porque não terem essses ilustres presidentes como amigos ou amigas.
    Aplicava-se a dose a ambosos sexos.as amigas dos presidentes e aos amigos dos presidentes , sexo masculino e feminino isto porque na altura ainda nao se falava muito dos Bisexuais.
    Então nesse reino distante em 2009 procedeu-se á nomação definitiva tipo quem é mais giro ou gira quem é mais amigo ou amiga e etc.
    E assim os nossos colegas passados 13 anos estão pertinho pertinho de casa , e os outros continuam a correr mundo.
    Era este o cenário dos tais presidentes isentos , legalistas .
    Facilmente estes presidentes podiam ser acusados ainda hoje por abuso de confiança . abuso de poder,vantagem indevida burla , etc , seria um um rol de crimes , mas isso nao acontece porque nós ate somos bons rapazes.
    Entao pergunto se os diretores atuais são mesmo caciques e são de facto o que eram estes presidentes?
    é impossivel assinar esta petição devido ao numero 1 da petiçao ser quem é.
    Podem insultar , mas eu tenho prova factual e nomes factuais

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