Foi com grande prazer que fiquei a saber recentemente do excelente trabalho levado a cabo pelos alunos e professores da Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos.
E desde logo as minhas desculpas pela ignorância desde que vos escreve. Por culpa minha, decerto, por não procurar saber. Mas também por culpa de um sistema político que, por razões difíceis de compreender, pouco faz para promover os seus melhores exemplos.
Porque a Escola de Segunda Oportunidade de Matosinhos é muito mais do que uma escola, é um projecto social, um movimento social de iniciativa social virado e focado nos jovens, nos seus jovens, os jovens de Matosinhos e arredores que só Matosinhos e arredores conhece e só quem vive em Matosinhos e arredores pode ajudar.
Porquê? Porque quem por aqui vive conhece não só estes jovens mas onde vivem, como vivem, com quem e porquê entre o passado e o presente mais as mil e uma razões do abandono escolar precoce.
Conhecer a realidade dos dias é o primeiro passo para a relação, e por relação entenda-se saber ouvir, atentamente e com atenção, dando a estes jovens a voz que nunca tiveram, a importância que nunca tiveram em casa, na escola ou na vida.
Por culpa do desemprego, da baixa escolaridade dos pais, e isto quando há pais, tantas vezes tão precários como o emprego ou então apenas uma espécie em vias de extinção enquanto se condenam gerações inteiras ao Deus-dará, a escassez de trabalho e rendimentos, a fome, o corpo e a mente debilitados, as doenças, o consumo de drogas e álcool entre o vício, o escape e a fonte de rendimento, os problemas com a polícia e a justiça mais o registo criminal sem fim.
Até agora nunca ninguém lhes disse que são capazes. Mas são. São capazes de tudo. Basta terem quem acredite neles e a Escola de Segunda Oportunidade acredita, os seus professores acreditam, a psicóloga acredita, o mediador juvenil acredita, a orientadora profissional acredita assim como todos os vinte profissionais que aqui vivem e trabalham acreditam.
E sublinhe-se vivem quando se vive na educação e para a educação e ensinar é fazer parte da vida do outro e transformar essa vida, é ter o privilégio de ver uma criança crescer e a coragem de deixar a criança partir: já não é uma criança, é um homem, é uma mulher, mesmo se o coração nos diz o contrário.
E como homens mulheres, os jovens outrora excluídos e renegados encontram nesta segunda oportunidade a oportunidade para se expressarem através da dança, do teatro, da música e das artes visuais enquanto aprendem a ser electricistas, costureiros, cozinheiros, carpinteiros.
Combinando a formação pessoal, cívica e vocacional, a Escola de Segunda Oportunidade oferece a jovens entre os 15 e os 25 anos não apenas a certificação escolar final de 6º e 9º ano, oferece uma vontade e uma razão, um sentido, um gosto e um percurso para os cerca de 70 alunos que aqui passam todos os anos à procura de aprender.
Fossem todas as escolas assim. Fosse a escola assim. Porque as crianças e jovens merecem, não, precisam de uma segunda oportunidade, e uma terceira oportunidade, e uma quarta oportunidade e todas as oportunidades que lhes pudermos dar. Porque são crianças e jovens. Estão a aprender. Cometem erros, cabendo aos adultos, aos pais, aos professores, a todos nós, perdoar e encaminhar uma e outra vez e sempre.
Neste âmbito, a duplicação no próximo ano lectivo do número de escolas que combatem o abandono escolar é muito mais do que uma boa notícia.
Mas se mais escolas de segunda oportunidade são bem-vindas, porquê a necessidade de uma segunda oportunidade e o que aconteceu à primeira oportunidade?
Valorizemos as escolas e os professores e talvez não precisemos de segundas oportunidades.
Fomentemos os apoios sociais e o emprego e talvez não tenhamos exclusão social.
Promova-se o acesso à saúde e a uma habitação condigna e talvez tenhamos o futuro garantido.
Garanta-se justiça e equidade e talvez tenhamos paz.
João Costa
https://www.segundaoportunidade.com

4 comentários
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Parabéns ao autor do texto.
Uma reflexão importante sobre uma ação que promove a pessoa humana, devolvendo-lhe o autoconceito positivo, desenvolvendo saberes interdisciplinares e as capacidades artísticas que todas as crianças e jovens possuem, mas que a escola de primeira oportunidade, com a hierarquização das disciplinas, não estimula, que cuida da saúde mental dos jovens e promove a coesão social.
Cito : “Valorizemos as escolas e os professores e talvez não precisemos de segundas oportunidades.” A sério?!
A propaganda costista sempre, sempre de mãos dadas com a mais reles, baixa e nojenta hipocrisia. Em que país vivemos? Num bananal onde a realidade desmente todos os dias o discurso vazio e mentiroso dos governantes deste deste país.
A MENTIRA governa o PAÍS e TODOS, ou QUASE ,acreditam nela…
Continuamos todos uns grandes líricos. Vamos acreditando, apesar dos enganos repetidos, sempre nos chico-espertos incompetentes que nos governam .
Um poemACTO dedicado ao tema
a DE(s)MOCRACIA portuguesa
mentir até ao tutano
costas, medinas, governo e xuxialismo geral
e a esquerdalhada radical nem leva a mal?
nem parece a mesma “cuncatano”!
…e o manso-tanso “povão” já não liga,
come e aceita,
como nos “futebóis” e “vares” da Liga
tudo é transparente e normal
vivemos numa democracia moderna, o tanas,
onde o ps despacha a receita.
não, não somos uma república das bananas
SOMOS O BANANAL
A escola é um PASEO. Não vão ser necessárias escolas de segunda oportunidade. A escolha depois é feita pelo sociedade.
Um discurso moralista e paternalista, cheio de contradições e cujos
objetivos essenciais são
desresponsabilizar-se e
condenar
um estereótipo de escola
que só existe na cabecinha deste senhor:
“…a duplicação no próximo ano lectivo do número de escolas que combatem o abandono escolar é muito mais do que uma boa notícia”.
Contradições?
“Valorizemos as escolas e os professores e talvez não precisemos de segundas oportunidades”.
É um discurso de ódio:
“Fossem todas as escolas assim. Fosse a escola assim”.