Sobre a recente chantagem do governo com a ameaça de demissão devido ao papão da abertura da “caixa de Pandora”.
O artefacto em causa, reza a mitologia grega, foi oferecido a Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, o pai de todos os deuses. Zeus – que, diga-se de passagem, consta que era um grandessíssimo maroto -, sabia que a curiosidade de Pandora acabaria por levá-la a abrir a famosa caixa (dizem que era um jarro, mas não entremos agora em preciosismos), e que com isso deixaria escapar todos os males do mundo.
Ora bem, não consegui deixar de achar interessantíssima a foto que surgiu nos meios de comunicação social em que vemos as deputadas do BE, do CDS, do PCP e do PSD a tratarem de colocar os pontos nos “is” relativamente ao documento que garante a contabilização de todo o tempo de serviço dos professores, pouco se importando com os gritos e ameaças do nosso deus dos deuses, digo, do nosso mago dos défices, Mário Centeno, uns dias antes.
E também não consigo deixar de pensar no ridículo a que se prestam algumas almas que conseguem dizer que uma (falsa, registe-se) despesa apresentada de 635 milhões, abre uma caixa de pandora por aumentar a despesa – segurem-se para não cair – para infindáveis… 800 milhões. Sim, é isto mesmo que está a ser dito por muitos reconhecidos especialistas em e economia, contas públicas, orçamentos e outras práticas místico-esotéricas:
– Que pagar aos professores provocará o enorme caos financeiro-económico de aumentar para 800 algo que dizem custar 635. Algo que é apresentado em valores brutos, ilíquidos, que contempla receitas no meio de despesas para apenas baralhar, assustar ingénuos e justificar a chantagem de um primeiro ministro que, vendo-se aflito com as recentes sondagens, resolve apostar no “tudo ou nada”, chutando para canto os parceiros que lhe permitiram governar e que lhe aprovaram quatro orçamentos.
Tudo, registe-se, em nome de uma última e desesperada tentativa de conseguir a tão desejada maioria absoluta.
Não passarão.
Maurício Brito





