Nenhum jovem nasce delinquente – João André Costa

 

Nenhum jovem nasce delinquente

Nenhum jovem nasce delinquente. Não, os jovens fazem-se delinquentes, e cada vez em maior número, à taxa de três pontos percentuais por ano ao longo dos últimos cinco anos. 

O alerta veio da presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens, Rosário Farmhouse, aos jornalistas presentes no encontro nacional das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens.

Sem futuro, sem interesse, motivação ou esperança, são cada vez mais os jovens entre os 15 e os 17 anos envolvidos em comportamentos delinquentes, desde o consumo de drogas e álcool à indisciplina escolar e à actividade criminosa. Fruto de famílias desestruturadas, vítimas da violência doméstica, da negligência, de abusos físicos, emocionais, sexuais, testemunhas do consumo de estupefacientes no seio familiar, filhos do desemprego de um ou dos dois pais, eles próprios sem futuro, interesse ou esperança, imigrantes de segunda e terceira geração sem quaisquer raízes culturais, encontramos cada vez mais crianças e jovens sem ninguém com quem falar, sem um pai, sem uma mãe, com irmãos e irmãs igualmente afectados, também eles sem modelos familiares ou alguém com quem falar.

E este é o cerne da questão. Estes jovens não têm nenhum adulto com quem falar, nenhum guia. Nem têm nenhuma razão para ter quando foram os adultos a abandoná-los em primeiro lugar. Assim criados, estamos a falar de jovens sem qualquer confiança no mundo dos adultos.

Feridos, rejeitados, procuram a rejeição quando um adulto se aproxima pois essa é a realidade com que sempre viveram. Sozinhos, procuram outros jovens com quem se identificam, muitas vezes pelas piores razões, entrando numa espiral de onde é difícil regressar.

Trabalhando com estes alunos todos os dias, a maior dádiva é a nossa presença, a nossa persistência, dedicação, teimosia, o nosso carinho e amor. E sim, há pontapés, e sim, também há murros, contra as paredes e portas, contra outras crianças, entre outras crianças, contra os professores e pessoal auxiliar entre insultos e mais pontapés. 

E sim, temos apoios, desde psicólogos a assistentes sociais, passando pela polícia e psiquiatras, sem esquecer os nossos colegas e, de vez em quando, os pais. Juntos, aturamos tudo. Juntos, encaixamos tudo. Juntos, fazemos a diferença. Porquê? Porque não nos vamos embora.

Somos um hospital, somos uma enfermaria, somos a casa que nunca tiveram, somos pais e somos mães, somos mais, somos professores. Ensinamos e educamos, fazemos as vezes das famílias que nunca tiveram, trabalhando em pequenas turmas com cinco ou seis alunos, num total de 40 alunos na escola inteira.

Tudo isto leva tempo. Leva tempo poder voltar a confiar, poder voltar a falar, a chorar, a rir, a abraçar, a agradecer, a confiar. Não é fácil. Tal como não é fácil explicar a outros adultos o quanto vai nas almas destas crianças, destes meninos perdidos acabadinhos de sair da “Terra do Nunca”.

 

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7 comentários

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    • Maria on 27 de Maio de 2019 at 14:11
    • Responder

    Os professores são isso tudo e o que recebem em troca? Um ordenado miserável, a desconsideração social (ainda hoje ouvi dizer que os partidos da direita tiveram menos votos porque se aliaram à esquerda, na questao dos profs) e uma carreira em que o topo não ultrapassa os 2 mil euros limpos….
    E vamos ter que fazer isso tudo que vem no artigo para quê? Para ganharmos um lugar no Céu? Tenham dó! Eu nem sequer sou católica!

    • Madalena on 27 de Maio de 2019 at 16:21
    • Responder

    Há professores, como há médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras… Espera-se que os primeiros façam um trabalho que não lhes compete, para o qual não estão preparados, que nunca quiseram fazer, pois, tivesse sido esse o caso, teriam escolhido outra profissão. Este tipo de abordagem é errada, perigosa e usa de uma chantagem emocional inaceitável. Só colhe perante quem não sabe o que anda a fazer ou tem a presunção de que pode fazer tudo.

    • Carla Noronha on 27 de Maio de 2019 at 16:26
    • Responder

    .
    Meu caro amigo João Costa

    Antes da Abrilada não existia esta ESCÓRIA na Escola.

    Antes da Brilada não existia Escola Segura porque não era precisa.

    Delinquentes sempre existiram, mas há um local próprio para eles e não é seguramente a Escola.

    “Quem os Pariu Que os Lamba” este é o meu lema de vida e não me tenho dado mal.

    Sabe quem atura esta ESCÓRIA SOCIAL?….Sim!…São os docentes do Ensino Secundário (aqueles que dão aulas ao 3º ciclo e Secundário.

    As Escolas Públicas são Hoje verdadeiros antros onde abunda a escória/ralé social. Os Contribuintes pagam.
    .

    • João Santos on 28 de Maio de 2019 at 0:04
    • Responder

    És um poeta, Rui Cardoso… e realço que digo isto com sarcasmo, para não se gerarem mal-entendidos.

      • Libertário on 28 de Maio de 2019 at 13:16
      • Responder

      Por aqui se vê a ânsia de alguns em atacar os autores deste blog. Será que não reparou que não foi o Rui Cardoso que escreveu este texto, mas sim um tal de João André Costa?
      Deu conta, sim.
      A inveja é uma coisa feia… A esta equipa, a maioria dos professores só tem a agradecer. É claro que alguns membros do sindicalismo profissional não agradecem por os verem como uma ameaça, coisa que não são.

    • Maria on 28 de Maio de 2019 at 15:49
    • Responder

    Eu, quando comento aqui no blog, não estou contra ninguém. Só digo o que penso…….
    Ainda hoje ,quando saía da escola fui bafejada com algumas pedrinhas de gravilha por parte de um aluno que, embora sendo da escola, eu não conheço de parte nnenhuma, logo nada tem contra mim….se isto se tivesse passado no tempo “da outra senhora” dava direito a expulsão!

    • Ana Botelho on 30 de Maio de 2019 at 19:25
    • Responder

    «Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao espírito.», a propósito de que nenhum jovem nasce delinquente…

    Não somos vítimas de nada nem de ninguém, a não ser de nós próprios.
    São as crenças limitantes que separam o Homem da iluminação.

    «Escória», «ralé»… designações do EGO.

    «A dúvida é o preço da pureza» (Jean Paul Sartre).

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