23 de Novembro de 2013 archive

Jornal das 22

Uma prova de acesso depois de14 anos como professora contratada.

 

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Hoje, no Jornal i

Uma Prova-Espantalho

 

A muito pomposamente designada prova de avaliação de conhecimentos e capacidades, para que os professores possam exercer a profissão para a qual se profissionalizaram, foi uma criação da ministra Maria de Lurdes Rodrigues no auge do seu confronto com a classe docente e foi mais uma peça numa estratégia destinada ao amesquinhamento da classe profissional que de forma mais frontal contestou as suas políticas. O actual ministro Nuno Crato decidiu retomar agora essa ideia, usando-a para desviar as atenções de outras medidas muito gravosas neste sector da governação.

Sejamos claros:

  • Esta prova visa avaliar a competência de professores que não se limitaram a fazer uma licenciatura e agora querem continuar a dar aulas. Destina-se a quem, para além de anos de exercício da profissão, obtiveram uma profissionalização específica, aprovada e certificada pelo ministério da Educação, para a docência ao nível da pós-graduação ou mestrado. E pelo que se conhece da informação-prova parece um teste de revista de fim de semana, com uma composição no  fim sobre a Primavera.
  • Esta prova não permite o acesso à carreira de professor, mas apenas a determinar se professores já profissionalizados podem exercer a respectiva profissão. Isto não tem paralelo com outras profissões, mesmo as reguladas por ordens profissionais. Um professor aprovado não obtém qualquer colocação numa escola ou mesmo a garantia de vir a exercer a docência.
  • A qualidade de um professor ou a sua adequação para exercício da docência deve avaliar-se de forma rigorosa em dois momentos: ou durante a sua formação académica e profissional ou quando que fica em condições de ingressar na carreira. No primeiro caso, isso implicaria uma regulação criteriosa da oferta e funcionamento de muitos cursos de formação de professores que proliferaram a partir dos anos 80. No segundo, a prova deveria aplicar-se a quem, em situação de efectivo ingresso, seria justo pedir que demonstrasse a sua competência para ocupar um lugar nos quadros do Estado. Mas isso só é possível num quadro de políticas educativas com sentido.

Mas há um detalhe adicional importante: quem são as pessoas que se julgam aptos para avaliar quem exerce os potenciais examinados? Quem nunca fez uma prova desse tipo? Quem esteve anos a formar professores e agora acha que não estão em condições de exercer a profissão? Só que isso é sigiloso. Um mínimo de decência exigiria que as condições de produção desta prova fossem transparentes. Mas a opacidade e a mistificação tornaram-se a imagem de marca da actual governação na área da Educação.

 

Paulo Guinote

Seis atributos para uma prova

 

Esta prova diz-se de ingresso na carreira. Mas quem nela obtenha aprovação não entra na carreira. Outrossim, quem leccione há 5, 10, 15 ou mais anos, sempre com avaliação de bom ou superior, os miseravelmente explorados professores contratados, pode ser expulso do exercício profissional. Isto tem um nome: canalhice. O qualificativo é meu. Mas no espírito do juízo estou significativamente acompanhado: Provedor da Justiça e, agora, Comissão Europeia.

 

Esta prova mostra que o Ministério da Educação e Ciência não confia nas instituições de ensino superior que formam professores e que nós, portugueses, não devemos confiar no Estado. Com efeito, as universidades e os politécnicos que formam professores não são clandestinos. Foram reconhecidos pelo Estado como competentes para tal. Para operarem têm que obedecer às exigências do Estado. O Estado impõe-lhes um número mínimo de professores doutorados. Não são livres de conceber os seus planos de estudo: o Estado impõe-lhes matrizes e, além disso, cada curso sujeita-se ao livre arbítrio do Estado para obter autorização de funcionamento. Não são livres quanto à admissão de alunos: o Estado estabelece-lhes cotas. O Estado fiscaliza-as e pode fechá-las se deixar de lhes reconhecer qualidade. O Estado é, pois, tutor de todas. Às vítimas deste devaneio, todos aqueles que pagaram propinas durante anos, está dito, em diploma legal, que obteriam uma habilitação profissional, sublinho, profissional. Isto tem um nome: intrujice.

 

Esta prova foi inicialmente concebida por um partido que agora a esconjura e é agora defendida por outro que antes a arrasou. Isto tem um nome: palhaçada.

 

Esta prova trará ao ministério, em taxas de inscrições a pagar pelos candidatos, um encaixe próximo do milhão de euros. A maioria dos candidatos está no desemprego. Alguns terão que pagar centenas de euros para se deslocarem aos locais onde as provas se realizam. Pela correcção de cada uma, o ministério propõe-se pagar metade do que paga por hora a uma funcionária de limpeza. Isto tem um nome: perfídia.

 

Esta prova não acrescentará um avo de qualidade ao sistema. Pelo contrário, vai diminui-la, pela lama e descrédito que bolça sobre a classe. Todos o sabem menos Crato. Isto tem dois nomes: incompetência e ignorância.

 

Quando cantou “Os Vampiros”, Zeca Afonso leu aquele tempo e foi profeta: anunciou o nosso.

In “Jornal i” de 23.11.13

 

Santana Castilho

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Plano Casa à Deriva

Tenho recebido alguns e-mails a perguntar como anda o Plano Casa, contudo pouco sei com o que se passa com este projeto e ao que parece as próprias instituições também não sabem de nada.

Fica aqui o relato de uma leitora do blogue com algumas informações que recolheu.

 

 

 

Sou professora do QZP 09 e concorri ao Concurso de Mobilidade Plano Casa; depois de muito esperar por alguma notícia relacionada com esse concurso, resolvi telefonar para a DGAE na 4ª feira passada. De lá informaram-me de que a partir do momento em que a escola valida a candidatura, o MEC já não tem mais nada a ver com o assunto; além disso, disseram-me que não iria sair qualquer lista e que eu teria que me informar ou junto do Ministério da Solidariedade e Segurança Social ou telefonando para as instituições para as quais tinha concorrido.
Consultei a página da Internet do dito Ministério e nada! Telefonei para uma dessas instituições e o que a Diretora Técnica me respondeu foi simplesmente …. (não tenho palavras!) : disse-me que não sabia de nada, que não tinham sido informados de nenhum concurso e que só tinham conhecimento dele, porque mais professores (como eu) já tinham também telefonado para lá! Ainda acrescentou que se fosse colocado um professor na tal instituição, nem saberia quais as tarefas que ele teria que cumprir!

Assim vai o nosso país!

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Opinião – Manuel Maria Magalhães

Carta aberta de um professor ao primeiro-ministro: não farei qualquer exame retroactivo

 

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar.

 

O meu nome é Manuel Maria de Magalhães e sou professor profissionalizado do grupo 410 (Filosofia), desde 2002. Desde então fui contratado por 13 escolas, em cinco distritos diferentes (Viana do Castelo, Braga, Porto, Guarda e Viseu). Em todas excedi sempre aquilo que me era pedido, como prova o reconhecimento, em alguns casos público e formal, que alunos, colegas, órgãos das escolas e encarregados de educação prestaram ao meu trabalho.

Em termos de formação contínua de professores desprezei sempre as acções de formação promovidas pelo ministério através das suas direcções regionais, que conjugam o verbo “encher” na perfeição, para procurar na academia a continuação dos meus estudos sob a forma de congressos ou mesmo na execução de duas pós-graduações nas áreas em que o meu grupo disciplinar se move. Em todas as escolas o meu trabalho foi avaliado, de acordo com o estipulado, tendo inclusivamente sido dos primeiros a submeter-se voluntariamente às “aulas assistidas”. Em consequência das suas políticas educativas encontro-me no corrente ano desempregado e sem perspectivas de encontrar colocação nesta área, tal como dezenas de milhares de colegas meus, muitos deles com uma história profissional bem mais dura do que a minha e muitos mais anos de serviço. É neste quadro que Vossa Excelência, através do seu ministro da Educação, nos quer obrigar a fazer um exame para poder continuar a concorrer ao ensino. Era a humilhação que faltava e a maior de todas.

Ao enveredar por este caminho, Vossa Excelência está a descredibilizar todos os docentes com provas dadas nesta causa que é tomada como uma missão em prol do desenvolvimento do país. Está a descredibilizar as universidades que nos formaram e as escolas que nos avaliaram. Está a destruir a credibilidade do próprio ensino, através de uma avaliação retroactiva, sem fundamento, obscura nos seus contornos, pois até esta data pouco se sabe sobre o processo, que é mais próprio de regimes ditatoriais revolucionários do que de democracias maduras, onde todas as partes devem ser ouvidas.

Estou de acordo consigo num ponto: a Educação não está bem,apesar dos esforços de tantos, mas residirá apenas na classe docente a causa desse mal? Já reparou que todos os governos eleitos impuseram uma política de Educação diametralmente diferente dos anteriores? Já se deu conta que a Educação foi verdadeiramente uma área em que se “atirou dinheiro” para cima dos problemas na esperança que passassem? No ensino, como em muitas outras áreas, também existiu o privilégio do betão face à formação. Quantas escolas não têm psicólogos, sobretudo clínicos, que tanta falta fariam aos inúmeros casos dramáticos que assolam milhares de alunos? Que vínculos tem o Estado, através da Segurança Social, para ajudar a estabelecer pontes entre as famílias e a Escola? O que se (não) tem feito em termos de prevenção da indisciplina em ambiente escolar, seja na sala de aula ou fora dela? O que fez o Estado para promover a autoridade (não autoritarismo) do professor e do auxiliar de acção educativa que ainda é tratado, à maneira do Estado Novo, como um mero contínuo, desprezando o seu vital papel nas escolas? Construir ou renovar escolas não chega… Se quer introduzir alterações em atitudes e comportamentos dos docentes, este não é seguramente o melhor caminho. Se analisar a formação que o ministério nos disponibiliza, constatará que não tem, na maioria dos casos, qualquer interesse em termos pedagógicos. Já pensou em fomentar a ligação entre as universidades e as escolas neste sentido? Ao persistir neste caminho, Vossa Excelência encerra em si o pior modelo de docência: o do professor que obriga os alunos a uma avaliação para a qual não os preparou.

Não temo como nunca temi qualquer forma de avaliação, mas não me sujeito ou humilho perante este cenário a que Vossa Excelência nos quer forçar. Não farei qualquer exame retroactivo, imposto de forma ditatorial. Se o preço a pagar for a exclusão definitiva do ensino, assumo-o. Mais importante do que as palavras que proferimos é o exemplo que perdura. A dignidade não está à venda e não posso ser incoerente com tudo o que tenho passado aos alunos que o Estado me entregou. Ainda assim tenho a esperança que Vossa Excelência tenha a humildade (uma das maiores, se não a maior, virtude humana) de reconhecer o erro que esta medida encerra e procurar novas soluções.

Professor de Filosofia

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