Uma nota simples sobre negociações do ECD à atenção dos sindicatos. – Luís Sottomaior Braga

Há muita coisa para negociar.
ADD, Estatuto no sentido de medidas de reforço de dignidade profissional, tempo de trabalho, assistência na doença, CGA, Segurança social, participação democrática na gestão das escolas, etc
Vamos começar por falar de salário?
Entre 2007 e 2026, contabilizando os anos todos e as retenções de progressão e ainda os descontos mensais de 5% de salário e perdas de subsídios de Natal e Férias perdi, aproximadamente, em acumulado do salário a que tinha por lei direito (a lei do tempo em que “assinei contrato” na profissão) cerca de 45 mil euros.
Nesses anos, passei 12 anos no 2º escalão e, depois de descongelado, cerca de 1 e meio em cada um dos outros, até ao ponto em que, ainda agora, estou atrasado, face ao previsto no início, mas, em 2026 (Dezembro) estarei no 8º escalão.
Com a recuperação operada até 2027 ainda chego ao 10º antes de me reformar e fico nele cerca de 7 anos (tenho hoje 53 anos).
No tempo em que estive no 2º devia ter chegado ao 6º e não passei de 4 escalões abaixo (ainda apanhei o recuo de voltar a subir degraus, negociado no tempo de Maria de Lurdes, mas vamos ignorar essas contas, por agora).
Numa comparação linear a carreira que tive até 2026 fez-me receber aproximadamente menos um total de 45 mil euros do que o que estava previsto.
Recebi em média a menos, cerca de 3400 euros ano e aproximadamente menos uns 240 euros mês.
Fazendo as contas, para mim e para muitos outros, que tem agora à roda de 50/60 anos, isso significa que, mesmo com a recuperação, para compensar as perdas acumuladas (que se repercutiram em salário, mas, também, e é pior, em descontos para a reforma) o Estado terá de aumentar o salário base dos meus escalões de carreira futuros uns 10 a 15 %.
15% de aumento do valor base (levando em conta a correção da inflação) era o valor calculado que daria como base de partida para uma negociação de atualização dos escalões.
E não é um valor mandado ao ar.
Além da quebra vinda de inflação ser alguma tem de se juntar isto que é só o montante que deixamos de ganhar….
Nem é realmente acréscimo: é compensação de perda acumulada.
E, de facto, aos que já estão na carreira desde os anos 90 ou inícios de 2000 isso nem era aumentar nada.
Era só devolver o que se retirou e, tão pacificamente o aceitamos, na hora de aperto das finanças públicas.
Esses 45 mil euros por cabeça geram números grandes.
Ora vejam: se houver uns 80 mil professores com uma situação parecida comigo, com essa média de perda acumulada, isso dá uma perda somada, nos anos passados, para o conjunto, de 3.600.000.000 euros (nós, função pública, fomos o superativ, que pagamos com o que perdemos, mesmo continuando a trabalhar tanto ou mais).
Se a perda for compensada nos próximos 15 anos (a parte restante da carreira), a 14 meses de vencimento, implica pagar a cada um deles pelo menos uns 215 euros mais, em média, cada mês.
Só para compensar a perda e ajudar a melhorar reformas (além de salários).
 É tomar como ponto de partida esses 45/50 mil euros de perda total (nunca devolvida: “devolver o tempo” é acrescentar ao salário presente, mas não é devolver a perda passada) e dividir pelo tempo até à reforma e acrescentar ao salário.
Esse é um caminho de cálculo da reforma salarial da carreira.
As contas podem fazer-se de várias maneiras mas dão atualização de escalões entre 10 a 15%.
No meu caso, nos 13 anos que me faltam até aos 67, significaria receber uns 240 euros mais por mês para compensar a perda média mensal (esbulho nunca devolvido, insisto) de cerca de 155/mês dos anos que ficaram para trás desde o primeiro congelamento.
E não baralhemos, por agora, com acertos de inflação, acertos na duração dos escalões, etc.
Na minha avaliação, a negociação salarial vai ser bem sucedida se, no fim das contas nos próximos 15 anos, pelo menos, receber os 45 mil acumulados e nunca devolvidos que me tiraram desde o 1º congelamento.
Uns 10 a 15% mais no valor dos escalões atuais….
Faltam professores. Paguem e melhorem a nossa vida que talvez comecem a ter vias de resolver o problema.
Luís Sottomaior Braga

Link permanente para este artigo: https://www.arlindovsky.net/2025/09/uma-nota-simples-sobre-negociacoes-do-ecd-a-atencao-dos-sindicatos-luis-sottomaior-braga/

7 comentários

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    • António Morgado on 29 de Setembro de 2025 at 11:01
    • Responder

    E os outros a quem faltam dois ou três anos para a reforma e nunca, sequer, chegarão ao último escalão? Quem lhe devolve o que lhes foi tirado?

    • Carlos Tiago on 29 de Setembro de 2025 at 12:48
    • Responder

    E os que já lecionam há 44 anos aos 65 anos de idade e a muito esforço chegaram ao último escalão, não lhes foi contado qualquer tempo de serviço e nem vai ser descontado tempo na idade para a aposentação ou a sua valorização, continuando a ser obrigados a trabalhar para não serem ainda mais penalizados no que vão auferir líquido que não chegará para lar, fraldas e medicação. O ministro rouba a uns para dar aos outros. Perseguição a quem conseguir sobreviver. Democracia=fascismo=nazismo.

      • É preciso ter lata! on 29 de Setembro de 2025 at 13:11
      • Responder

      Ninguém recupera um único ano que seja para efeitos de reforma. O seu azar foi estar congelado no sétimo ou oitavo escalão. O meu azar, pelos vistos o do autor, e o de tantos outros foi estar congelado no segundo escalão, depois de ter recuado do 5° para o 2° escalão com a restruturação da carreira da Milu. E ainda se queixa? É preciso ter lata!

    • on 29 de Setembro de 2025 at 13:26
    • Responder

    E o azar de outros foi estar congelado como contratado durante 20 anos. Também estes ficaram sem os subsídios e pagaram a famosa sobretaxa.

    • xicom on 29 de Setembro de 2025 at 15:05
    • Responder

    O ministro Alexandre já encomendou um estudo à SE PINAM VIVA e, em breve, o problema estará resolvido.

    • Marta on 29 de Setembro de 2025 at 15:52
    • Responder

    Não há soluções viáveis para manter o Ensino público.
    Concordo perfeitamente que os docentes mais velhos sejam recompensados por tudo o que perderam ao longo das décadas. Tenho familiares nesta situação.

    Contudo, estando apenas há 4 anos nisto (mas tendo-me profissionalizado apenas há 2 anos) vou sair. Já tentei concorrer para fora da AML em todo o país e nada! Com o que ganho consigo alugar um quarto e pagar o resto das despesas desde que não surja uma emergência. Infelizmente não tenho o mesmo luxo que as minhas outras 2 colegas que continuam no Ensino por viverem com os pais. Os outros 16 que terminaram o curso no mesmo ano foram mais espertos e abandonaram a profissão logo de início.
    Pelo que já li noutras publicações isto não é um caso isolado.

    Pergunto então a todos, desde colegas, a sindicatos, ao MECI: acham mesmo que daqui a 10 anos este sistema não vai colapsar por completo?

    Podem focar-se em cumprir o que é justo e certo, compensando os mais velhos pelo que foi feito outrora. Mas sem aumentarem os salários de quem entra agora na carreira, podem ter a certeza de que daqui a uns anos já não haverá Ensino para todos, mas só para quem pode – tal como antigamente.

    • nba on 29 de Setembro de 2025 at 16:38
    • Responder

    Parabéns Luís pela sua explicação detalhada das nossas perdas ao longo do tempo. As suas dores são exatamente iguais às minhas. Tenho a sua idade e provavelmente o mesmo tempo de serviço e também estou no 7º Escalão.
    30 anos de serviço prestados ao serviço dos alunos que ao longo da vida tive o prazer de conhecer e de contribuir para o seu sucesso escolar. Sempre cumpri os meus deveres e espero que o nosso patrão os cumpra também. A devolução da nossa dignidade passa também por nos devolver as nossas perdas salariais.
    Espero que seja desta que tenhamos a possibilidade de minimizar os erros do passado.
    Um bem haja a todos.

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