Inverteu-se a lógica do Ensino Profissional?

Muito dificilmente alguém com responsabilidades na área da Educação poderá deixar de reconhecer a importância do Ensino Profissional nas escolas públicas, desde logo pela sua natureza essencialmente prática e predominantemente orientada para a inserção no mercado de trabalho.

Os “doutores e engenheiros” fazem falta ao país, mas não bastam para satisfazer as necessidades do mercado de trabalho, em todas as suas vertentes.

O Ensino Profissional deve ser reconhecido e valorizado? Deve.

O Ensino Profissional permitiu reduzir o abandono escolar? Permitiu.

Permitiu reduzir o abandono escolar, mas…

Ao mesmo tempo que o Ensino Profissional tem permitido reduzir o abandono escolar nas escolas públicas, também se foi tornando no “parente pobre” das vias de ensino, frequentemente olhado como a derradeira alternativa/oportunidade para conseguir manter muitos alunos na escola, tendo como principal objectivo o cumprimento da escolaridade obrigatória.

Para muitos alunos, a frequência de um determinado Curso Profissional não é uma questão de vocação ou sequer uma escolha consciente, mas antes a única forma de continuarem na escola até aos 18 anos de idade e, se possível, concluírem o Ensino Secundário.

Dadas as incontornáveis dificuldades de aprendizagem experimentadas no Ensino Básico, um número significativo de alunos acaba por enveredar por Cursos Profissionais, muitas vezes convictos de que os mesmos serão mais fáceis do que as alternativas existentes no dito “Ensino Regular”.

O principal resultado do anterior costumam ser Turmas repletas de alunos, mas nem sempre os próprios saberão bem o que ali estão a fazer.

Muitos desses alunos têm, à entrada para o 10º Ano de Escolaridade, 16, 17 anos de idade, consequência mais óbvia do insucesso escolar ocorrido ao longo do Ensino Básico.
O Ensino Profissional acaba, assim, por ser encarado como uma escapatória, sobretudo para os alunos que, à saída do Ensino Básico, apresentam um perfil plausivelmente incompatível com a frequência de Cursos Científico-Humanísticos.

Por vários motivos, poderá ser difícil assumir o anterior e reconhecê-lo, mas na prática, no quotidiano das escolas, acaba por ser essa a crença vigente.

Mas o Ensino Profissional existente nas Escolas Públicas não pode continuar a ser visto como uma via de ensino “enjeitada”, sobretudo destinada aos “perdedores”.

Enquanto subsistir essa convicção, muito dificilmente se poderá valorizar, de forma efectiva, o Ensino Profissional e promover a dignificação que o mesmo merece, sem esquecer que, diariamente, muitos alunos e profissionais de Educação dão o seu melhor, na prossecução de bons resultados.

Sobretudo pela especificidade inerente a qualquer Curso Profissional, não fará qualquer sentido deixar de lado ou ignorar a necessária vocação/aptidão, para a respectiva área de actividade.

No momento actual, e já há vários anos, parece que se inverteu a lógica do Ensino Profissional:

– As imprescindíveis vocações/aptidões tendem, cada vez mais, a serem desvirtuadas e substituídas por outros factores que, na maior parte dos casos, nada têm a ver com escolhas conscientes e intencionais, por parte dos alunos.

O Ensino Profissional não deveria ser isso. A mentalidade não pode ser essa.

Reduzir o Ensino Profissional a um meio pelo qual se cumpre a escolaridade obrigatória e se diminui, artificialmente, o abandono escolar, como muitas vezes acontece, é subverter a sua essência e a sua finalidade…

Há alunos francamente empenhados e motivados nos respectivos Cursos Profissionais e que conseguem obter resultados escolares consonantes com a sua dedicação, mas esses estão muito longe de ser a maioria.

A maioria vai-se arrastando pelos corredores das escolas, uns à espera que chegue a maioridade, outros à espera de alcançar “o mínimos dos mínimos”, comummente designado por “sucesso escolar”…
Mas no fim o que realmente conta e importa serão os dados fornecidos pelas estatísticas oficiais, tantas vezes irreais e enganadoras, traduzidas por taxas de sucesso a rondar os 100%…

O que poderá estar mal nos Cursos Profissionais quando as respectivas taxas de sucesso rondam a plenitude?

Certamente, tudo estará bem quando uma taxa de sucesso ronda a plenitude…

Ou será que não?

Paula Dias

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3 comentários

    • Injustiça on 26 de Novembro de 2025 at 21:52
    • Responder

    Sou a favor do ensino profissional, sempre fui. E até penso que devia ser uma alternativa ao ensino regular a partir do 7° ano. Não temos de ser todos doutores e engenheiros. E como já disse anteriormente nestes cursos não deveria ser lecionado os mesmos conteúdos ou muito parecidos das disciplinas do ensino regular. Este ensino deveria ser uma verdadeira alternativa ao ensino regular. Não é para prosseguir estudos no ensino superior, é para ingressar no mercado de trabalho, por isso as escolas deviam formar pessoas de acordo com as necessidades da zona onde estão inseridas.
    Aja coragem para a mudança.

    • Paula Cardoso on 26 de Novembro de 2025 at 22:49
    • Responder

    Definitivamente, não.
    O Ensino Profissional é o maior dos enganos da educação. O que se assiste nesta área é o que considero uma verdadeira aberração. Faz-se de tudo, menos o que deveria ser feito, ou seja, criar profissionais competentes nas áreas necessárias. A parte técnica que deveria ser a mais importante é escassa. Já teoria e disciplinas pouco necessárias ao desempenho competente dos formandos…enfim…neste país vale tudo em prol das estatísticas que são completamente fraudulentas.

    • João on 27 de Novembro de 2025 at 11:27
    • Responder

    Tá tudo errado com o ensino profissional.
    1) carga horária surreal e disciplinas para encher chouriço
    2) Alunos indisciplinados e que nada aprendem
    3)Passam todos. E os que não passam ( só mesmo os muito, muito mal comportados) serão um presente envenenado para os professores que irão ser “obrigados” a passá-los ou em exames ou em horas da componente não letiva – até à exaustão!
    Não há ponta por onde se lhe pegue.

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