É de manhã e o cenário começa sempre da mesma forma. Antes de o sino tocar já um pequeno nevoeiro se ergue à porta da escola, não vindo do clima mas dos cigarros que alunos de 13 ou 14 anos seguram com a mesma naturalidade com que deviam segurar um caderno. A imagem está tão banalizada que parece quase uma tradição local, como se fumar à porta da escola fizesse parte do currículo nacional.
Portugal não tem falta de leis sobre o tabaco. Pelo contrário, a legislação é clara e abundante. A chamada Lei do Tabaco, a Lei n.º 37/2007 e respetivas alterações, proíbe fumar não só dentro dos recintos escolares, mas também nos seus espaços exteriores. A venda de tabaco a menores de 18 anos é igualmente proibida. Existem ainda regimes contraordenacionais que preveem coimas tanto para quem vende como para quem permite ou não fiscaliza. No papel, o sistema é sólido. Falta apenas a parte mais simples e difícil: aplicá-lo.
Quando se olha para a realidade, percebe-se que a fiscalização é praticamente inexistente. A pergunta costuma ser quem está a controlar estas situações. A resposta, observando o quotidiano, parece ser ninguém. As autoridades, que poderiam atuar, teimam em manter uma presença discreta, quase ausente, como se tivessem recebido instruções para não perturbar o ritual matinal dos cigarros à porta da escola.
As consequências previstas pela lei, que incluem multas, ações de sensibilização e até alguma responsabilização dos encarregados de educação em casos repetidos, raramente saem do papel. São intenções bem escritas mas pouco praticadas. A sensação geral é de que se criou um entendimento informal: os jovens fumam como se fossem adultos, as autoridades fingem que não veem e todos seguem a vida como se esta normalização não tivesse efeitos reais.
O resultado é a transformação de um comportamento ilegal em rotina quotidiana. Quando um aluno do primeiro ciclo acende um cigarro diante da escola e ninguém intervém, a mensagem transmitida é simples: as regras servem para existir, não necessariamente para ser cumpridas. E assim se educa, ainda que involuntariamente, para a ideia de que a legislação é algo decorativo e de que a autoridade existe mais para ser citada do que para ser exercida.
No fim de tudo, é evidente que há falhas generalizadas, mas a falha maior recai sobre quem tinha meios e dever para agir e optou por não o fazer. Não é a lei que falta, não é o conhecimento do problema que escasseia, nem é a inexistência de queixas que explica o fenómeno. É a ausência de presença, de fiscalização, de prioridade. Enquanto os alunos fumam cigarros, parece que as instituições continuam a fumar tempo.

9 comentários
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Na minha escola, sentados no muro onde assenta o gradeamento verde da escola, professores e alunos confraternizam de cigarro na mão. Também há professores que se afastam e se escondem, pois fazem questão de não ser vistos pelos alunos.
Se fosse só tabaco…
Na minha escola e nas outras onde passo digo aos colegas que ” às escondidas” lá fumam num cantinho exterior – Mais uns Minutos se Suicídio, aconselhos a tonatem um compromido, xarope ou chá com nocotina e coloquem a boca nun escaoe de um automóvel.
Na minha escola e nas outras por onde passo digo aos colegas que ” às escondidas” lá fumam seu cigarrito, num cantinho exterior – Mais uns Minutos de Suicídio. Aconselho-vo s a tonarem um comprimido, xarope ou chá com nicotina ao mesmo tempo que coloquem a boca nun escape de um automóvel.
Ora, ora, há coisas bem piores! Tanto fundamentalismo!
Fumam à porta da escola alunos, professores e também direção.
E se parassem de querer impor regras bacocas a toda a gente? Não seria melhor fazer menos joguinhos e esforçarem-se para ensinar mais? Ou ser duros, isso sim, com os comportamentos gunisticos dentro da escola?
E os diretores das escolas servem para quê?
Para estar no gabinetes a cumprir serviço de burocrata e a preparar webinares para apresentarem nos palcos do ZOOM, não é?
Palcos, os diretores adoram a pedagogia do palco, não é a do fumanço e outras estupidezes praticadas dentro e fora das suas escolas. Diretor feliz, ofereçam-lhe um palco para botar faladura. Hipócratas vaidosos.
Este post apenas refere alunos de 13 e 14 anos porquê?