Num tom reflexivo e irónico, Manuel António Pina, falou-nos da chegada da televisão à sua sala de jantar. Sobre a forma que viu as relações familiares mudarem, violando as relações a que a família estava habituada. acabando com a partilha do dia a dia à hora da refeição, momento em que a união devia estar presente.
De nada serviu o aviso. Hoje as mesas de família estão vazias, mesmo cheias de gente, as casas tornaram-se lugares de solidão, onde a distância de um metro pode parecer de milhares de quilómetros.
(à maneira de Manuel António Pina)
Já não é preciso sair de casa
para estar longe.
Basta olhar para baixo,
onde o mundo inteiro cabe
e ninguém cabe ao nosso lado.
As conversas têm luz azul
e o silêncio, rede.
Os filhos enviam corações
aos pais que estão na sala,
sem saberem o que fazer com os de verdade.
À mesa, comem juntos,
cada o seu mundo na mão.
Os olhos mastigam imagens,
as mãos deslizam sem tocar no que se senta ao seu lado.
Os amigos têm filtro de felicidade
mas nem se conhecem na realidade.
Os risos são emojis
que não fazem eco no ar da casa.
No fim do dia,
quando a noite se apaga nos ecrãs,
fica o reflexo:
cada um iluminado pela sua solidão,
com o mundo inteiro à distância
e o coração vazio, oco.

2 comentários
As mesas de família estão tão vazias que ninguém se lembra de incutir o espírito de trabalho, de esforço, de responsabilidade e de respeito aos seus educandos, preocupando-se muito mais em estar atentos a qualquer vislumbre de queixa para, no dia seguinte, ir em correria apresentar uma reclamação ao Diretor e ainda a Deus Nosso Senhor, aqui D’el Rei, que os direitos mais elementares da sua criança não estão a ser respeitados, esquecendo-se que um dos mais fundamentais falhou logo à mesa do jantar…mais valia terem continuado sentados.
E aquelas pessoas que reclamaram porque se resolveu proibir os telemóveis nas escolas?
Já concordam com o texto publicado?
Não dizem nada?
Hipócritas.