A Tutela da Escola Pública costuma ser useira e vezeira na arte de protelar muitos dos pagamentos devidos aos respectivos trabalhadores…
Em gíria popular, a Tutela da Escola Pública poderia até ser designada como um eventual “caloteiro”, no sentido em que a liquidação de dívidas lhe tem que ser lembrada muitas vezes, inúmeras vezes, até que tudo o que é devido seja efectivamente saldado…
Em gíria popular, também parece que, às vezes, os trabalhadores da Escola Pública acabam por funcionar como putativos “fiadores” da Tutela, na medida em que o seu trabalhocontinua a ser exercido, mesmo sem ser devidamente remunerado, nomeadamente quando existem determinadas progressões nas respectivas Carreiras que demoram muito tempo até serem concretizadas em termos de vencimento…
Resumindo, a Tutela costuma ser um mau pagador, uma espécie de devedor crónico, tantas são as vezes em que se espera e desespera para se poder usufruir daquilo que é de cada um, por direito próprio…
Neste momento, haverá um número significativo de elementos do Pessoal Não Docente, nomeadamente Psicólogos, tutelados pelo MECI e integrados na Carreira de Técnico Superior, que esperam há mais de meio ano pela actualização do respectivo vencimento, por via do SIADAP…
A autorização de cabimento de verba do MECI/IGeFE tarda em chegar aos Serviços Administrativos dos Agrupamentos de Escolas, e à luz das informações disponíveis, não é possível compreender nem aceitar este clamoroso atraso…
O reconhecimento e a valorização do trabalho dos Psicólogos, tão apregoados pela própria Tutela em diversas ocasiões, cai por terra, torna-se num discurso oco de real significado, quando se constata que, na prática, nem sequer se cuida de pagar atempadamente aos profissionais que estão no activo aquilo que é seu por direito próprio…
De que adiantam discursos oficiais, como o que se encontra no Portal do Governo desde 14 de Agosto de 2025, a perorar pelo enaltecimento do trabalho dos Psicólogos:
– “A necessidade de promover a saúde mental, de prevenir o insucesso escolar, de apoiar alunos com necessidades especiais e de melhorar o bem-estar de toda a comunidade educativa, contribuindo para ambientes mais inclusivos, seguros e propícios à aprendizagem e ao desenvolvimento integral dos alunos, impunha dotar todas as escolas de, pelo menos, um psicólogo no seu mapa de pessoal”;
– “Os Psicólogos têm sido essenciais na criação de ambientes acolhedores e inclusivos, que apoiem os alunos no desenvolvimento de competências pedagógicas sólidas, mas também de competências sociais e emocionais, ajudando a construir relações saudáveis nas comunidades educativas”;
– Ou, ainda, “Após a realização do concurso de vinculação, o rácio médio será de 1 psicólogo nos quadros por cada 711 alunos, quando atualmente é de 1/1 472 alunos”…
O mais irónico disto tudo é que o mesmo Governo que se constitui como o exemplo paradigmático daquilo que é um mau pagador, tanto dos Professores (por exemplo, no que concerne às horas extraordinárias e ao apoio à deslocação) como dos Psicólogos, é o mesmo que instituiu a vertente de “literacia financeira” na Disciplina de Cidadania e Desenvolvimento…
Irónico também é o facto de, no momento presente, existirem Psicólogos com rácios que englobam mais de 2.000 alunos…
Será caso para considerar: “Que bem prega Frei Tomás!”…
Já aqui escrevi uma vez que os Psicólogos também são gente, também choram, também riem, também se indignam, não são sempre serenos e tranquilos, também se irritam, também se enfurecem e até vociferam impropérios, não têm que ter a paciência de um Santo, nem aspirar à perfeição de um Anjo…
Neste momento, parece-me que existirão muitos Psicólogos com motivos para estarem francamente indignados com aqueles que tutelam o exercício das suas funções no contexto da Escola Pública…
Sou Psicóloga. Não sou mendiga. Não ando a pedir esmola.
Não quero ser obrigada a mendigar por um cabimento de verba, que permita a progressão na Carreira de Técnico Superior e o respectivo vencimento que, diga-se, me são devidos pela Lei em vigor…
Só quero que a Tutela cumpra um dos seus deveres fundamentais:
– Pagar vencimentos de acordo com a Lei vigente, no respeito e no cumprimento dessa Lei.
Por vários motivos, e não apenas pelo presente, estoufrancamente cansada, e enjoada, de discursos oficiais que frequentemente redundam na ilusão e em promessas não cumpridas…
Paula Dias

1 comentário
Os psicólogos só têm de fazer um pouco de “autorregulação”, “monitorização” e “capacitação” que o dinheiro logo aparece na conta!