13 de Novembro de 2025 archive

As casas das nossas crianças estão vazias de tudo…

Num tom reflexivo e irónico, Manuel António Pina, falou-nos da chegada da televisão à sua sala de jantar. Sobre a forma que viu as relações familiares mudarem, violando as relações a que a família estava habituada. acabando com a partilha do dia a dia à hora da refeição, momento em que a união devia estar presente.

De nada serviu o aviso. Hoje as mesas de família estão vazias, mesmo cheias de gente, as casas tornaram-se lugares de solidão, onde a distância de um metro pode parecer de milhares de quilómetros.

(à maneira de Manuel António Pina)

Já não é preciso sair de casa
para estar longe.
Basta olhar para baixo,
onde o mundo inteiro cabe
e ninguém cabe ao nosso lado.

As conversas têm luz azul
e o silêncio, rede.
Os filhos enviam corações
aos pais que estão na sala,
sem saberem o que fazer com os de verdade.

À mesa, comem juntos,
cada o seu mundo na mão.
Os olhos mastigam imagens,
as mãos deslizam sem tocar no que se senta ao seu lado.

Os amigos têm filtro de felicidade
mas nem se conhecem na realidade.
Os risos são emojis
que não fazem eco no ar da casa.

No fim do dia,
quando a noite se apaga nos ecrãs,
fica o reflexo:
cada um iluminado pela sua solidão,
com o mundo inteiro à distância 
e o coração vazio, oco.

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