A actual Carreira Docente já não tem conserto: é preciso terraplanar e voltar a construir…

 

O resultado mais óbvio dos muitos malabarismos, ilusionismos, manigâncias e contorcionismos exercidos pela Tutela ao longo dos últimos anos sobre os Professores e contra a respectiva Carreira, conducentes a clamorosas desigualdades e injustiças, é este:

– A actual Carreira Docente já não tem conserto…

Podem dar-se muitas voltas e podem fazer-se muitas tentativas de remendar o que está mal, mas a verdade é esta, neste momento:

– A actual Carreira Docente encontra-se em frangalhos e irrecuperável;

 Já não há margem para qualquer coerência, unidade, equidade ou justiça numa Carreira, cujas virtudes muito dificilmente alguém reconhecerá…

A Carreira Docente é actualmente afectada por roubos, quotas, afunilamentos, vinculações, reposicionamentos, concursos, travões, progressões, ultrapassagens, acelerações, congelamentos, avaliações de desempenho e mais um infindável número de outras complicações e perplexidades…

A Carreira Docente transformou-se num emaranhado tão grande de procedimentos burocráticos confusos e tortuosos que até os próprios Professores têm, por vezes, dificuldades em compreender e dominar tais “obscuridades”…

Em resumo, a actual Carreira Docente, apresenta-se como um “puzzle” composto por fragmentos e peças impossíveis de combinar ou encaixar e, portanto, irresolúvel, onde já não é possível repor a equidade e a justiça, sonegadas ao longo dos últimos anos…

E, chegados a esse ponto, já só existirá uma solução para tal problema:

– Arrasar a actual Carreira Docente, que se encontra em ruínas, e definir uma nova Carreira…

Mas arrasar a actual Carreira Docente tem que significar e implicar, em primeiro lugar, esquecer todos os critérios de progressão que não sejam o tempo de serviço de cada Professor…

Será esse o único critério capaz de, no presente, anular, ou pelo menos mitigar, as injustiças e as iniquidades actualmente existentes, ainda que, e mesmo assim, seja impossível o ressarcimento pelos eventuais danos sofridos ao longo dos últimos anos…

Por outras palavras, num primeiro momento, a utilização do critério tempo de serviço terá que prevalecer sobre qualquer outro, permitindo o reposicionamento de todos os Professores no Escalão a que teriam direito, de acordo com o respectivo tempo de serviço…

Em segundo lugar, e depois do reposicionamento anterior, conceber uma nova Carreira Docente, que disponha de mecanismos de progressão que não sejam inquináveis por injustiças, iniquidades e “obscuridades”, como por exemplo o actual modelo de Avaliação de Desempenho Docente…

Continuar uma construção, cujos alicerces e fundações se encontram podres, é correr o sério risco de desmoronamento ou de colapso do edifício…

E a prova do anterior é que os remendos que foram sucessivamente aplicados ao longo dos últimos anos na Carreira Docente ou serviram para introduzir ainda mais injustiças ou para disfarçá-las, ou então serviram como meros paliativos, face a uma enfermidade potencialmente fatal…

Nunca tais remendos se mostraram capazes de induzir a paz nas escolas, pela instauração da justiça, da equidade e do equilíbrio na Carreira Docente…

E porque a actual Carreira Docente já não tem conserto, há que, em primeiro lugar, terraplanar, extinguir, para só depois voltar a construir…

Talvez seja essa a única forma de contrariar o desânimo, a tristeza e a desmotivação que vão consumindo e tomando conta de uma classe profissional numerosa, reiteradamente desrespeitada e humilhada ao longo dos últimos anos…

Talvez também seja essa a única forma de atrair e de angariar candidatos a Professores…

Uma Carreira inquinada, em fragmentação, reduzida a pedaços sem nexo, pejada de injustiça e impossível de harmonizar, dificilmente seduzirá novos membros, nem satisfará os que já lá se encontram…

 

Paula Dias

 

 

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10 comentários

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  1. “Miranda Sarmento acusa Medina de aprovar 2,5 mil milhões de despesa não orçamentada” Fonte: https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/miranda-sarmento-acusa-medina-de-aprovar-25-mil-milhoes-de-despesa-nao-orcamentada

    Ainda não entenderam a velha estratégia do “não há dinheiro”?

    Os professores continuam a cair que nem patos !!!

      • Anonimous on 8 de Maio de 2024 at 11:15
      • Responder

      Conversa para boy dormir e ganhar pontos na hierarquia do partido.
      Será que a anterior oposição foi incompetente e não viu isso acontecer?
      Tretas.
      Enganaram os votantes.
      Ou arranjam maneira de cumprir seriamente o prometido, ou perdem de vez a credibilidade que já era pouca.
      As pessoas estão a ver e a sentir.
      Se forem defraudadas mais uma vez, como os anteriores fizeram, não esperem calma e mais votos. Restará o que desde há alguns anos se vê. O crescimento dos radicalismos. Se calhar é o que querem. Estão minados por dentro.

  2. Concordo. Desde a Maria de Lurdes Rodrigues foram ultrapassagens, os reposicionamentos, a ADD que quase nunca premeia os melhores, mas sim os “amigos”, as ultrapassagens, etc, etc, etc. Neste momento temos muitos, mesmo muitos docentes mais graduados e com muito mais tempo de serviço atrás de outros com menos graduação e menos tempo de serviço. É uma falta de justiça e de equidade gritante. Há que “terraplanar” este ECD e colocar os docentes no patamar a que têm direito.

  3. Não é necessário terraplanar a Carreira Docente.
    Tal implicaria mais invenções, mais experimentos que têm dado invariavelmente para o torto.
    A solução é simples:
    Repor a Carreira tal como estava antes das alterações introduzidas pelo Governo de Sócrates em 2011
    O anterior ECD não tinha nada disto das vagas de acesso e o modelo de avalição era muito mais simples e justo.
    E é claro, no imediato reposicionar todos os docentes no escalão a que têm direito, consoante o seu tempo de serviço.
    O maior problema é que não se pode confiar no maior empregador que é o Estado, a qualquer momento resolve mudar a carreira e muda sem qualquer pudor e sempre com objectivos economicistas.
    O Governo no seu OE gasta dinheiro em coisas menos importantes que a Educação e os salários dos Docentes.
    Isto a par de agressões por parte dos EE, desvalorização da carreira, perda poder de compra, excesso de trabalho, indisciplina, diretores que mais não são que autarcas.
    Tal não incute confiança em ninguém para investir nesta carreira.

    • Mariana on 8 de Maio de 2024 at 15:24
    • Responder

    O problema está nas Direcções que não querem sair do poleiro, a falta de Democracia nas escolas, os normativos das eleicoes dos órgãos de gestão e o ambiente que se criou em torno disto tudo. Temos de andar de ” bola baixa” ou então somos postos de lado, temos os piores horários, as piores turmas e a ADD a correr mal.

  4. Só um exemplo do que representa a ADD na prática e as aulas assistidas, ora um professor que vai ser avaliado e com mais qualificações que o avaliador, acaba por receber deste último uma avaliação de “Suficiente” e e e… Como é possível ser-se avaliado por gente que de certa forma que não teve a mesma formação, não compartilha dos mesmos pontos de vista quanto à forma de ensinar, como pode este avaliar de forma imparcial? Não pode! E mais uma vez, a ADD é uma farsa e tem prejudicado muitos docentes e jamais devia ser requisito para subir de escalão. Mudar de escalão devia ser automático de 3 em 3 anos sem favores!

      • Francisco L on 8 de Maio de 2024 at 23:47
      • Responder

      Como aliás é prática em muitos colégios privados.
      Lá, e muito bem, a ADD só serve para atribuir prémios pecuniários no final do ciclo avaliativo. Mas independentemente disso, os docentes transitam para o escalão seguinte.
      É um ambiente livre de invejas doidas, de “matanças” psicológicas e de desgastes emocionais, que de nada servem o propósito de uma escola.
      É também por isso que depois há ótimos resultados. Não é por acaso.

    • Unknown on 8 de Maio de 2024 at 22:13
    • Responder

    É ideia sempre foi essa, com uma ressalva. Tudo passa por terraplanar, voltar a construir não está nos planos.

  5. O que será mais justo e eliminador das injustiças e problemas que as mudanças loucas começadas com Maria de Lurdes Rodrigues provocaram, com a consequente desmotivação e desnorte dos professores, é realmente o posicionamento de cada um no escalão em que deveria estar se não tivessem havido congelamentos.
    Por muito que custe, este seria o princípio em grande para que a Educação em Portugal entrasse de vez nos eixos, e pudesses ultrapassar uma página muito negra na Educação e formação dos nossos jovens.
    Assim o queiram e falam por isso os portugueses, e assim o ponham em prática os políticos! Mas para isso vão mesmo ter de ser obrigados pelo povo, porque não vejo que por si mesmos o queiram minimamente.

    • FrankieAT on 10 de Maio de 2024 at 12:30
    • Responder

    “A Carreira Docente transformou-se num emaranhado tão grande de procedimentos burocráticos confusos e tortuosos que até os próprios Professores têm, por vezes, dificuldades em compreender e dominar tais “obscuridades”…”

    Até os próprios professores? Amiga, os professores raramente sabem alguma coisa sobre a sua carreira que não seja perguntar quantas horas de formação tenho, quantas tenho de ter, quando progrido, blá blá. E isso tudo quem tem que saber são os tristes dos ATs nas secretarias das escolas, sem qualquer (in) formação legal sobre uma matéria extremamente complexa e com as Direções a assobiar para o lado.

    Tem muita razão: è preciso arrasar com esta Carreira Docente e iniciar uma nova. O maior problema: os professores não vão aceitar uma única proposta porque é preciso alimentar o status quo

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