Portugal: um país cada vez menos dos portugueses

Portugal: um país cada vez menos dos portugueses

 

Se queremos um país que seja dos portugueses e para os portugueses, não basta criticarmos quem governa à mesa do café. Temos de mostrar discernimento, espírito crítico, temos de votar em consciência.

 

Com as eleições no primeiro trimestre de 2024, impõe-se a cada um dos portugueses uma reflexão necessária sobre o país que temos e o país que queremos para o futuro. E a primeira questão que se destaca é a seguinte: queremos um país para os portugueses ou continuar a caminhar a passos largos para que vivamos num território de discrepâncias, apenas apetecível a quem vem de fora para cá?

O panorama com que hoje nos deparamos em nada vai ao encontro de uma melhoria do nível de vida da população portuguesa. Pelo contrário, os salários não acompanham a inflação e, como é do conhecimento geral, a compra de habitação apresenta preços cada vez mais incomportáveis, assim como as rendas, impossíveis de pagar para quem vive de um salário mínimo ou algo quase equivalente. A verdade é que as casas e apartamentos vão sendo efetivamente vendidos e é igualmente difícil encontrar um para alugar, sendo que os que existem apresentam uma renda de valor mensal exorbitante. Quer isto dizer que quem tem poder de compra são apenas uma parte dos portugueses mais enriquecidos e estrangeiros que para cá vêm viver ou que investem em imóveis no nosso país.

Simultaneamente, se olharmos para dois pilares da nossa sociedade, a educação e a saúde, facilmente percebemos a crise que se gerou e que se está a adensar nestas áreas. A educação foi tão maltratada que há cada vez menos jovens que almejam vir a ser professores. O mesmo se passa com a saúde. São cada vez em menor número aqueles que querem estudar medicina e, por outro lado, os médicos que temos no Sistema Nacional de Saúde, dadas as fracas condições remuneratórias e de trabalho que lhes são disponibilizadas, estão a movimentar-se gradualmente para o setor privado.

Basta uma ida ao supermercado para percebermos como os custos dos bens necessários ao nosso quotidiano aumentaram desproporcionalmente em relação à subida de salários, o que faz com que poupar algum dinheiro ao fim do mês seja cada vez mais difícil, não sobejando sequer alguma quantia para extras que, há anos atrás, eram de fácil acesso à classe média, como comer num restaurante, comprar roupa ou adquirir um bilhete para um espetáculo. Podemos mesmo afirmar que a classe média está a desaparecer e, aos poucos e poucos, teremos um país de cada vez mais discrepâncias, com um maior nível de pobreza e marginalidade. No fundo, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

Este descontentamento social não pode, contudo, levar-nos a não comparecer às urnas, nas eleições que se avizinham. Pelo contrário, é hora de tomarmos as rédeas da situação e de intervirmos de forma ativa no futuro de Portugal. Para tal, é necessária uma reflexão sobre todos os candidatos e programas eleitorais, de modo a que cheguemos a uma decisão ponderada e não fruto de um impulso de revolta, pois se não estamos bem, podemos ficar pior se não tomarmos a decisão mais acertada.

Se queremos um país que seja dos portugueses e para os portugueses, não basta criticarmos quem governa à mesa do café. Temos de mostrar discernimento, espírito crítico, temos de nos informar com base em fontes fidedignas e, acima de tudo, temos de votar em consciência. Lembremo-nos de que não nos poderemos queixar de uma decisão na qual não participámos.

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4 comentários

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    • Pedro Augusto on 7 de Dezembro de 2023 at 18:22
    • Responder

    Gostava de saber o que se entende por portugueses. Brancos? Homens? Não sei. Depois: o que tem a subida dos preços a ver com os imigrantes? Porque há vários tipos de imigrantes: os ricos e nómadas digitais, que, esses sim, participam na inflacção; os pobres de trabalho precário que “limpam o rabo” existencialmente aos brancos burgueses e aos mesmos imigrantes endinheirados. Parece-me populista estar a relacionar os dois conceitos. Mas se calhar é isso que se pretende neste blogue, não é? PSDeirizar a percepção, uma PSDeirização cada vez mais chegófila. Lamento a cegueira.

      • Tomalá on 8 de Dezembro de 2023 at 16:38
      • Responder

      E o que é que o PSD tem a ver com isso? Também é daqueles ligados ao “regime cor de rosa” que pretendem confundir PSD com Chega, para tirar dividendos, como Costa fez nas últimas eleições chegando à maioria absoluta (vulgo porder absoluto para os compadrios e favorecimentos a amigos)?

      • AC on 10 de Dezembro de 2023 at 15:39
      • Responder

      Também pergunto: o que tem o PSD a ver com o início do seu comentário? O que se deve questionar é o que está no pensamento da cronista quando fala em “portugueses”. A quem se refere? Quem inclui nesta “categoria”?
      Nota: nunca votei nem votarei PSD.

    • Mic on 9 de Dezembro de 2023 at 19:44
    • Responder

    Portugal poderia aceitar imigrantes mas de forma controlada, tanto em número como em espécie, tentando impedir a entrada de malfeitores, gente mal formada e chupitas do sistema. Já a minha avó dizia: “Quem tem pena, se despena…”

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