O pior é dar-lhes ideias mesmo se as ideias já estão lá e todos se coíbem de dizer o indizível: a redução das férias estivais para professores e funcionários.
Esta é a proposta dos trabalhistas, e sublinho trabalhistas, à frente da Assembleia Nacional do País de Gales cujo intuito é o de retirar semanas e descanso às férias de Verão e distribuir as mesmas semanas ao longo do ano escolar.
Se no princípio passaríamos de 6 semanas de férias para 5 semanas, a longo prazo as mesmas 5 semanas dariam lugar apenas ao mês de Agosto.
Um dos motivos? O custo das creches, maioritariamente privadas e a rondar as 15 mil libras anuais, cerca de 42 mil libras em Londres, por criança. É caso para perguntar para onde foram e para quando um sistema de creches públicas?
Sim, num dos países mais desenvolvidos do mundo um dos elementos do casal, a maioria mulheres, é comummente obrigado a ficar em casa para detrimento da economia familiar e nacional até as crianças atingirem a idade escolar e o acesso ao ensino universal e gratuito.
Para quê o desenvolvimento quando o desenvolvimento favorece apenas alguns, os minoritários, em nome de uma das maiores desigualdades económicas da Europa?
Outro motivo para a redução das férias escolas está directamente relacionado o apoio aos alunos com necessidades educativas e/ou de meios desfavorecidos, ou seja todos e todos os meios são desfavorecidos se o Reino Unido está entre os países da OCDE no fim da lista do investimento público.
Ou seja, a casa está construída a partir do telhado quando para combater a desigualdade social se reduzem as férias escolares num passa a culpa em linha com décadas de gestão liberal e desregulada e quem o diz, mais uma vez repito, são os trabalhistas do País de Gales.
Com amigos destes, não precisamos de inimigos.
As escolas como depósitos de crianças enquanto cortes orçamentais de décadas fecham centenas de centros de juventude e concomitantes equipas de intervenção social e a culpa da falta de oportunidades e respectivas experiências intrínsecas e indissociáveis das férias escolares é portanto das escolas e do seu calendário quando o calendário existe para das às crianças essas mesmas experiências, outrora presentes não fossem as mentalidades governativas cogitar de outra maneira.
Conclusão: a extensão do ano escolar não está directamente relacionada com a redução da desigualdade social quando para criar uma criança é mesmo preciso uma aldeia e a aldeia carece de apoio governamental.
Se tivermos em conta a necessidade anual de 100000 professores no Reino Unido, lamento informar ser a redução das férias estivais um mau chamariz numa profissão já há muito com dificuldade em recrutar elementos para os seus quadros.
Por alguma razão aqui me encontro a par com tantos outros conterrâneos impossibilitados à data de ensinar por terras lusas.
Isto para não falar no óbvio e directo atentado aos direitos laborais quando a intenção é a da eliminação e não redistribuição dos períodos de descanso e no fim o trabalhador tem apenas e somente direito a trabalhar.
E o professor apenas o direito a ensinar. E de caminho organizar campos de férias pela mesma paga.
O voto de saída da União Europeia, não tenhamos dúvidas, veio de facto dar a liberdade de decidir por si não quem nesta terra habita mas quem a dirige e por aqui se vê o ouro agora nas mãos do bandido.
Primeiro vieram buscar os professores e eu calei-me porque eu não era professor…