Numa altura em que ainda se fala da perda de aprendizagens devido à pandemia, narrativa essa que, sinceramente, começa a ser ridícula, gostaria de chamar à atenção para uma questão que, essa sim, prejudica as aprendizagens há anos: a indisciplina.
A preocupação com a indisciplina em meio escolar, e dentro da sala de aula, tem sido crescente entre os professores, mas não tem tido a proporcional preocupação por parte dos decisores políticos.
A indisciplina e a perda das aprendizagens
No passado, a autoridade dos professores era incontestável e com esse facto conseguia-se criar um ambiente de respeito e seriedade na maior parte das escolas. Hoje, vemos a autoridade do professor posta em causa por todos, dentro ou fora da escola.
Uma das principais causas é a educação excessivamente permissiva por parte dos pais. Quando eu frequentei o ensino básico e secundário ouvia todas as manhãs a minha mãe dizer-nos, a mim e aos meus irmãos, que não queria queixa dos professores relativamente ao nosso comportamento. Esta consciência parental existente na época, frequentei o básico e o secundário entre 1986 e 1998, tinha como principal consequência o facto de nas escolas haver muito menos casos de indisciplina dentro e fora da sala de aula. Obviamente, sempre houve alguma indisciplina, mas a maioria dos estudantes eram conhecedores dos seus limites. Havia uma consciência social da autoridade dos professores e encarava-se a escola com maior seriedade. A escola era para aprender, se quiséssemos ser alguém no futuro. Era a única saída para muitos alunos que queriam ascender socialmente. E os pais tinham essa noção.
Claro que também é verdade que, nessa mesma época, a autoridade com que muitos professores geriam as suas aulas e se relacionavam com os alunos, usando o medo como arma “pedagógica”, não deixa saudades. E por essa razão, ninguém lá quer voltar!
Mas questiono-me com frequência se teremos sabido fazer a transição entre esses abusos e o laxismo e a indisciplina que nos dias de hoje assolam a Escola Pública, prejudicando as aprendizagens bem mais do que a pandemia?
Não digo que o caminho não devesse ser feito, tenho pena é que hoje a perceção é a de que se passou do oito para o oitenta.
Não me recordo de naquela época ver e ouvir casos de agressões de alunos a professores, casos de pais ou encarregados de educação a agredirem professores.
Os professores tinham uma imagem valorizada e prestigiada socialmente, eram vistos como autoridade nas escolas, eram respeitados pela grande maioria e quem não respeitava sentia-se mal porque as suas atitudes eram, a maior parte das vezes, condenadas pelos próprios colegas. Hoje, esse desrespeito começa pela própria tutela e propaga-se pela sociedade acabando nos pais, que muitas vezes começam o dia com mensagens completamente erradas quanto à forma e ao conteúdo.
14 comentários
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Esse sim, a indisciplina, o verdadeiro cancro do estado em que se encontra a escola pública. A sua qualidade de ensino e o seu descrédito tudo devido à permissividade que grassa no campo da indisciplina. Nada se faz sobre esta realidade que eduque pais e alunos.
Alunos e pais é que mandam, pois os pais é que votam, claro!
Programas, esses estão todos mais do que recuperados. Os professores sabem como o fazer muito bem, desde que lhes concedam o tempo necessário.
Haja disciplina dentro da sala de aula e 50 minutos de aula podem render , mais 20 .
Implementem-se as penalizações a sério e a indisciplina em pais e alunos desaparecerá e a qualidade do ensino na escola pública será em pleno e de excelência.
Não basta o professor querer, é preciso o aluno saber estar e ter a certeza que não pode perturbar!
Concordo e subscrevo a 100%. Não é por acaso que Singapura e Japão estão em evidência no sucesso das aprendizagens no PISA. Nesses países há respeito nas escolas e a falta do mesmo é motivo de vergonha.
A indisciplina é o resultado do desrespeito pelos professores, corporizado em salários de mrd, em roubo de tempo de serviço, em ultrapassagens, em exigência de tarefas que nada têm a ver com a docência, e na mal dissência dos governantes em relação aos professores, como se tem visto desde o “reinado” de Socretino e Milú a bovina.
E nada mais acrescento belo texto .
Concordo em pleno!
No Japão qualquer professor é venerado. Um professor é um mestre!
Mas já viram o que seria por cá, se um professor fosse venerado e um polico não?
Aleluia!! Alguém fala da indisciplina!!! O verdadeiro problema!!
Dá ideia que tudo corre às mil maravilhas!! Parece que é um tema tabu!!
Só pelo facto de os resultados não serem públicos, a ADD deveria criar repulsa a todos.
https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=abolir-add
Proponho a abolição da Avaliação de Desempenho Docente (ADD).
Só posso concordar. Deve começar-se por resolver esta questão como condição prévia à melhoria, absolutamente necessária, das aprendizagens dos alunos. Claro que, este, não é um problema desligado de tantos outros de que a escola padece.
Concordo com tudo aquilo que foi dito mas infelizmente daquilo que vejo a classe docente é pouco unida de modo que a maioria dos colegas camufla a indisciplina que existe na sua sala de aula receando que os colegas julguem que a mesma se deve à falta de pulso e estratégias do professor em causa. Chegamos às reuniões de avaliação e quando se faz uma análise do comportamento da turma, há um corajoso que tem a dignidade de dizer a realidade tal como ela é, mostrando-se preocupado e de imediato vem outro e diz Ah, mas eles comigo comportam-se bem, trabalham bem, nem podia ser de outra maneira. Alunos de 3 ciclo que não sabem ler, escrever, interpretar e não apresentam qualquer tipo de autonomia. Perante a intervenção do super professor o resto do conselho de turma cala-se…. É isto, pura hipocrisia… Depois quanto à aquisição das aprendizagens bem sabemos que com indisciplina, desinteresse, faltas de respeito para com o professor, ficam comprometidas, mas o que é certo é que depois já agora no final do primeiro período aparecem mas avaliações positivas do que negativas. Coitado do professor que tem de justificar o elevado número de negativas, arranjando justificações que parece que o problema vem dele quando a justificação é bem simples, a indisciplina.
É urgente os professores serem uma classe unida e lutarem pela dignificação da classe docente. Respeito e autoridade é essencial!
Eu na minha sala de aula faço por que me respeitem, quando me dizem coisas que me soam a ameaças respondo à altura, exijo e dou negativas quando tenho de as dar e são muitas infelizmente e muito poucas positivas.
É que venha alguém chamar-me à atenção porque faço de tudo para cumprir o meu papel com rigor, agora para dançar o tango são sempre precisos dois.
Estamos no ensino de faz de conta.
As aprendizagens não são adquiridas e a quase totalidade dos alunos transita. Uma vergonha!!
É verdade. A culpa é de todos. Porque se todos desempenhassem os seus papéis com verdade e justiça perante os alunos que são exemplares que são poucos ou raros, tudo funcionária bem melhor. Todos teríamos a ganhar e ninguém poderia retirar- nos a razão.
Tudo não passa se uma grande farsa, este é o estado do ensino.
Pois, para ser desrespeitado e agredido, qual o jovem que quererá vir para esta profissão?
Se os nossos legisladores e governantes tivessem que passar por metade do que um docente passa, tudo mudaria imediatamente (a começar pela reforma antecipada…).
Olhando para o futuro, é imperativo implementar estratégias que promovam um ambiente educacional saudável. Investir em formações para professores sobre gestão de comportamento, promover programas de educação emocional e criar parcerias com famílias são passos essenciais. Além disso, é crucial desenvolver medidas preventivas, como o envolvimento em atividades extracurriculares, que contribuam para o crescimento integral dos alunos.
A colaboração entre escolas, comunidades e entidades governamentais é fundamental para criar um sistema educativo mais resiliente, onde a disciplina seja uma parte integrante do desenvolvimento acadêmico e pessoal dos estudantes.
Sem dúvida. A generalidade dos alunos não está a aprender pois aprender implica estruturação MEDIATA de conhecimento.
Ora, os seus cérebros, formatados pelo uso de dispositivos tecnológicos, apenas TOLERAM captar conhecimentos imediatos que, no fundo, têm apenas caráter de informação.
E, claro, a indisciplina também está ligada a este modus operandi do cérebro, juntamente com a desautorização que as famílias demonstram em relação à escola, à universidade, aos clubes desportivos, etc.
É urgente debater estes assuntos e avançar com propostas: algo vai mal quando constatamos que um dos principais requisitops do professor passou a ser o controlo emocional…
As Direções têm de ser mais assertivas e firmes, estabelecendo limites a alunos e famílias, sem medos ; os docentes têm de ser mais unidos e solidários e chegar a protocolos comuns de tratamento da indisciplina, dos quais não se poderão desviar um milímetro; as sanções têm de ser efetivamente propostas a todo e qualquer ato de indisciplina.