A heroica resistência dos professores
O que vemos, ouvimos e lemos traz-nos o retrato de um país enleado no desgoverno de líderes e decisores que, em seus atos desorientados, vêm ensombrar os horizontes de esperança que um novo ciclo de oportunidades vinha alimentando. Portugal, assim, mais parece um país-caravela, que navega à deriva em águas turbulentas, na busca, desesperada, de uma âncora que quanto mais se deseja mais ela tarda.
Pior que tudo ainda é assistirmos à destruição dos seus alicerces: a educação. É vergonhoso o trato a que está sujeita uma das classes profissionais mais imprescindíveis do país. A desautorização, o desrespeito, a humilhação, nas escolas e na sociedade, o congelamento de carreiras, as estranhas regras de mobilidade, a terrível burocracia a recair sobre os professores, as turmas e horários sobrecarregados, a violência impune nas escolas vêm tornando o exercício da profissão de professor uma verdadeira tortura, não se vislumbrando, malgrado a profusão de greves e manifestações, sinais animadores de compreensão e justiça por parte de quem tem o poder de governar e decidir.
Ainda assim, os professores conseguem fazer milagres, ser inventivos, contrariando as desventuras de um sistema que lhes retira direitos de ano para ano, de um sistema inibidor do entusiasmo e da criatividade. E continuam a obter resultados, a plantar sorrisos entre as crianças, a abrir rumos de esperança no seio dos jovens.
Queiramos que, neste malbaratar de oportunidades e de bom senso, haja ainda uma réstia de decoro, e que a heroica resistência dos professores, com tantos sacrifícios já sofridos, permita, finalmente, recuperar a paz e a esperança de que a educação em Portugal tanto carece. E convençamo-nos de que se ainda há esperança para Portugal, ela está na educação.
*Escritor e jornalista
4 comentários
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Bem haja!
É tudo isso!!…
Apelo ao sr. Presidente da República para não promolgar a legislação que o governo quer fazer passar sob a capa de “Acelerador de progressão na carreira”, por constituír uma profunda injustiça e desrespeito pelos professores, sobretudo pelos seguintes:
– os que entraram a 01/09/2005, e que, por isso, têm 6 anos, 6 meses e 24 dias de congelamentos para recuperar, mas que, por força desta legislação, não poderão benefeciar dos “aceleradores” que eliminam as vagas aos 5.º e 7.º escalões;
– os que, por motivo de doença, tiveram mais de 30 dias de faltas durante o período dos congelamentos, devidamente justificadas medicamente.
Estes, que na sua maioria, são a geração entre os 40 e os 50 anos, e, por isso, os que ganham menos por estarem em posições remuneratórias baixas, serão eternamente prejudicados na sua carreira, não indo nunca passar do 4.º escalão, numa carreira impossível de 10 escalões.
A acrescer a este facto, como ganham menos descontam menos para a sua reforma, indo, por isso, ganhar muito menos do que os seus colegas que apenas tiveram a circusntância de entrar uns meses antes de si para a mesma profissão e para o mesmo “patrão”.
Aceitar esta lei, que, ainda por cima, vem diminuir as vagas aos 5.º e 7.º escalões para estes docentes, tornando praticamente impossível a subida ao 5.º escalão, é condená-los à miséria eterna. É atirá-los para a única saída possível, que é a saída do Ensino, o quanto antes.
Quem não o fizer, estará a condenar-se a si e à sua família, à pobreza e à degradação profissional e pessoal.
O colega ainda conta com o Judas de Belém, aquele entertainer de 2ª categoria, aquela farsa de Presidente, para alguma coisa?