15 de Junho de 2023 archive

Da Evidência

Portugal tem a classe docente mais envelhecida da UE. E não está a formar professores suficientes

 

Os novos diplomados do ensino superior que se habilitam anualmente para a docência não são suficientes para substituir os professores que saem a cada ano do sistema educativo

 

Portugal é o país da União Europeia (UE) com a classe docente mais envelhecida, com uma média de idades que se situa nos 50 anos. Cerca de 40% dos professores que se encontravam a lecionar em escolas públicas em 2018/19 irão aposentar-se até 2030/31, o que significa que será necessário recrutar 34.500 professores até 2030. Mas há poucos jovens em cursos que dão acesso à carreira docente. As condições de trabalho e progressão na carreira dos professores tornam a profissão pouco atrativa, mostra o estudo “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal”, da Fundação José Neves (FJN), apresentado esta quinta-feira.

“A evidência de que os professores são determinantes para o sucesso escolar dos alunos motiva a necessidade de garantir que todos os alunos têm bons professores e de atrair para a profissão docente os melhores entre as gerações mais jovens. Se o foco na qualidade dos professores é central para a aprendizagem dos alunos, Portugal depara-se, em linha com outros países europeus, com um alarmante envelhecimento do corpo docente que resulta numa escassez de professores no imediato e de forma ainda mais acentuada no curto e médio prazo”, alerta a FJN na edição de 2023.

Os professores portugueses têm em média, 50 anos, um valor que não difere muito entre os diferentes níveis de ensino (pré-escolar, ensino básico e secundário).

Docentes com menos de 30 anos são uma exceção, representando apenas 1,7% dos professores no 3.º ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário e 3,1% no Ensino Pré-Escolar. Por outro lado, o 2.º ciclo do Ensino Básico contém a percentagem mais elevada de professores com mais de 50 anos (57,2%) e o 1.º ciclo a mais baixa (42,5%).

O envelhecimento do corpo docente não é exclusivo de Portugal, mas o país destaca-se pela negativa, sendo aquele onde o problema é mais acentuado entre todos os Estados-membros da União Europeia, acompanhado apenas pela Itália.

Em 2020, por cada professor português do Ensino Básico e Secundário com menos de 30 anos, existem 28 professores com mais de 50 anos. É o valor mais elevado de todos os países da União Europeia, onde, em média, para cada professor com menos de 30 anos existem apenas cinco professores com mais de 50.

Será preciso recrutar 34.500 professores até 2030

O progressivo envelhecimento da classe docente implica que um número significativo de docentes atingirá a idade da reforma nos próximos anos. Concretamente, cerca de 40% dos professores que se encontravam a lecionar em escolas públicas em 2018/19 irão aposentar-se até 2030/31, aponta a Fundação José Neves.

“Apesar de, durante o mesmo período, estar prevista uma diminuição de 15% no número de alunos matriculados em escolas públicas, por força da diminuição da natalidade em Portugal nas últimas décadas, será ainda assim necessário recrutar um total de 34.500 professores até 2030, o equivalente a 29% dos que estavam em funções em 2018/19. Estas necessidades de recrutamento irão intensificar-se ao longo da década, aumentando de 3.050 professores em 2021 para cerca de 4.100 em 2030.”

Os valores apresentados são problemáticos uma vez que os novos diplomados do ensino superior que se habilitam anualmente para a docência não são suficientes para substituir os professores que saem a cada ano do sistema educativo.

Por exemplo, de acordo com a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), em 2020/21, apenas 1.648 indivíduos obtiveram um mestrado nas áreas de formação de professores em educação pré-escolar, ensino básico e ensino secundário, valor muito aquém dos 3.450 educadores e professores que representam a média anual das necessidades de recrutamento até 2030.

A necessidade de aumentar o número de professores para repor os que se reformam contrasta com a diminuição da procura por cursos do ensino superior conducentes à profissão de professor, que é evidente pela discrepância entre a evolução do número de alunos inscritos no ensino superior nos cursos da área de formação de professores.

“Apesar de o número de inscritos em licenciaturas ter aumentado 8% entre 2013/2014 e 2020/2021, a tendência na área de formação de professores foi a inversa, com uma queda de 18%. A discrepância é ainda mais acentuada nos mestrados, que atualmente é o nível previsto de acesso à carreira docente. De facto, o total de alunos inscritos em mestrados aumentou 23% entre 2013/2014 e 2020/2021, enquanto nos mestrados para formação de professores caiu 22%. Esta evolução fez com que a percentagem de alunos inscritos em mestrados nesta área de formação caísse de 16,5% para 10,4% do total de alunos inscritos em mestrados entre os mesmos anos letivos.”

Condições de trabalho e progressão na carreira penalizam atratividade da profissão

O panorama atual de escassez de professores não pode ser dissociado das condições de trabalho e progressão na carreira dos professores, que tornam a profissão pouco atrativa e resultam em elevados níveis de insatisfação profissional, aponta o relatório.

No ano letivo 2020/2021, cerca de um em cada cinco professores portugueses era contratado e tinha um salário bruto abaixo dos 1.500 euros, já com o subsídio de refeição.

O salário dos professores no início da carreira é inferior ao de outros trabalhadores com formação equivalente nas áreas CTEM, da saúde e do direito. Com o avançar da idade, e devido à dificuldade na progressão da carreira, o fosso salarial é mais desfavorável para os professores, com salários abaixo de todas as áreas CTEM e de várias outras áreas de formação.

Outra dimensão a ter em conta na atratividade da profissão passa pelos níveis de stress reportados pelos professores portugueses. Apesar de não haver dados comparativos entre os níveis de stress com outros grupos profissionais, é significativo que 87% dos professores em Portugal afirmem sentir um nível elevado de stress no trabalho, o valor mais alto entre os países da OCDE, que têm uma média de 49%.

A falta de estabilidade, de progressão na carreira e salarial e os níveis de stress contribuem para a baixa satisfação profissional reportada pelos professores portugueses. Cerca de 22% dos professores portugueses dizem estar arrependidos de terem escolhido a sua profissão, um valor sem paralelo no conjunto dos 22 países da União Europeia incluídos no inquérito da OCDE

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Largas Dezenas de Pais/Mães do 2.º Ano Não Levaram Hoje os Filhos à Escola

Muitos Encarregados de Educação optaram por não levar os seus filhos do 2.º ano à escola para a realização da Prova de Aferição de Português/Estudo do Meio.

Durante a manhã chegou-me um abaixo assinado, assinado pela grande maioria dos pais do 2.º ano de uma escola do “meu” agrupamento, apontando as suas razões para não trazerem hoje os filhos à escola, como anteciparam que para a prova de aferição de Matemática/Estudo do Meio também tomariam esta decisão.

Neste caso, juntou-se à greve dos aplicadores da prova uma larga abstenção de alunos na escola.

E assim foi desperdiçado, o que seria mais um dia de aulas, porque nem a prova de aferição foi feita, nem as aulas foram dadas.

É este o caminho que o Ministério da Educação quer manter para 2024?

Faz algum sentido haver provas digitais no 2.º ano?

Antes da prova dirigi-me a uma sala de outra escola para aperceber-me in loco das dificuldade dos alunos para aceder à plataforma Intuitivo. A frustração foi imensa porque nesta idade a maioria das crianças nem sabe onde está o hifen no computador para colocar a sua password, ficam frustados porque descobrem que o seu computador, entregue pelo ME,  escreve automaticamente desta forma ººººººººººººººººº , e não havendo computadores para substituição dos avariados (que por sinal já estão fora da garantia) tiveram de sair da sala de aula.

E quem disser que as provas de hoje correram bem é porque não esteve numa sala de aula…

 

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Para os Fundos Europeus Pagarem….

… porque alguém imaginar que é possível o computador ficar na escola para uso do aluno é porque não conhece a realidade das escolas.

Com mudanças de alunos de sala de aula e com os equipamentos deixados ao aluno no início do dia para o entregar no fim das aulas do dia só com um rácio de Assistentes Operacionais/Técnicos que fossem o dobro daquilo que são.

Sempre critiquei a opção seguida pelo Ministério para entregar a cada aluno um Kit Digital, sem a mínima qualidade do equipamento e sem condições na escola para apoiar estes kits. E agora que as garantias dos equipamentos terminaram é que se vai ver o enorme erro desta decisão. Seria mais eficaz que as escolas recebessem equipamentos (não necessariamente portáteis) para que cada aluno o usasse em contexto de sala de aula.

 

Ministério atribui computadores aos alunos à revelia dos pais. Muitos nem sabem que têm computador da escola

 

 

DGEstE enviou aos diretores escolares listas com a atribuição administrativa de computadores que ainda não tinham sido entregues. Há escolas com centenas de computadores atribuídos desta forma e sem conhecimento dos encarregados de educação

 

A Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) enviou às escolas, no final de abril e início de maio, listas fazendo corresponder o número de identificação fiscal (NIF) de alunos cujos pais tinham recusado a atribuição do kit digital no início do ano letivo, ou que por qualquer outra razão não tinham computador atribuído, com números de série de portáteis. A cada NIF corresponde um número de série de um computador que muitos alunos têm atribuído, sem conhecimento do próprio ou dos encarregados de educação.

“Recebemos um telefonema a informar-nos de que iriam enviar uma lista por email. Posteriormente, enviaram essa listagem. Os computadores ficaram atribuídos aos alunos, mas ficam na escola, sob responsabilidade da escola e para uso dos alunos em questão”, confirma à CNN Portugal fonte da direção do Agrupamento de Escolas de Cinfães.

 

O diretor do mesmo agrupamento, Manuel Pereira, que é também presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), corrobora a informação fornecida pelo elemento da sua própria direção e acrescenta que, no caso desta escola, “são apenas sete computadores nessas condições”.

Mas a CNN Portugal sabe que há escolas com dezenas de computadores atribuídos administrativamente, numa lista elaborada pela própria DGEstE e entregue aos diretores pronta a assinar. Há mesmo um agrupamento de escolas que tem “mais de 190 kits digitais nestas condições”.

“Aceitando de boa-fé o argumento que nos foi dado de que é uma forma de os computadores ficarem nas escolas e não serem devolvidos ou serem redistribuídos, percebo-o e aceito-o. Não acho cordial que esse processo tenha acontecido de forma administrativa e, sobretudo, não acho correto que sejam usados os NIF de pessoas que não sabem e não deram autorização para isso”, diz Manuel Pereira.

Quem se responsabiliza pelos equipamentos?

O Agrupamento de Escolas de Cinfães assegura que está a contactar os sete encarregados de educação em causa “para lhes comunicar o que aconteceu”. E assegura também que os computadores “vão ficar na escola, à responsabilidade da escola, para uso exclusivo do aluno a quem foi atribuído”, como aliás é pedido no email enviado pela DGEstE.

Mas se nas escolas dirigidas por Manuel Pereira é fácil chegar a apenas sete encarregados de educação, há escolas onde a missão é quase impossível. Fonte de um dos estabelecimentos contactados pela CNN Portugal, que pediu anonimato, diz que há números de série que “não correspondem sequer aos computadores que estão na escola como tendo sido atribuídos àqueles alunos em concreto” e, “no meio de quase 200 computadores, confirmar a ligação entre um NIF e o número de série de um computador é quase impossível”.

“Sobretudo quando puseram milhares de computadores nas escolas, mas não deram recursos às mesmas para gerir o processo e são os professores, que também dão aulas e muitas vezes nada têm a ver com a área da informática, que são responsáveis pelo programa e por resolver os problemas com os computadores dos alunos”, acrescenta a mesma fonte.

 

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), assina por baixo esta reivindicação. “É preciso que as escolas sejam dotadas de técnicos informáticos para tratar da manutenção e dos problemas dos computadores dos alunos. Independentemente de esses colaboradores serem da responsabilidade do Ministério ou das autarquias, a manutenção dos computadores não pode continuar a ser feita pelos professores de TIC [Tecnologias de Informação e da Comunicação] ou por qualquer professor de qualquer outra área disciplinar que seja habilidoso, muitas vezes fora do seu horário de trabalho”, defende o responsável, em declarações à CNN Portugal.

O presidente da ANDAEP vai mais longe: porque não é claro de quem é a responsabilidade se alguma coisa acontecer a estes computadores atribuídos pela DGEstE, se da escola se dos pais, é preciso, literalmente, jogar pelo seguro. “Temos pedido ao senhor ministro, até de viva voz, que alargue o seguro escolar aos computadores, quer aos que os alunos levam para casa, quer a estes que ficam na escola”, reivindica Filinto Lima.

“Invasão da minha privacidade e da dos meus”

A CNN Portugal falou também com um encarregado de educação que tinha recusado o kit digital no início do ano letivo e que agora vê o NIF do filho associado ao número de série de um computador que não quer, nunca viu, não sabe onde está e nem sabe sequer se existe. Pediu o anonimato para preservar a identidade do filho, coisa que considera que não foi feito em todo este processo.

 

É um abuso do uso dos dados do meu filho para fins que não autorizei. É uma invasão da minha privacidade e, pior do que isso, da privacidade dos meus”, sublinha.

 

Carlos, chamemos-lhe assim, teve acesso à lista através de um fórum restrito ligado à Educação de que faz parte e onde algumas dessas listas estão a ser partilhadas. Diz-se indignado depois de ter visto a lista, sobretudo porque tinha assinado um documento, no início do ano letivo, a recusar que fosse atribuído um computador ao filho.

“Ele está no 3.º ano. Sabemos como são as crianças, ponderei e achei que podia sair-me mais caro do que, eventualmente, comprar-lhe um computador ou dar-lhe um usado que tivesse lá em casa. Além disso, prefiro é que o meu filho leia livros, pense ‘em papel’ e escreva em papel. Eles já nasceram no meio digital, a utilização de meios digitais vai acontecer naturalmente. Não precisamos de estimular”, argumenta.

Carlos assegura que não lhe foi comunicado nem pela escola, nem por qualquer outra estrutura ligada ao Ministério da Educação ou à DGEstE a decisão de contrariar a sua vontade e atribuir um computador ao filho. Nem antes da lista ser enviada à escola do filho, nem depois de ter sido assinada. Até agora, só sabe que isso aconteceu porque se deu a coincidência de estar num grupo de WhatsApp restrito onde as listas andam a circular.

Para já, diz que vai esperar para ver se lhe serão apresentadas explicações para o sucedido ou mesmo se a atribuição lhe vai ser comunicada ou não. Quer saber “as razões da urgência de serem distribuídos os equipamentos desta forma e o porquê de terem sido usados NIF dos alunos à revelia dos responsáveis. Se essas explicações não chegarem ou não o satisfizerem, garante que as vai procurar, “nem que seja junto da proteção de dados”.

Diretores pressionados a assinar?

A assinatura de uma lista “elaborada de cima” e da qual as escolas não são responsáveis constrangeu alguns diretores escolares. Houve mesmo quem mostrasse reservas em fazê-lo.

A diretora de um estabelecimento de ensino do Sul do país ouvida pela CNN Portugal e que também pediu anonimato fala em “quase uma centena de kits atribuídos” numa lista que, garante, foi pressionada a assinar.

Manuel Pereira, por seu lado, assegura que “não foi pressionado a nada” e, enquanto dirigente da ANDE, não recebeu indicações nesse sentido de qualquer um dos associados. “Ninguém deu nota de grande revolta por causa deste assunto”, afirma.

Mas as queixas de pressão para assinar o documento não são exclusivas da docente atrás referida. Pelo menos mais dois diretores de escolas contactados confessam que mostraram “muitas reservas” em assinar a lista e garantem que a opção lhes foi imposta e não sugerida.

“É só um reflexo do clima de pressão que se vive nas escolas”, resumem.

O que vai acontecer a esses computadores?

Se muitos pais não sabem que esses computadores estão nas escolas atribuídos aos seus filhos, como os poderão reclamar? E, se não reclamarem, qual será o destino desses kits informáticos, compostos por computador, mas também por headphones e por um cartão de comunicações móveis ou por um hotspot de Internet. O diretor de um agrupamento de escolas de Oeiras assegura que serão distribuídos. Se não forem este ano, sê-lo-ão no próximo.

“Confirmo que o ME fez a atribuição dos computadores aos alunos, de onde resultou um documento que a escola simplesmente validou. Com o não levantamento dessas unidades, as mesmas deixaram de estar disponíveis para os alunos, ficando para uso por exemplo nas provas de aferição. Em setembro, essas unidades passarão a ser disponibilizadas aos alunos que as quiserem levantar”, explica numa mensagem escrita à CNN Portugal o diretor do referido agrupamento.

 

Fica por saber se será assim em todas as escolas, já que a DGEstE é categórica no email que enviou às escolas: “Na ausência de assinatura do auto por parte do EE/aluno maior, o equipamento terá de ficar à guarda da escola, para uso exclusivo do seu beneficiário e apenas dentro do recinto escolar, ficando na plataforma o auto no estado gerado.”

Fica também por saber se outras questões ficaram acauteladas: um aluno que recusou o kit este ano e que não foi informado desta atribuição administrativa, não levantando por isso o equipamento, terá direito a um computador se, no próximo ano, mudar de escola e resolver requerê-lo? “É uma dúvida pertinente. Na plataforma do Ministério da Educação, constará já como tendo um kit atribuído. É muito provável que não o consiga para o ano, se mudar de escola e se pedir um computador da Escola Digital”, admite um professor responsável pelo programa numa escola do Sul do país.

As metas do PRR

Fontes contactadas pela CNN Portugal estão convencidas que a esta manobra administrativa não será alheio “o cumprimento das metas do PRR”. O programa foi financiado pelo Portugal2020 e pelo Plano de Recuperação e Resiliência. O plano foi cumprido no tempo estipulado para a aquisição de 600 mil computadores, mas não o foi no que toca à distribuição pelos estudantes.

Em finais de abril, quando a lista com a atribuição administrativa começou a ser enviada às escolas, a menos de dois meses do final do ano letivo e a poucas semanas das provas de aferição, que este ano foram, pela primeira vez, digitais, o plano para a atribuição dos equipamentos só tinha sido cumprido a 70%.

O programa Escola Digital foi lançado em 2020 e tem como missão digitalizar as escolas portuguesas, mas parece longe de cumprir os objetivos. Num relatório sobre a execução do PRR divulgado em fevereiro, a situação do programa no que toca ao cumprimento das metas de utilização dos dinheiros europeus era descrita como “preocupante” e as recomendações já iam no sentido de se acelerar o processo de entrega dos equipamentos aos alunos e de se encontrar uma alternativa à necessidade de consentimento dos encarregados de educação requerida no início do ano letivo.

“Recomenda-se a elaboração de um calendário alternativo para a implementação das redes locais nas escolas bem como o reforço da logística de entrega de computadores pessoais pelas escolas e a reavaliação da declaração de responsabilidades exigida às famílias para entrega dos computadores”, pode ler-se no documento.

 

A CNN Portugal pediu explicações ao Ministério da Educação, que, em resposta escrita, esclarece que “este procedimento tem como objetivo garantir que os alunos que não têm computador porque os encarregados de educação não aceitaram (maioritariamente por temerem custos com avarias/estragos etc.) possam estar em igualdade de situação com os outros alunos, podendo ter um computador para uso em contexto escolar”, garantindo assim, que todos os alunos “têm computador para cumprir as aprendizagens” nas atividades letivas.

Ficou, contudo, por esclarecer se a proteção dos dados dos alunos ficou assegurada nesta operação e se a mesma foi comunicada aos encarregados de educação. Por responder ficaram também questões relativas à quantidade de equipamentos nestas condições e se há garantias que estão a ser usados efetivamente pelos respetivos destinatários e não armazenados nas escolas sem serem efetivamente atribuídos.

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Que pode acontecer se Marcelo vetar?

Se o presidente vetar o diploma do tempo de serviço, imposto sem negociação pelo governo, por não ser equibrado e porque os sindicatos vincam isso bem nas audiências prévias, podem acontecer várias coisas.

Há uma que não pode. O governo não pode insistir no decreto tal como está.
Por 2 razões. O veto presidencial a atos legislativos do governo é absoluto (diferente do que aconteceu com atos legislativos da assembleia, que esta pode impor depois de vetos politicos).
E para retomar o processo legislativo o governo tem sempre, por lei, de negociar com os sindicatos.

E o que pode seguir-se?

1. O governo estar genuinamente empenhado em governar bem e em entender as boas razões dos professores, acolhidas pelo PR. Preocupar-se com o país e não com teimosias bacocas.
Negociar e tentar nova solução razoável. Se o empenho for realmente genuino,faz uma negociação global das matérias pendentes todas e arranja paz para resolver problemas.

Não acredito. António Costa anda a tresler no seu mundinho rodeado de boys e habilidades de marketing.

João Costa não é político e pensa como um superboy (afinal nem é desqualificado, é catedrático, mas não tem mais habilidade política do que receber ovações alcaninas em escolas amigas).

2. O governo não negoceia e o governo zanga-se. O resultado disso está no domínio das fantasias mais loucas.

Não esqueçam que António Costa na geringonça já quis demitir-se por causa disto. Pode ser que agora perceba que somos piores que a sarna ou a peste suína e não se livra de nós.

Mas o que vai fazer ninguém sabe (vejam o Galamba, já com os patins calçados e que agora anda em passeios equestres de triunfo, mesmo com ruidos estranhos).

3. Na Assembleia algum partido apresenta um projeto de lei e reabre aí a discussão. Até podemos ser nós, reeditando a Iniciativa Legislativa de Cidadãos de 2018. A maioria absoluta não impede a discussão e debate da proposta e o assunto continua vivo, mesmo o governo estando contra. O que é vital. Mantê-lo vivo.
E até pode passar na AR, em ano eleitoral, como sinal de benevolência da maioria absoluta a negociar com outros partidos.

Ao lado, todo o quadro politico (Tap, tutti-fruti, inflação, etc) segue e não sabemos onde estamos em Setembro.

Para o ano há eleições europeias.

E não esquecer que, em 2024, passam 50 anos do 25 de abril.

Acham que era digno comemorar 50 anos da revolução, que tem como ativo a maior mudança educativa da História de Portugal, com os professores a queixarem-se de vilezas e humilhações.

Por isso, é preciso lutar, lutar sempre. Haja o que houver.

Ps: se não houver paz proponho já uma ideia de luta.

Dia 1 de dezembro de 1973 deu-se em Óbidos a 1a reunião de militares preparatória do 25 de abril.

Que dizem, nesse dia,, enchemos Óbidos com uma homenagem aos que nos deram o direito de protestar sob a forma de manifestação?

Luís Sottomaior Braga

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Greve deixa “milhares de provas” de aferição do 2.º ano por fazer

Greve deixa “milhares de provas” de aferição do 2.º ano por fazer

 

Há escolas em todo o país onde não estão a ser realizadas as provas de aferição do 2.º ano devido à greve dos professores. A Fenprof garante que há “milhares de provas por fazer” e que há estabelecimentos de ensino onde não se realizou qualquer exame.

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Assim Não Passaram Por Este Trauma…

Centenas de alunos do 2º ano fazem boicote às provas de aferição em Famalicão

 

A decisão partiu dos pais e encarregados de educação, que, desde o primeiro momento, foram apoiados pelos professores. A FamaTV sabe que, em todo o concelho, há dezenas de turmas do 2º ano de escolaridade que amanhã, dia 15, não vão realizar a prova de aferição de Português e Estudo do Meio. O boicote repete-se na próxima terça-feira, dia 20 de junho, na prova de Matemática.

As razões repetem-se em todas as escolas e os pais e encarregados de educação consideram que não estão reunidas as condições e que a sua realização vem “acrescentar pressão desnecessária às crianças”. Os professores partilham da mesma opinião e a FamaTV sabe que, em determinadas escolas, os professores, numa decisão unânime, vão fazer greve no dia das provas.

“Considero que os resultados que nos chegam nos relatórios podem ser enganadores, mas também porque estamos a falar de crianças de 7/8 anos, que são facilmente condicionáveis quando expostas a situação normal de ter de prestar provas”, sublinhou uma professora à FamaTV, que amanhã e na próxima terça-feira vai fazer greve às provas, tal como todos os seus colegas professores.

Outra das razões apontadas pelos pais e professores é o formato digital em que, agora, as provas são prestadas. Em casa, os pais com quem a FamaTV falou, sente a dificuldade dos filhos em manusear o computador, “que muitas vezes não funciona”. “O meu filho, por exemplo, só de lhe falar nas provas começa a chorar. Desde o primeiro momento que decidimos que ele não iria fazer as provas”, disse esta encarregada de educação à nossa reportagem, que quis manter o anonimato.

E os professores têm outras razões, tal como adiantou a fonte próxima da FamaTV. “Discordo porque considero que, como aliás muitos colegas professores e até psicólogos já vieram dar conta, uma criança com 7 ou 8 anos que aprendeu a ler e a escrever muito recentemente, deve privilegiar o treino da escrita manuscrita, do desenho da letra , desenvolvendo a motricidade fina e a capacidade óculo-manual que, como nos diz a ciência, é fundamental para desenolver o próprio cérebro”.

“Há quem diga que vai correr bem e que este é o caminho do progresso, que na evolução há sempre resistência de vários atores, mas creio que o ponto fundamental nesta discussão não é o deixar ‘entrar’ ou não o progresso nas salas de aula, mas sim a defesa pedagógica, cognitiva e mesmo emocional das nossas crianças”, adiantou a mesma professora à FamaTV. Assim, amanhã e na próxima terça-feira, em muitas escolas famalicenses os alunos do 2º ano não vão comparecer às Provas de Aferição, o que não terá qualquer consequência na sua não realização, já que apenas servem para dados estatísticos.

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Subir na vida- José Afonso Baptista

 

Dantes subiam na vida os filhos de pais ricos e herdeiros de grandes fortunas. Hoje não é muito diferente, mas a escola intrometeu-se nesta espiral de subida e rasgou novas vias de acesso sem pôr em causa a sabedoria popular traduzida no velho aforisma “filho de peixe sabe nadar”. Em termos estatísticos, são os filhos das classes privilegiadas que melhor cruzam as rotas da escola. Contudo, a invenção da escola como instrumento universal da pretensa melhoria da espécie humana deu-lhe grande protagonismo como “ascensor social” e abriu espaço na opinião pública para a crença de que os melhores são os que têm mais escola com as melhores classificações. A escola introduz assim um novo indicador de prestígio que não está ao alcance de todos. Isto mexe com as promoções à margem da escola, que levam ao governo e a altos cargos pessoas sem qualificações nem competências nem experiência profissional que as recomendem. A importância da escola e das qualificações académicas está comprovada na ganância criminosa de quem “compra” os professores, compra trabalhos e diplomas, para justificar os cargos e funções que não merecem. Sucessivos governos “autorizaram” este modelo de negócio. Reconhecem a escola como a via honesta, mas confiam mais nas fidelidades partidárias mesmo quando manchadas por negócios inconfessáveis. A escola não é perfeita, mas é, ainda assim, a via mais justa e honesta para formar e eleger quem merece. Por caminhos diferentes, todas as escolas selecionam.

A escola inglesa é altamente competitiva e seletiva. Mantém o regime de classes tradicional assente em dois fatores: a idade e o desempenho escolar. A progressão, por norma, é automática, em classes de nível, as primeiras turmas têm os alunos com classificações mais elevadas, as últimas acolhem os alunos de níveis inferiores, traduzindo a ideia de que esta distribuição por classes de nível se adapte melhor às circunstâncias de cada classe. Não há reprovações, todos os alunos completam a escolaridade obrigatória aos 18 anos, idade em que se opera a grande seleção: os alunos de nível A entram em geral nas universidades e cursos da sua escolha, nos outros níveis ficam condicionados, muitos sem acesso às universidades, mas com portas abertas para cursos menos exigentes, ou simplesmente para entrar no mercado de trabalho. Esta normalização por idades e níveis de desempenho tem como pressuposto a normalização dos processos de organização do trabalho escolar.

Na Finlândia, igualmente seletiva na transição do secundário para o superior, a organização da escola obedece a um figurino diferente: não há classes ou turmas, nem há a rigidez na organização do trabalho por idades. Há uma planificação por temas ao longo dos anos, temas obrigatórios e temas facultativos, os alunos organizam-se por grupos temáticos e são acompanhados por docentes na organização e dinamização do trabalho. No mesmo grupo podem estar alunos de diversas idades, o que os une é o interesse pelo mesmo tema. Este modelo organizacional fomenta mais a cooperação, o espírito de entreajuda e o apoio em função das capacidades e fraquezas dos alunos. O trabalho por grupos é menos permeável à competição “doentia” do sistema inglês. Contudo, aos 18 anos, a entrada no ensino superior é igualmente seletiva. Nas universidades e cursos mais pretendidos só entram os que obtêm melhores resultados, havendo alternativas de formação e especialização em todas as áreas profissionais.

O sistema português, mantém o regime de classes. A retenção ao longo da escolaridade dá lugar a classes com diferentes níveis etários. Observando coortes de alunos desde o 1º ciclo até ao 12º ano, verifica-se que muitos vão ficando para trás, muitos desistem ou atingem os 18 anos antes de concluir a escolaridade obrigatória. O número de alunos à saída é muito inferior ao de entrada. A mobilidade e instabilidade dos professores compromete os níveis de confiança e estabilidade emocional dos alunos. As turmas sofrem alterações de ano para ano, devido às retenções, com impacto nas relações entre alunos. O programa é rígido, uniforme, igual para todos, sem a menor flexibilidade em relação ao perfil dos alunos, às suas motivações e capacidades. A entrada no ensino superior é altamente seletiva, não apenas em função das notas dos alunos, mas da sua incapacidade financeira. Neste nível de ensino nem sempre entram os melhores, sendo muito elevados os níveis de desperdício. Em Portugal, a seleção começa na exclusão. A escola, em vez de orientar os alunos de acordo com o seu perfil, condena-os à exclusão ao longo de todo o percurso.

Os partidos são o “ascensor social” de recurso, promovendo muitas vezes aqueles que não tiveram talento para subir na escola nem para se afirmarem noutras áreas. Não significa que os militantes dos partidos sejam sempre os filhos do fracasso, mas, sendo, têm sempre uma porta aberta para a mediocridade e o insucesso. O cartão do partido é condição suficiente e “sine qua non” para altos voos, mesmo de gente sem indicadores de competências, sem valores e sem prestígio. Observando bem o altar dos partidos, encontraremos sempre alguém sem escola certificada, sem profissão conhecida, “doutores da mula ruça” que se fazem passar por aquilo que não são. Não poucos ascendem ao governo, com os resultados que se conhecem. Os partidos em Portugal concentram-se mais em governar o partido e a sua clientela do que em governar o país real. Com um “ascensor social” fora dos carris.

diário as beiras | 15-06-2023

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