28 de Maio de 2023 archive

A encruzilhada na educação não está para inércias nem ilegalidades tácticas – Paulo Prudêncio

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A encruzilhada na educação não está para inércias nem ilegalidades tácticas

 

A encruzilhada na educação alastrou-se de vez à Europa. O flagelo da falta de professores agravar-se-á. É já indisfarçável na Alemanha, na França, na Itália e na Espanha. A receita da precarização destes profissionais foi fatal. Inscreveu políticas monstruosas de prestação de contas. É um diagnóstico consensual, com uma adjectivação factual. 

Conclui-se que é crucial cortar nos paraísos fiscais, para não se subir impostos e investir nas políticas sociais. A sustentabilidade financeira dos estados não só desconhece alternativas, como explica porque é que o crescimento económico nunca é a “maré enchente que fará subir todos os barcos”.

A bem dizer, o todos contra todos e em todo o lado, inventado na década de 1980 pelos ultraliberais das Novas Políticas de Gestão Pública, fez dos professores um laboratório. A banalização do mal concretizou-se através de pequenas castas de beneficiários das políticas movidas por pequenos tiranetes. A profissão perdeu, abruptamente, atractividade. Os governos iludiram-se nos universos dos aparelhos partidários e das bolhas mediáticas e viciaram-se na inércia e nas estatísticas sobre certificação escolar.

É ler Michael J. Sandel. Acima de tudo, desde 1980 que os governos, nos EUA e no Reino Unido primeiro e na Europa depois, do centro-esquerda e do centro-direita, abraçaram uma versão ultraliberal da globalização do mercado que só deixa duas saídas para a educação: substituir professores pela robotização ou por colaboradores “uberizados” que guardem os alunos da tele-escola 2.0 durante o visionamento de conteúdos massificados pelas gigantes tecnológicas que investiram mais na digitalização do ensino do que em drones, 5G, tele-medicina e comércio electrónico; e a avaliação de todos será online.

Portugal é até um estudo de caso na degradação do exercício dos professores e na ausência de debate sobre os efeitos da transição digital, do capitalismo da vigilância e da Inteligência Artificial. 

Mas o mais surpreendente, foi o Governo não prever a contestação dos professores. Só o descolamento da realidade sustentou essa desinformação. E não adiantou remetê-la para a atomização de sindicatos irrelevantes e pautados por agendas descoladas das salas de aula. Essa queda sindical tem anos e foi do agrado do mainstream. Só ignorou quem não ouviu ou leu. A interminável explosão, iniciada em Novembro de 2022, previa-se e manterá, felizmente, momentos sobreaquecidos como sinais de esperança e de movimento.

O desespero empurrou o Governo para a reparação de danos, para a manipulação da opinião pública e para a divisão dos profissionais. Os diplomas sobre concursos e tempo de serviço foram a prova cabal. Mas é assim desde 2008. Aliás, levamos mais de uma década de hostilidade, arrogância e insensibilidade. A cartilha comunicacional, que parece governar, desvalorizou e humilhou o estatuto social de uma profissão tão difícil. Requer, como na generalidade das políticas sociais, que se meta “as mãos na massa” para se perceber o essencial.

Nesse sentido, aclame-se que a dimensão incalculável da encruzilhada educativa não está para inércias nem ilegalidades tácticas. Tem que ser levada a sério. Se se conhece o que esgotou os professores e instalou um clima de “fuga”, também se inscreva que os tribunais consideraram ilegais os serviços mínimos decretados sucessivamente nas greves dos professores. Foi inadmissível que tenham sido aplicados e eito e com desleixo. Foram tacticismos que degradaram ainda mais o clima democrático das escolas e que não se podem repetir. 

Além do mais, a inércia do Governo tornou-se ensurdecedora. Há caminhos livres dos espartilhos internacionais. Até já há dirigentes do PS que defendem as óbvias mudanças na educação, a começar pela gestão das escolas. Recupere-se o que acontecia até 2009, acrescentado de uma limitação, republicana e inequívoca, a dois mandatos para quem as dirige.

É crucial ouvir os professores. O Público divulgou recentemente um estudo robusto, com cerca de 10000 inquiridos, onde constam as 25 principais reivindicações. A ordenação das primeiras dez é óbvia: contagem de todo o tempo de serviço, eliminação de vagas e de quotas, redução da burocracia, alteração do modelo de gestão das escolas, revisão dos índices remuneratórios, alteração do modelo de avaliação, reposicionamento dos professores que aguardam vaga, novas regras para a aposentação e revisão da mobilidade por doença.

E se já se percebem os percursos para a carreira, a avaliação e a gestão das escolas, a desburocratização sumariza a inacção governativa. Após anos de estudos, e depois de negociações com os sindicatos e de uma cronologia de acções apresentada no Parlamento, o Ministério da Educação entregou a tormenta burocrática, que criou e estimulou, à LABX – “Centro para a Inovação no Setor Público”. 

É uma demissão grave. Esta desburocratização exige conhecimento sobre ensino e requer um decreto com um só artigo: a um professor não se pode exigir um qualquer procedimento que inverta o ónus da prova. Resumidamente, desde que há escolas que os professores sabem que prestam duas contas a qualquer momento: como gerem o programa da disciplina que leccionam e como avaliam os alunos. A espécie de inversão do ónus da prova foi o sinal máximo da desconfiança e do inferno da burocracia e a súmula da precarização.

Em suma, assuma-se que é impossível reconstruir a educação pública neste clima de desesperança e que nada se fará sem os professores. A incerteza é a palavra chave e a confiança o critério de superação. Reconstrua-se o ambiente democrático da escola. Não se receie a liberdade de ensinar e aprender nem a defesa intransigente do bem público e comum.

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Blogosfera – Anabela Magalhães

Carta Aberta à Directora do Agrupamento Teixeira de Pascoaes

 

 

Eu não sou, para o bem e para o mal, uma Professora anónima, muito menos uma Professora qualquer. Aliás, nascida e criada, e ainda a viver, no Centro Histórico de Amarante, de onde sairei na horizontal, também não sou, para o bem e para o mal, uma Amarantina anónima, muito menos uma Amarantina qualquer.

Levo muito a sério a Minha Profissão, profissão que livremente escolhi contra ventos e marés e tenho uma reputação que é a minha, construída ao longo de décadas e décadas de trabalho árduo, o mais das vezes solitário… porque a minha pedalada é, de facto, avassaladora e bem difícil de acompanhar.

Com o tempo, e a imensa capacidade e prática de trabalho até às 3/4 horas da manhã, com aulas às 8:30, melhorei tanto, mas tanto!, as minhas skills que sou capaz, na boa, de estar a fazer várias coisas ao mesmo tempo sem me atrapalhar e fazendo tudo o que entendo dever fazer.

Assim, recordo que depois de sair da Escola Secundária do Marco de Canaveses, onde tive um imenso prazer e gosto em trabalhar, tive a honra de escutar o meu ex-director afirmar-me que se há professores que entram e saem de uma escola sem deixar rasto ou saudade tal não tinha sido o meu caso pois eu tinha deixado um imenso e sentido vazio naquela Escola que um dia foi Minha.

Recordo que depois de deixar a Escola onde hoje lecciono, com outro director evidentemente, rumo à ESA, e após três anos consecutivos de trabalho nesse mesmo estabelecimento, esse director, na primeira véspera do dia de Natal seguinte, surpreendeu-me aqui mesmo nesta minha casa, com um livro escolhido a dedo sobre a cultura árabe, que ele sabia ser especialmente do meu agrado, com uma delicada dedicatória em que me agradecia todo o trabalho que eu desenvolvi na Escola Pública onde ele exercia o cargo de Director. E recordo que, nos anos seguintes, continuou a fazer o mesmo.

Quando saí da Escola Secundária e regressei à Minha Home – exactamente a Escola dirigida há décadas por vossa excelência, e onde ainda hoje continuo a trabalhar, e onde permanecerei o tempo que me der na cabeça, até se pode dar o caso de permanecer até aos 70 só para meter nojo… ou não… – o director da ESA, com quem eu tive uma contenda armada por ele e que teve o feliz desfecho, para mim, no Acordão do Tribunal Central Administrativo Sul, afirmou-lhe que, com a minha saída, a Escola da qual ele era director ficava a perder e que a Escola para onde eu ia ficava a ganhar.

E foi nestas circunstâncias que voltei para a agora Escola Teixeira de Pascoaes, onde fui quem sempre fui como Pessoa e como Professora: confiável, verdadeira, respeitadora, assumida, interventiva, criativa, resiliente, trabalhadora incansável muito para além das horas que me eram legalmente exigidas… aliás  escutei variadíssimas vezes, ao longo da minha “carreira” profissional, a minha filha a sugerir-me que levasse o colchão para a escola. (Desculpa, Filha!)

A minha relação com os Meus Alunos permanece à prova de bala e, frequentemente, permanece para a Vida. Eles sentem quem entra na sala de aula e deixa lá a pele e o resto.

A pele e o resto deixei eu a fazer isto, isto, isto, isto, isto, isto, isto., isto… e o mais que deixo por linkar para não maçar vossa excelência. Mas não deixo de lhe relembrar especificamente o Projecto História em Movimento, que acabei a implementar sozinha na Escola com a força de um furacão – grata a todos os Meus Alunos que nele acreditaram – e que desapareceu completamente do meu horário, sem qualquer explicação da vossa parte, na segunda alteração feita ao meu horário de trabalho durante este ano lectivo, e o Projecto Ver para Querer, numa parceria feliz com a Ordem dos Nutricionistas e que envolveu múltiplas entidades, e que vossa excelência ora apoiava, ora boicotava, ora não ligava, mas não se coibindo de aparecer em entrevista à TV quando a oportunidade surgiu. Relativamente a este projecto não posso deixar de agradecer o apoio incondicional da professora Elisabete Silva, sempre presente, sempre a apoiar e que vivenciou comigo algumas cenas deprimentes que volta e meia foram acontecendo ao longo dos anos em que este projecto se manteve activo.

E eis que chegamos a este atípico ano em que pode ter a certeza que continuarei a batalhar como uma leoa por uma Escola Pública de Qualidade, que a transcende a si enquanto directora de um Agrupamento da Cidade que é Minha e que me transcende a mim enquanto Professora deste mesmo Agrupamento.

Aproveito para lhe relembrar que a primeira vez que me deu ordem verbal de saída do espaço escolar, mandou-me mesmo para fora do portão da escola, já que eu estava em greve, eu informei-a que não iria sair e dirigi-me aos serviços administrativos onde, por escrito, a questionei sobre a fundamentação legal sobre tão estapafúrdia ordem. Até hoje não recebi qualquer resposta e, como vossa excelência sabe, um funcionário público, que é coisa que a senhora é, ocupando cargos de chefia, tem, por lei, leis a cumprir, nomeadamente quanto a prazos de resposta. Mas escolheu ignorar-me, portanto, e, ao fazer isso, escolheu ignorar as leis deste país.

Hoje encontro-me num outro patamar de indignidade, para vossa excelência… mas que não para mim.

Na quarta-feira passada, dia 24 de Maio, foi-me dada nova ordem de saída por parte de vossa excelência, aos berros e publicamente, da sala do secretariado das provas de aferição, já que, supostamente, eu estaria a fazer greve. Aproveito para lhe relembrar que um trabalhador só entra em greve a partir do momento em que entra em greve, ok? E também que nenhum dirigente superior tem o direito de se virar para os trabalhadores e questioná-los sobre se estão, ou não, a fazer greve já que isso pode configurar pressão ilegal sobre pessoas que estão a exercer um direito que é seu e que se encontra consagrado na Constituição Portuguesa.

Como eu a informei, calmamente, que não iria sair do local em que me encontrava, vossa excelência, de cabeça perdida?!, desatou numa gritaria a afirmar que quem dava as ordens era vossa excelência, que vossa excelência é que era a directora – lembrei-me do Herman nos seus velhos tempos do “Eu é que sou o presidente da junta!!! – e ameaçou-me, alto e bom som, com um processo disciplinar. Nem me mexi e continuei a informá-la de que não iria sair da sala em que me encontrava.

Decidiu ir para outra sala, para “não se chatear mais”, no dizer de vossa excelência, e deu ordem a todos os outros professores para a seguirem, o que estes fizeram, e acabaram a reunir no corredor imediatamente a seguir à sala onde permaneci sozinha. Nada que me espante, apesar da indignidade da situação, apesar do ridículo da situação, a fazer-me equacionar se o meu local de trabalho é local de brincadeiras parvas e infantis, promovidas pela senhora diretora, enfim, de coisas sem jeito nem ponta por onde se lhe pegue.

Não escutei o que transmitiu aos meus colegas de viva voz mas, pelos vistos, excluiu-me, deliberadamente, de informação que eu também deveria ter recebido já que foi aí que os restantes professores foram informados que a prova de aferição não se realizaria devido à greve de dois professores coadjuvantes. Relembro-a – um trabalhador entra em greve quando entra em greve e eu, que cumpri a mais longa greve que realizei em toda a minha vida, desde o dia 9 de Dezembro até dia 12 de Maio, e que foi variando na forma, não entrei em greve no passado dia 24 de Maio “apenas” porque não me apeteceu.

Para finalizar, esteja à vontade para dar cabo do meu horário as vezes que lhe apetecer. Esburaque-o as vezes que lhe apetecer e o quanto lhe apetecer e tenha a certeza que aproveitarei todas as minhas horas livres da forma que me apetecer, da forma mais oportuna, mais relevante e mais importante para mim.

Por exemplo, o furinho que me criou todas as terças-feiras ao terceiro tempo da manhã, a coberto de um chapéu gigantesco chamado interesse do serviço ou coisa que o valha, no dia 23 de Março foi por mim aproveitado para ir à GNR informar os senhores agentes que, se vossa excelência caísse na tentação, como outros directores, de mandar um professor substituir um outro professor em greve numa qualquer sala de aula eu iria, de imediato, chamar a GNR para que esta abrisse um auto de ocorrência, identificasse as testemunhas o o mais que fosse necessário pois, relembro-lhe, este país rege-se por Leis que não podem ser torcidas segundo as nossas conveniências.

Relembro-lhe ainda que, tal como eu afirmei alto e bom som à época, os serviços mínimos decretados pelo vergonhoso Colégio Arbitral foram ilegais e que agora isso está a ser afirmado pelo Tribunal da Relação e por senhores juízes.

Já agora aproveito também para lhe relembrar que durante cerca de duas semanas só eu, em todo o agrupamento, fui requisitada para serviços mínimos.

Como assim? Sou assim tão especial?

E por agora termino, que esta carta aberta já vai muito longa. Da minha parte, asseguro-lhe que a minha postura enquanto docente continuará a ser exactamente a mesma. Conte com muito trabalho da minha parte, muita frontalidade e muita honestidade naquilo que faço. E que faço bem.

E relembro-a que tenho 61 anos e que adoro brincar… mas é com os meus netos.

Atenciosamente, e com os meus melhores cumprimentos,

Professora Anabela Magalhães

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Continua a Greve às Provas de Aferição Até Final de Junho

Pré-avisos de greve às Provas de Aferição 2023 (16 a 26 de maio e 2 a 30 de junho)

 

 

 

 

Os colegas podem encontrar os pré-avisos de greve ao serviço, nestes dias, das Provas de Aferição de 2023 na ligação seguinte:

https://drive.google.com/drive/folders/1BP6BjBXS-fwMUuC1INq6VbslMy5m9dgr?usp=share_link

Nota: Para os dias 16 a 26 de maio não há serviços mínimos. Para os dias 2 a 30 de junho ainda não sabemos.

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Viva a Liberdade

PSP e Câmara do Porto proíbem manifestação dentro do Palácio de Cristal

 

A Câmara Municipal do Porto (CMP), na sequência de um parecer emitido pela Polícia de Segurança Pública, proibiu que a manifestação anunciada pelos professores para este sábado se realize no interior dos jardins do Palácio de Cristal, justificando a decisão com questões de segurança do local, onde se vai realizar o Fórum Social do Porto. O movimento espontâneo de docentes “Professores Indignados às Grades do Palácio de Cristal” acusa a autarquia de violar o direito constitucional de livre expressão e manifestação.

 

 

Toda a informação sobre este assunto aqui.

 

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A Antecipar o Futuro da Educação em Portugal

Será o paraíso para aqueles investigadores que pretendem deitar abaixo as paredes das salas de aula.

 

Class sizes in England could go up to 60 warn heads in funding pay row

 

Headteachers say they will be forced to double class sizes and introduce four-day weeks to tackle underfunding

Schools in England are preparing to move to class sizes of as many as 60 children from September to deal with a funding crisis that headteachers say will force them to cut staff.

The government insists that there is still room in school budgets to cover the 4.5% pay offer that teachers overwhelmingly rejected last month, as well as rising costs. But angry headteachers have warned that next year they will reach the brink, with no option but to cut staff and increase class sizes.

Some schools are also considering shortening the school day to cut teaching time, with one academy leader warning that another year of underfunding would force many schools into a four-day week.

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Professora questiona ME em Braga

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Discursos Para Ouvir com Atenção (De Não Militantes no PS)

 

 

 

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