A mentira parece ter-se apoderado do país, tornando-se no “pensamento oficial” do actual Governo, e os profissionais de Educação, tal como todos os outros cidadãos, não poderão fazer de conta que isso não lhes diz respeito…
O que terão a dizer os profissionais de Educação sobre o actual estado da nação, eles que, seguramente, têm sido a classe profissional mais desrespeitada e sacrificada desde o início da presente Legislatura?
O Ministro João Galamba foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no âmbito da TAP, em 18 de Maio de 2023…
Citando o Jornal Expresso, em notícia datada de 19 de Maio de 2023, entre as muitas declarações de João Galamba em sede de CPI, não pode deixar de se destacar, pela sua relevância política, a seguinte:
“O ministro das Infraestruturas garantiu, numa longa e aguardada audição, que não ligou ao SIS, revelou que foi do gabinete do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, o secretário de Estado Adjunto, quem lhe sugeriu falar com os Serviços de Informação”…
Ficámos, então, finalmente, a saber que a orientação para contactar o SIS, após os alegados incidentes ocorridos no passado dia 26 de Abril, no Ministério das Infraestruturas, adveio do Secretário de Estado Adjunto do 1º Ministro…
E por tal declaração do Ministro das Infraestruturas deixa de ser possível continuar a omitir ou a branquear o envolvimento, directo ou indirecto, do próprio 1º Ministro no pedido de intervenção realizado junto do SIS…
Não é credível, nem admissível, nem imaginável, que o Secretário de Estado Adjunto do 1º Ministro, sendo um dos principais coadjuvantes de António Costa, seu colaborador directo e uma espécie de seu “braço direito”, não tenha reportado, de imediato, ao Chefe do Governo o teor da conversa telefónica havida com o Ministro João Galamba…
A não ser que:
– O Secretário de Estado Adjunto do 1º Ministro seja absolutamente negligente ou incompetente, o que não parece plausível;
– O 1º Ministro António Costa se tenha demitido de governar o país, sem que alguém tenha dado por isso, o que também não parece provável…
Portanto, não restará outra alternativa que não seja a de considerar que o próprio 1º Ministro terá tido algum tipo de participação, em algum momento destes acontecimentos, apesar de tudo estar a ser feito para o ilibar dessa responsabilidade…
Em 1 de Maio de 2023, sobre a intervenção do SIS nos incidentes supostamente ocorridos no Ministério das Infraestruturas, o Gabinete de António Costa, citado pelo Jornal Observador, comunicou que:
“O primeiro-ministro não foi nem tinha de ser informado. Nem tomou qualquer diligência. O ministério das Infraestruturas deu – e bem – o alerta pelo roubo de computador com documentos classificados. As autoridades agiram em conformidade no âmbito das suas competências legais”…
Pergunta-se:
– “O primeiro-ministro não foi nem tinha de ser informado”?
– Aconteceu um incidente no Ministério das Infraestruturas, alegadamente tão grave que justificou um pedido de intervenção ao SIS, e o Chefe do Governo considera que não tinha que ser informado, pelo seu Ministro, acerca desses acontecimentos?
Num país com uma democracia robusta, o anterior não fará qualquer sentido, é o mínimo que se poderá afirmar… Mais absurdo, ainda, se torna, sabendo que o SIS depende directamente do 1º Ministro, conforme consta no site oficial dessa entidade…
Como, agora, ficou provado, pelas palavras do Ministro João Galamba, deixou de ser possível negar o envolvimento, directo ou indirecto, do próprio 1º Ministro em toda esta trapalhada, pelo que parece legítimo concluir:
– O 1º Ministro António Costa terá mentido aos seus concidadãos, relativamente ao seu alegado desconhecimento sobre a intervenção do SIS, à luz do comunicado emitido em 1 de Maio passado pelo seu Gabinete, posteriormente contraditado pelas declarações de João Galamba na CPI em 18 de Maio…
Se não mentiu, o que neste momento parece pouco corroborável, competir-lhe-á comprovar a sua isenção de culpa, o mais rapidamente possível, de forma cabal e categórica, a bem da insuspeição, da credibilidade e da integridade do seu Governo e de si próprio, enquanto Chefe do mesmo…
E, sim, isto é “política”, que também tem a ver com Educação, desde logo por não ser possível ignorar o seguinte:
– O 1º Ministro António Costa, enquanto Chefe do Governo, é o principal responsável por todas as medidas governativas, incluindo, obviamente, as da Área da Educação;
– A actuação do 1º Ministro António Costa, enquanto Chefe do Governo, aqui censurada, pelos motivos já apontados, não poderá deixar de ter reflexos e consequências óbvias nas formas de actuação dos restantes membros do Governo, incluindo, naturalmente, a do Ministro da Educação e, por arrasto, as de todas as estruturas que compõem o Ministério tutelado por este último…
Em todos os países democráticos, a actuação de qualquer 1º Ministro não poderá deixar de ser vista como o exemplo a seguir pelos restantes membros de um Governo…
E daí se poderão retirar as mais variadas ilações para o caso em apreço…
Pelo “andar da carruagem”, António Costa, enquanto Chefe do Governo, arrisca-se a ser considerado como o principal responsável pela transformação do país num potencial antro de mentira e de ultraje…
O Ministério da Educação, pelo seu desempenho, frequentemente ardiloso e perverso, tem-se constituído como uma ilustração paradigmática do anterior, contribuindo, de forma significativa, para o atolamento do país…
Sobretudo nas circunstâncias actuais, não é razoável que os profissionais de Educação fiquem alheados ou que se demitam ou abstenham de fazer qualquer análise de natureza política, sob pena de ficarem reféns da ignomínia e da mentira, que lhes quiserem impor…
Precisa-se de coerência entre a Cidadania teórica e a prática da mesma…
Uma nota final para o comportamento do 1º Ministro, no dia em que o seu indefectível Ministro João Galamba se encontrava a depor na CPI:
– Na noite de 18 de Maio, enquanto “o país estava a arder”, António Costa divertia-se, alegremente, num concerto em Coimbra, como se a normalidade imperasse neste “paraíso à beira-mar plantado”…
Quem quiser que avalie e qualifique tal comportamento, de preferência, sem esquecer, na sua análise, que o mesmo ocorreu num dos momentos mais graves e conturbados, desde a instauração da Democracia…
Será caso para afirmar: “Viva La Vida”, que o país pode esperar…
(“Viva La Vida”, canção dos Coldplay).
(Paula Dias)