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O Projecto MAIA tem andado a “pregar aos peixes”?

Afinal, e contrariando muitas expectativas, os Exames Nacionais obrigatórios no Ensino Secundário não acabarão, antes pelo contrário…

Alegadamente, por pressões exercidas pelo Ensino Superior, o Ministro da Educação não terá tido outro remédio que não fosse o de decretar o regresso, em força, já no próximo Ano Lectivo, dos Exames Nacionais no Ensino Secundário…

Assim sendo, esses Exames recuperarão a sua antiga importância, ou seja, voltarão a ter um duplo efeito, que já existia previamente à pandemia, pelo que passarão a relevar para concluir o Ensino Secundário e para ingressar no Ensino Superior…

Além disso, todos os alunos terão que realizar três Exames: Português obrigatório e dois escolhidos por si…

A pergunta, irónica e sarcástica, que vem imediatamente ao pensamento é esta:

– E o Projecto MAIA saberá disto?

O Projeto MAIA tem emitido muitos documentos. Num deles, refere-se expressamente o seguinte (o negrito é meu):

As práticas de avaliação dominantes em contexto escolar assentam no uso de um único tipo de testes (os testes usados para classificar) que, nas suas opções fundamentais, segue o modelo do exame e da avaliação externa: é concebido com características psicométricas que procuram discriminar ao máximo as diferenças entre os alunos, são administrados de modo coletivo, simultâneo e uniforme e são restituídos sob a forma de uma classificação (e/ou através de uma menção qualitativa) de acordo com a escala adotada. De resto, este tipo de testes, com a ilusão de uma alegada objetividade, acaba por ser reforçado por sistemas educativos que sobrevalorizam os exames nacionais e que incutem um carácter altamente seletivo à escola e, por inerência, às práticas de avaliação, dando origem ao fenómeno de “ensinar para os testes”. (Projeto MAIA, Folha 13, páginas 8 e 9: Para uma abordagem pedagógica dos testes)…

Depreende-se do anterior que:

– O Projecto MAIA censura a prática dominante em contexto escolar dos “testes usados para classificar”, ao mesmo tempo que considera que esse tipo de testes cria a ilusão de objectividade e que também é típico dos Sistemas Educativos que sobrevalorizam os Exames Nacionais…

O Ministério da Educação, que tem sido um acérrimo defensor, e transmissor, da “doutrina” e da prédica do Projecto MAIA, vem, agora, contradizer-se de forma clamorosa, voltando a atribuir aos Exames Nacionais uma assinalável importância, ao que tudo indica, não reconhecida pelo Projecto MAIA que, ao invés disso, parece desaprová-la…

Plausivelmente, esta situação significará que o Ministério da Educação é susceptível de ser influenciado por determinadas pressões, neste caso exercidas pelo Ensino Superior, e que isso bastará para se instalarem incoerências e contradições, deitando “por terra” algo que parecia “intocável” e irrevogável…

Por outras palavras, lá se vão as “teorias” todas porque a prioridade, neste momento, será satisfazer certas vontades e coerções…

A “fragilidade” e a artificialidade das presentes medidas educativas ficou, assim, bem à vista de todos…

Como compatibilizar a “coabitação” dos argumentos do Projecto MAIA com a importância agora atribuída à avaliação externa, traduzida pelos Exames Nacionais de carácter obrigatório, tidos como indispensáveis pelo próprio Ministério da Educação?

Em resumo, parece observar-se isto:

– Andou tanto tempo o Projecto MAIA a perorar que os testes que não avaliam e que apenas classificam não são bons;

– Andou tanto tempo o Ministério da Educação a defender que o Projecto MAIA é que tinha razão e a promover os respectivos postulados;

– E, agora, de repente, vem o próprio Ministério da Educação dizer que, afinal, os testes que não avaliam e que apenas classificam é que são bons, parecendo “tirar o tapete” ao seu “parceiro de evangelização”…

Confuso? Incoerente? E intelectualmente desonesto?

Pois, parece que sim, sim e sim. Ou seja, estaremos, provavelmente, perante mais uma trapalhada made in Ministério da Educação, que tão depressa afirma como, a seguir, contradiz o que afirma…

Acresce-se, ainda, que a política do sucesso escolar fácil, “instantâneo” e artificial, difundida nos últimos anos e traduzida, muitas vezes, por taxas de progressão a rondar os 100% em termos de Classificações Internas Finais, talvez também não seja muito consonante com os resultados que vierem a ser obtidos nos Exames Nacionais, a não ser que o IAVE ajude o Ministério da Educação a resolver mais esse imbróglio, “regulando” a dificuldade dos Exames, tornando-os, se necessário, mais “acessíveis”…

No fim de tudo isto, fica-se com dúvidas sobre quem é que efectivamente tem andado a enganar e quem é que efectivamente tem sido enganado…

A única certeza é que, sobretudo, os alunos têm vindo a ser inegavelmente enganados por uma Escola que esconde e “branqueia” a Realidade, restringindo, dessa forma, a sua capacidade de auto-controle e de gerir a frustração, a ansiedade e a angústia, ao mesmo tempo que induz expectativas dificilmente concretizáveis…

E o que aqui está em discussão nem sequer é a defesa da abolição ou da continuidade dos Exames Nacionais…

O que aqui está verdadeiramente em causa é a falta de coerência e de validade das medidas educativas decretadas pelo Ministério da Educação, que se vão apresentando, cada vez mais, como inconsistentes e atabalhoadas…

E se o Projecto MAIA já anteriormente poderia ser considerado como um potencial fiasco, sobretudo por se traduzir por uma fantasia, fundamentada em pressupostos teóricos inconcretizáveis e sem benefícios perceptíveis em termos práticos, depois desta hipocrisia do Ministério da Educação, ficará irremediavelmente posto em causa, pelo menos se existir discernimento em ambas as partes…

No caso presente, talvez faça sentido perguntar:

– O Projecto MAIA tem andado a “pregar aos peixes”?

De forma caricata, aqui a figura dos “peixes” bem poderá ser representada pelo próprio Ministério da Educação…

 

(Paula Dias)   

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13 comentários

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    • MR on 8 de Fevereiro de 2023 at 21:29
    • Responder

    Não vejo contradição. Considero que não devemos treinar os alunos para os exames e que, se aplicarmos adequadamente os critérios da avaliação pedagógica, eles terão boas probabilidades (acho até que melhores que os alunos “amestrados”) de se saírem bem nos exames nacionais. Os princípios em que assenta o projeto Maia (e que têm pouco ou nada a ver com mil e uma grelhas e rubricas) são parentes próximos da escola moderna e dos ensinamentos pedagógicos de George Freinet e de Paulo Freire que me parecem ser o caminho a seguir.

      • Aquele que nenhum censorzeco calará on 9 de Fevereiro de 2023 at 0:57
      • Responder

      ” Os princípios em que assenta o projeto Maia…”
      Mas que princípios? Desde quando é que uma mera verborreia emanada de um grupo de burros tem princípios? O MAIA é uma espécie de vómito que jorra da boca de gente sem neurónios. Pena é que não haja um autoclismo que limpe essa m€rda de uma vez.

      • AP on 9 de Fevereiro de 2023 at 12:23
      • Responder

      Inteiramente de acordo consigo.
      Cara Paula Dias não conheço as suas motivações, mas revela conhecer muito pouco acerca do que escreve. Uma coisa é certa, consegue criar entropia (no modo como descontextualiza partes dos textos); agora contribuir para o bem da escola, tenho dúvidas, se pensarmos que esse bem é a qualidade das aprendizagens dos alunos, e que estas não se fazem sem uma avaliação pedagógica, bem pensada e refletida.
      Ora o Projeto MAIA é um projeto de formação de professores em avaliação pedagógica. Não mais do que isso! O que os professores e direções fazem com as suas reflexões e decisões é que muitas vezes é questionável… e é verdade que em algumas unidades orgânicas o processo nasceu mais que torto!!!

        • Paula Dias on 9 de Fevereiro de 2023 at 15:08
        • Responder

        Se para si “entropia” for veicular uma opinião que contraria o “sistema” ou o “paradigma” vigente, então, por esse ponto de vista, eu conseguirei mesmo criar “entropia” e, com toda a franqueza, orgulho-me disso…

        E só contrario o “paradigma” vigente porque, contrariamente ao que afirma, conheço muito bem a realidade sobre a qual escrevo, talvez até bem de mais… Já, agora, não descontextualizei qualquer parte do texto citado, como muito bem saberá…

        Concordo que as aprendizagens dos alunos não se fazem sem uma avaliação bem pensada e reflectida, mas não consigo reconhecer quaisquer benefícios ou contributos que possam ser outorgados pelo Projecto MAIA a essa avaliação… Conseguirá o(a) caro(a) AP elencar o que eu não consigo?

        Se o Projecto MAIA é apenas um projecto de formação de professores em avaliação pedagógica, sem a aspiração de querer ter qualquer repercussão prática, como AP parece querer afirmar, para que serve?

        Que efeitos práticos daí decorrem?

        Para que servem teorias ou reflexões teóricas que não gerem possíveis aplicações práticas, com benefícios reconhecidos?

          • AP on 10 de Fevereiro de 2023 at 9:19

          Cara Paula Dias
          A formação em avaliação pedagógica é fundamental. Antes do Projeto MAIA em quantas escolas esta não consistia apenas nisto:
          – Dois testes lançados por período, feita a média e depois estava feito! Também se diversificavam “estratégias” com minitestes….
          – Os alunos faziam a sua autoavaliação, no final do período. Eram confrontados com o olhar do professor sobre o seu comportamento/ trabalho sala de aula, etc. sem que fosse claro para eles… Já durante o período letivo, apenas eram feitas chamadas de atenção. Ora, a possibilidade de irem refletindo sobre o que está mal e como podem fazer para melhorar, não era assegurada…
          – O feedback não era entendido, como um sistema; apenas um comentário ou pequena anotação individual… Ora há possibilidades de o fazer sem que isso acarrete mais trabalho… mas é preciso estudar como fazê-lo

          Cara Paula, outros pontos poderia adiantar. É óbvio que nada do que atrás referi é novo. Já está nos compêndios há umas décadas. Mas, o Projeto MAIA veio atualizar, e trazer leituras mais fáceis e sistematizadas…

          Nós os professores, que trabalhamos diariamente na sala de aula precisamos destes aportes, isto é, o Projeto MAIA cumpre a sua função se eu fizer caminho para ser melhor professor, conseguir chegar mais aos meus alunos, comprometê-los com as sua aprendizagens…
          Depois o que alguns fizeram com mirabolantes Referencias, cheios de rubricas, indicadores, critérios, sistemas de classificação “estranhos” é outra coisa!
          Cumprimentos, e acredite que a “leio” e gosto da sua forma crítica de ler a realidade, mas neste caso, continua a afirmar que não foi feliz.

    • Rui Manuel Fernandes Ferreira on 8 de Fevereiro de 2023 at 21:34
    • Responder

    O projeto MAIA já alcançou o seu objetivo, mais de 10 milhões de euros (do POCH e da FCT) para o ISCTE da Maria de Lurdes Rodrigues e do Domingos Fernandes.
    O Domingos Fernandes, no CNE, já está noutra, denomina-se de DICA e já conta com alguns parceiros nas associações profissionais das disciplinas. Agora é que vai ser!!!
    MEDÍOCRES

      • Jonh on 8 de Fevereiro de 2023 at 22:44
      • Responder

      O que é a DICA ?
      Esse patife do Domingos Fernandes está a desgraçar isto tudo! É um bandido pedagógico!

    • Mic on 8 de Fevereiro de 2023 at 22:02
    • Responder

    Quem é que efectivamente tem andado a enganar?
    O Ministério, acima de tudo; as direções; os Conselhos Pedgógicos e, por arrasto e sem muitas vezes concordarem com o sistema, os próprios docentes.

    Quem é que efectivamente tem sido enganado?
    Acima de tudo, os alunos. Tem sido ainda enganadas as famílias (que, por vezes, preferem tal), a sociedade nacional, as empresas e, claro, a Comissão Europeia.

    O projeto Maia?
    Quem quiser, que fique com ele. Eu rejeito claramente tal aberração utópica.

      • Mic on 8 de Fevereiro de 2023 at 22:05
      • Responder

      Digo, têm…

    • AO on 8 de Fevereiro de 2023 at 22:55
    • Responder

    Só pelo facto de se chamar Maia, uma aberração pedagógica, é um insulto à cidade da Maia!

    • Estou farto on 9 de Fevereiro de 2023 at 12:04
    • Responder

    Acho lamentável que o ME imponha ao ESecundário o que quer o ESuperior.
    Se o ESuperior quer outro modelo de seleção, que o implemente.

    • Rui Manuel Fernandes Ferreira on 9 de Fevereiro de 2023 at 18:23
    • Responder

    O projeto MAIA é um equívoco, 1/3 do que diz está certo e sempre se fez na escola, 1/3 é incompatível à ação do professor (somente como investigador) e o outro 1/3 é pura ignorância.
    Também aqui os defensores do projeto se fazem ouvir. Para estes não basta seguir a aberração, têm, ainda, de tentar vergar todo aquele que discorda. Isto funciona como as SEITAS (grupo organizado de carácter fechado – in priberam). Para eles digo: vão em paz e apliquem! A cria será, sempre, estéril.

    • Esteves on 9 de Fevereiro de 2023 at 20:22
    • Responder

    Ainda bem que os exames se mantêm, contra a vontade do governo, até o Marcelo teve de intervir para que não acabassem com eles. Os exames são a única forma objetiva de medir o sucesso do ensino obrigatório no final dos ciclos. Deviam voltar os da quarta classe e do 6º ano… . O facilitismo é i pior inimigo da escola publica… O projeto MAIA é um plágio do que já se ensina nas universidades via ensino, desde a década de 1980…Em nada contraria a exigência dos exames… O “projeto Maia” foi um bom negócio para muita gente…Enquanto impedem os professores de +progredirem na carreira e praticam uma avaliação corrupta dos professores os boys do PS e do PSD enchem os bolsos, nos centros de formação. Portugal nunca foi tão mal governado como é neste momento…

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