Não bastará já de abnegação e de altruísmo?

 

À saída de mais uma ronda negocial com o Ministério da Educação, eis que Mário Nogueira vem agora defender o seguinte:

Reconhecemos a situação em que o país vive”, diz o secretário-geral da Fenprof, admitindo que não se possa “resolver de um momento para o outro os problemas todos”. Por isso, estamos disponíveis para ter um protocolo de legislatura com prioridades e faseamentos.” (Notícias SAPO/ECO, em 2 de Fevereiro de 2023)…

Não se pode “resolver de um momento para o outro os problemas todos”?

 

Com o devido respeito institucional, é preciso “ter muita lata” para proferir a afirmação anterior…

 

Mas os problemas de agora já existem há, pelo menos, 7 anos… O que fez Mário Nogueira ao longo desse tempo para os resolver?

 

Não fez praticamente nada porque as suas preocupações maiores talvez fossem outras, nomeadamente a de seguir uma determinada cartilha política, plausivelmente vinculada a agendas e a fretes partidários, que expectavelmente não teriam qualquer interesse em afrontar o Governo pela “Geringonça”…

Os problemas não teriam que ser todos resolvidos de uma só vez, se Mário Nogueira e a FENPROF, ao longo dos últimos 7 anos, tivessem encetado acções efectivamente consequentes ou de ruptura, como lhes competia…

Com o devido respeito institucional, Mário Nogueira parece estar disponível para voltar a “vender” os Professores e concretizar mais uma traição aos mesmos, à semelhança do que sucedeu em 2010, quando a FENPROF cedeu a um trágico acordo com o Ministério da Educação…

Mário Nogueira e a FENPROF não podem agora “assobiar para o lado” e fazer de conta que não contribuíram para o estado comatoso em que se encontra a Carreira Docente…

Mário Nogueira e a FENPROF não podem agora fazer de conta que não estiveram “hibernados” ao longo dos últimos 7 anos e que a sua actuação não foi dominada pela cedência e pela inércia, expressas por “pactos de não-agressão” face às políticas educativas do Ministério da Educação…

A Classe Docente sofreu o maior vilipêndio de que há memória em 2017, com implicações definitivas e prejuízos irrecuperáveis em termos salariais e, como se isso não bastasse, tem-se visto obrigada a executar um ininterrupto trabalho insano, principal consequência de um prolixo “pensamento iluminado”, que tem dominado as políticas educativas…

No geral, as escolas funcionam num regime ditatorial, como se fossem infernais “rodas de hamster”, sem consciência, sem senso e sem pensamento crítico e, nos últimos 7 anos de Legislatura, nunca o Governo encetou qualquer diligência no sentido de revogar o actual modelo de gestão…

não há como escamotear ou ignorar que em 2008 (instauração da Ditadura nas escolas) e em 2017 (subtracção de mais de 9 anos de tempo de serviço à Classe Docente) estavam em funções Governos apoiados pelo PS, ambos pautados pela obstinação, arrogância e prepotência políticas… E aqui não há lugar para interpretações subjectivas, trata-se de uma constatação factual…

As “agressões” infligidas pelo PS aos profissionais de Educação não costumam ser metafóricas… As sucessivas bordoadas aplicadas por esse Partido Político têm sido muito reais e concretas, com consequências desastrosas e danos irreparáveis…

Acresce-se que, em 2019, António Costa, que já era 1º Ministro, fez uma inadmissível chantagem, ameaçando com a demissão do Governo, se a Assembleia da República aprovasse o Diploma que previa a recuperação integral do tempo de serviço dos Professores…

A presente Legislatura está apenas no início, mas, e pelo que se viu no passado e que continua a ver-se no presente, não se auspicia nada de bom, no futuro próximo para os profissionais de Educação…

Assim sendo, importa perguntar:

– Os profissionais de Educação estarão dispostos a continuarem a aceitar a condição de “párias”, que lhes foi atribuída e imposta por António Costa e pelos seus Ministros da Educação?

– Os profissionais de Educação estarão dispostos a contentar-se, mais uma vez, com as “migalhas” que o Governo lhes queira dar?

– Os profissionais de Educação deixarão que tudo volte a ser como era antes da presente luta, aceitando remeterem-se ao silêncio e à resignação, retomando a “normalidade” tão desejada pelo Governo e pelo Presidente da República?

A Escola Pública já teria colapsado há muito tempo, não fosse a abnegação e o altruísmo de muitos profissionais de Educação que, em troca, têm sido “agraciados” com injustiça e com discriminação…

Está mais do que na hora dos profissionais de Educação exigirem o que é seu por direito, de serem ressarcidos e de não aceitarem, entre outros, o ignóbil roubo de tempo de serviço…

Aceitar “faseamentos”, e outras patetices, é deixar que se repitam os erros do passado…

E nem valerá a pena considerar aqueles argumentos que referem a falta de dinheiro como justificação para não melhorar as condições de trabalho dos profissionais de Educação…

Um colossal erro cometido em 2017 ainda não foi reparado por falta de dinheiro?

Só a “festa” realizada por José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues, paradigmaticamente ilustrada pelo Programa da Parque Escolar E.P.E., terá dilapidado ao erário público a astronómica quantia de 2,3 mil milhões de euros, para reabilitar pouco mais de 150 Escolas Secundárias, segundo dados divulgados pelo Tribunal de Contas, também em 2017…

Todos os dias se constacta que dinheiro há muito, dependendo apenas das prioridades… O que não há é vontade política para reparar injustiças que nunca deveriam ter acontecido…

Não bastará já de abnegação e de altruísmo? Reclame-se o que, por direito, pertence aos profissionais de Educação…

Há momentos em que existem apenas duas alternativas: ou agir ou “calar-se para sempre”… Este é o momento de agir…

E, com toda a certeza, será preferível não haver acordo do que ceder a um mau acordo…

Just saying…

 

(Paula Dias)

 

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7 comentários

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    • Tretas... on 4 de Fevereiro de 2023 at 9:08
    • Responder

    Isto dever ser gozo, só pode.

    Depois queixem-se quando o povo se radicaliza em “democracias” que só servem os interesses dos do costume.

    • Carlos Moreira on 4 de Fevereiro de 2023 at 10:17
    • Responder

    É os sócios desta “Fenprof”refletirem se vale a pena continuar a “alimentar” este sindicato, que na minha opinião apenas vem empatando os professores há cerca de 15 anos!

    • Prof em luta! on 4 de Fevereiro de 2023 at 10:31
    • Responder

    Estas negociações são uma fantochada nunca antes vista para simplesmente ficarmos pior do que estamos. No passado sempre que houve negociações para alteração da legislação era enviada aos sindicatos as propostas de alteração do decreto-lei 132 e agora andamos a perder tempo com powerpoint, pdf´s e diz que disse e desmente para ir somando reuniões que na prática não sabemos como fica o texto final.

    Ouvi o Nogueira dizer que o ME quer fazer uma espécie de acordozinhos com este e aquele aspeto. Isto é um disparate. A proposta da legislação de concurso deve ser apresetada e merecer no final ( a manter-se as más intenções do ME) um valende “NÃO ACEITAMOS”, porque somos todos professores e o diploma tem de ser justo para todos e não continuar a dividir para reinar. Quem hojé é contratado amanhã pertence aos quadros (hoje quer vincular mas amanhã estára nas listas das vagas), quem hoje é QZP amanhã é Qa/QE ou ainda muitos anos QZP e continuará com a casa às costas ou a correr feito louco a tapar os buracos de substituições nos novos QZp´s.Etc. Etc.

    Qual é a regra? Não é a graduação profissional? Então para quê mais critério para vinculação (tem horário completo ou incompleto, é anual ou é temporário, etc, etc). Abram as vagas em Qa/QE/QZP e deixem todos concorrer num concurso interno/externo com recuperação automática de vagas, garantindo, no entanto, a vinculação de 10 000 ou 11 000 professores. Deixem a pessoas concorrer pela graduação profissional. Agora também acho que os tais 3 anos de serviço deveriam ter sido prestado no ensino público e nos últimos 3 anos terem no mínimo x dias de serviço.

    A proposta de vinculação é injusta para todos pois vai levar as ultrapassagens não só de contratdos como do pessoal do quadro.

    Outro critério errado: os contratados vão vincular no qzp correspondente à sua escola de colocação em 22/23, mas os QZP´s atuais serão OBRIGADOS a concorrer em 23/24 a TODOS OS MINIQZP´S do seu QZP gigante? Isto faz algum sentido? Vão encher os QZP´s de contratados (alguns virão do privado com graduações altas) e depois é que vão dar a hipótese aos que estão em QZp´s antes de 2013 e que nunca mais conseguiram aproximar-se????

    Não aceitaremos a porcaria do conselho local de diretores. Isto merece a continuação da luta. O ME que continue com concursos centralizados. Isto não pode ficar! Queremos a mobilidade interna e a contratação inicial. Os Qzp´s devem puder continuarea a manifestar preferências por escolas fora do seu QZP. A CASA ÀS COSTAS NÃO É SÓ PARA OS CONTRATDOS, MAS TRAMBÉM PARA QZP. Não é aos 50 anos que se fixam pessoas a várias dezenas ou centenas de Km de casa.

    Em termos de carreira, antes de qualquer faseamento de recuperação de tempo de sreviço é urgente terminar de imediato com quotas e vagas e recuperar isso sim todo o tempo ROUBADO nas listas de acesso aos tais 2 escalões. Para quê recuperar tempo de serviço, para voltar a queimá-lo nas listas de vagas.

    Aliás se querem guerra é guerra que temos de lhe dar. Desafio todos os AVALIADORES INTERNOS E EXTERNOS a darem 10 a todos os professores. As SADD´s deveriam ter propostas de avaliação em todos os professores de 10. Vamos todos implodir esta porcaria de avaliação, que avalia para depois baixar, rebaixar, humilhar, criar mau ambiente. Estes governantes são uma nódoa de corrupção e desgoverno e depois criam estas leis de M…. da desgraçar quem trabalha.

  1. Lá vêm este Sindicato fazer o Papel do seu
    ( Dono ) !!!!
    – Secretário Estado da Educação…
    Afinal se juntou à Luta , para no fim dar uma
    (( Facada pelas Costas ) aos Professores . E fazer pequeninos acordos, sem efeitos práticos .
    Se vende a tão pouco, para ter protagonismo na opinião pública.
    Mas este Nogueira , até estava a descartar a sua Greve para Março…..
    Afinal andava a fazer o papel deste Governo, a tentar perder tempo. E assim o ano lectivo 2022/23 , ia acabando sem que houvesse mudanças de Luta pelos direitos dos Professores.

    Só que o Nogueira arranjou uma forma , e se juntou à luta, para depois perder tempo em pequeninos acordos .. E vem fazer o Papel do Governo novamente e do ME.

    – A Luta não são pequenos acordos……

    E sim lutar pela lei justa por MPD e sem componente lectiva, e sem distâncias 20 kilometros.
    Um dia os Professores poderão ter infortúnio nas suas vidas , e até por várias doenças incapacitantes. E terão usar a lei MPD.

    • Pobre Povo on 4 de Fevereiro de 2023 at 12:14
    • Responder

    Um partido Socialista, repito, Socialista, está a minar sub-repticiamente todos os sectores estatais.

    Sem digna oposição.

    Saúde, educação e justiça.adequadas? No futuro só acessíveis a quem tiver os bolsos bem cheios.

    • Carla Duarte on 4 de Fevereiro de 2023 at 14:58
    • Responder

    “Reconhecemos as condições em que o país vive”.
    Reconhecemos as condições em que os docentes vivem…
    É triste, vergonhoso e lamentável…

  2. O Nogueira já vem de longe !!!
    – Até existe um slogan adequado para ele .( do vinho do Porto ) …
    – ” Atrás da Capa ”
    – Anda assim por trás de uma Capa , o Nogueira à anos em conformidade com o ME, e seus amigos.
    – E não luta pelos direitos perdidos dos Professores.
    – E quando o Governo é PS , aí se senta numa cadeira com seu grande amigo Secretário de Estado da Educação !!!!
    – A fazer de conta que está na Luta pelos direitos dos Professores. E depois vem sempre com ( Paleios ) a empatar. Que não pode ser para todos …

    – Este discursos tem anos , quando tenta fazer acordos. E desde 2015 novamente andou desaparecido das lutas . Tirando a Pandemia.

    – O Nogueira é um ( Empata ) e destabilizador das Lutas dos Professores…

    E não esquecer que se está a Lutar, por várias leis injustas que saíram no Governo Sócrates.
    E que continuam desde 2015 deste Governo Costa, e atualmente outras do ME ( MPD ) etc

    E que o PS andou anos a fazer propaganda e contra -informação contra antigos governos.
    E que ainda fazem esse tipo de ataques. Mas as verdades se encontram em pesquisa online, que os Governo do PS tem tirado direitos aos Professores, Assistentes Operacionais, Técnicos Administrativos etc .
    E começou no Governo Mário Soares, tirou diuturnidades etc …

    https://observador.pt/opiniao/mario-nogueira-o-verdadeiro-ministro-da-educacao/

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