A greve dos professores é necessária, assim como a greve cirúrgica dos enfermeiros foi imprescindível. E porque é que eu encontro aqui muitas semelhanças? São dois tipos de greve massivas, bem organizadas, populistas, justas e bem fundamentadas. Hoje o governo pede um parecer à justiça sobre a legalidade da greve numa tentativa frustrada e desconcertada pôr termo à greve. De inibir os direitos dos trabalhadores. De emudecer uma classe em luta pela justiça da profissão, mas também pelo salvamento da escola pública. Tudo isto decorre sobre uma governação fraca, punitiva, pouco empática, que não assume responsabilidades. Que diz e desdiz e volta a contrariar, baralha para dizer que afinal os professores estão confusos (ou talvez senis) de tão envelhecida classe. Não faltará muito tempo a chamá-los de criminosos como foram os enfermeiros apelidados quando se uniam deseperados pelo despedaçar mordaz da profissão, sem qualquer piedade. Eu senti isso na pele. Os meus colegas sentiram isso na pele. As lutas de egos. Os poderes. Os dedos apoentados à cara. Os insultos. As bofetadas sociais e o enxovalhamento. A falta de apoio. Mas tudo isto serviu, pelo menos, para que todos entendessem a importância da união da classe profissional e falta que os enfermeiros fazem no sistema, mesmo com cuidados minimos. A greve cirurgica foi uma solução que entendi, desde sempre, como um ato de grande revolta pela surdez crónica de sucessivos governos. Os professores estão numa barca frágil onde outrora eu também já tive que remar.
Não deixem, por nada, que vos absorvam os direitos de uma luta justa pela educação e formação de um país decadente. Saibam que a última palavra é vossa. Eu também sou formador na escola pública e trabalhei anos, lado a lado, com professores heróicos, empenhados, com iniciativas educativas importantes que constroem, muitas vezes, do seu tempo pessoal e do seu dinheiro. Eu sinto-me um pouco professor porque provei várias vezes dessa dor. Aprendi muito, lado a lado com eles, sobre resiliência e motivação na escola pública, enquanto formador.
Os professores têm um trabalho desgastante. Levam para casa uma cabeça rota de problemas, preocupações, decisões que influenciarão, provavelmente, vidas de pessoas para sempre. Eu também, quer seja dentro da sala de aula ou dentro do internamento hospitalar.<
Quero, de resto, agradecer, a luta, a força e a audácia que têm e, ainda que esta seja uma mera publicação pessoal, dizer-vos que não estão sozinhos. Vão à luta!!
Hélder Teixeira, Enfermeiro
4 comentários
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Muito agradecido.
Grato pelo apoio
Obrigada, Hélder Teixeira!
Muito grata pelo seu apoio! Bem haja!