Não aprendemos com todas as pessoas que se dispõem a ensinar-nos. Aprendemos, sobretudo, com aquelas que, pelos seus exemplos, vale a pena aprender. Porque nos destapam conhecimentos tão óbvios que, de repente, eles não têm como deixar de fazer parte da nossa vida. Porque o seu entusiasmo, ao pensarem-nos junto de nós, nos arrebata e ele passa a ser nosso, também. Porque transformam enredos semelhantes a labirintos em simples peças da Lego cuja utilidade nem se questiona, tal é a forma como o conhecimento cresce e se aprofunda com elas.
Não, não é verdade que tenhamos aprendido tanto como podia ter acontecido com todos os professores. Mas se isso é verdade em relação a muitas das coisas que eles se propuseram ensinar-nos, guardamos histórias, episódios, maus exemplos (também), gestos e um sem número de pequenos-nada que fazem deles, para sempre, nossos professores.
É por isso que sentir os professores, neste momento, numa espécie de exercício do seu direito à indignação nos devia deixar atentos e orgulhosos.Reconheço que nem sempre os motivos que alegam possam ser, todos eles, bem fundamentados. E reconheço que o ministro contra o qual protestam é um homem sério e empenhado. Mas sente-se que esta “onda” é um esbracejar contra a indolência com que parecemos viver a importância dos professores. Contra uma espécie de saltibanquice ou correria desenfreada “escola acima, escola abaixo” que traz agitação ao arrojado desassossego de quem ensina.Contra a forma como as condições de trabalho, as oportunidades e o respeito pela formação são, continuadamente, “atropelados”. Contra uma ideia falsamente séria e igualitária de trazer “ciência” à paixão de ensinar que se tem transformado num exercício burocrático que esmifra, consome e empalidece o prazer de ser professor.Contra o modo como se desrespeita o nobre acto de ensinar ao permitir-se que haja cada menos professores e cada vez mais licenciados, sem formação, que ensinam.
Será um direito à indignação. E é um exemplo que nos deve orgulhar. Porque quem questiona, quem se insurge e quem quer mudar a escola a torna mais viva, mais preciosa e mais indispensável. E, sendo assim, vale a pena aprender com os bons exemplos.
Eduardo Sá