Imaginem uma turma do último ano do ensino obrigatório, num curso de prosseguimento de estudos, onde se constata que de uma turma de cerca de 30 alunos, somente um 1/3 tem aproveitamento, em várias disciplinas.
Um dos professores, que os acompanhou no primeiro ano do ensino secundário, e agora os voltou a acompanhar, constatou que no percurso do secundário, o número de alunos, que deixou de ter motivação para se esforçar e trabalhar, duplicou. Portanto, o sistema falhou redondamente, havendo cada vez mais alunos, nesta turma, que deixaram de se interessar pelas aprendizagens e portanto pela escola.
Como é que isto aconteceu? O professor que os conheceu no início do secundário, informou que logo no início do ano inicial do secundário foi equacionada a hipótese de alguns alunos mudarem de curso, onde não tivessem matemática, proposta que foi rejeitada quer em relação aos cursos profissionais, cada mais recusado devido ao medo das PAPs, quer para cursos de humanidades. Estes alunos rejeitaram qualquer
destas soluções. Continuaram na turma desmotivados.
No final do primeiro ano do secundário, colocou-se a questão de reter ou não os alunos com várias disciplinas sem o aproveitamento mínimo e, por interferência da direção, com a ameaça de repetir o CT, todos os alunos prosseguiram os estudos, pelo que as notas de algumas disciplinas foram votadas de forma a garantir que não haveria retenções, com notas mínimas de 8 valores para não comprometer a
matrícula a essas disciplinas.
No segundo ano, a oportunidade dada foi desaproveitada, acontecendo até um efeito perverso, o número de alunos desinteressados aumentou, o que aparentemente significa que houve arrastamento de mais alunos para a situação de desinteresse e alheamento da escola.
No último ano do ciclo chamado de secundário, há cada vez mais alunos desmotivados, até com as notas obtidas nos exames realizados no ano anterior. Houve constatação de que a classificação dada pela escola era superior aos resultados obtidos nos exames, apesar de os professores terem avisado os alunos de
que a expetativa de notas nos exames deveriam ser medidas pelas notas obtidas nos testes e não com outro tipo de avaliação, que lhes permite melhorar as classificações.
Concluindo, o facilitismo não permitiu uma segunda oportunidade, antes pelo contrário aumentou o desinteresse, que associado, à falta de penalizações, aumentou o número de alunos desligados do conhecimento, que passaram de meia dúzia, para cerca de 2/3 à entrada do último ano. Não há estratégias possíveis de remediação nesta situação. Houve um falhanço total das teorias centradas no aluno
que não pode ter frustrações, prevalecendo um efeito de mancha negra que alastra de ano para ano. Mas, quando enfrentam a realidade nos exames nacionais a frustração prevalece. Portanto, a frustração só foi adiada.
Nov 19 2022
O facilitismo em educação prejudica os alunos empenhados. Rui Ferreira
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6 comentários
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A sério??? Só agora é que descobriram a pólvora sem fumo?????
com profissionais e com o básico, onde todos passam de ano…. por isso, quando chegam aos 9º querem lá saber… e sabem que transitarão na mesma. A mim o que me choca é que muitos dos alunos , mais do que desmotivados, são os que mais provocam, desestabilizam, agridem. No final do ano transitam na mesma.
“No final do primeiro ano do secundário, colocou-se a questão de reter ou não os alunos com várias disciplinas sem o aproveitamento mínimo e, por interferência da direção, com a ameaça de repetir o CT, todos os alunos prosseguiram os estudos, pelo que as notas de algumas disciplinas foram votadas de forma a garantir que não haveria retenções, com notas mínimas de 8 valores para não comprometer a
matrícula a essas disciplinas.”
Os professores que não sejam professores-rabinho-entre-as-pernas fazem o seu dever. Se a Direcção manda repetir a reunião, as notas são mantidas e a reunião repete-se! Ponto. Se as classificações são depois votadas em Pedagógico, isso só mostra que os membros do Pedagógico são uns merdas.
O facilitismo provoca pouca ou nenhuma mobilidade social de alunos mais carenciados.
Antigamente filhos de analfabetos chegaram a profissões de topo porque a exigência na escola era a desejável. Atualmente é zero.
Pensem no que vai acontecer daqui a uns anos. Isto vai ser um Brasil.
Conversa inócua.
Quem tem dinheiro compra o diploma (com a média que quiser). Sempre foi assim.
A conversa da exigência é para quem acha que o sistema educativo está alicerçado em critérios de justiça e mérito. Mas não está…
Há muito que isto já é um Brasil! Neste país quem quer aprender, inscreva-se em colégios, aqui já nem sei onde os alunos interessados poderão ter um ensino de qualidade! A exigência motiva, o facilitismo desmotiva, cria preguiça. Mas como o que interessa são estatísticas, vamos continuando com muita quantidade e pouca ou nenhuma qualidade. É isto o ensino em Portugal!