Greve por tempo indeterminado. E agora, professores? Alberto Veronesi

 

Greve por tempo indeterminado. E agora, professores?

O sindicato de todos os profissionais de educação (S.TO.P.) convocou na passada semana uma greve por tempo indeterminado. Esta convocação acontece depois de ter sido feita uma auscultação, em que participaram mais de 7000 docentes, dinamizada pelos blogs do Arlindo e VozProf.

Como é público, o Ministério de Educação quer alterar as regras do concurso nacional de professores. A narrativa vigente é a de que essa alteração ajudará a mitigar a falta estrutural de professores. Obviamente que só acredita nesta versão dos factos quem não estiver atento ao que na realidade se quer fazer. O objetivo último é entregar às câmaras municipais o controlo total dos concursos de professores, juntamente com a possibilidade de serem estas a nomear para todos os cargos existentes nas escolas: diretores, coordenadores de departamento e de escola e todo e qualquer cargo de liderança associado a um qualquer projeto.

No fundo, aquilo a que estamos a assistir, sem que se veja uma reação coincidente com a perigosidade da questão, é a uma tentativa de a política tomar de assalto as escolas e os seus cargos para distribuir por todos os boys partidários. Estamos a falar de mais de 5000 escolas e mais de 800 agrupamentos. Não é coisa pouca.

A ideia de atribuir a responsabilidade de selecionar os professores aos conselhos locais de diretores, que serão coincidentes com as CIM, substituindo os atuais QZP, é uma forma de estes poderem, como admitiu a Fenprof, concorrer a fundos estruturais europeus, através de projetos, e assim escolherem quem entenderem ter o “perfil” adequado, pagando com os fundos um valor que poderá até ser diferenciado de projeto para projeto.

O que está em causa é o fim dos concursos nacionais na forma como os conhecemos, deixando de parte a graduação profissional como primordial forma de seleção, passando essa seleção a ser feita com base em perfis subjetivos e pouco transparentes.

Não estivéssemos nós no país das licenciaturas falsas feitas ao domingo, dos recém-licenciados a entrarem diretamente em gabinetes de ministérios apenas porque têm um cartão partidário, de um projeto transfronteiriço absurdo e de sabermos que de norte a sul, há autarcas e ex-autarcas julgados ou investigados por violação da lei da contratação pública, e estaríamos perante uma ideia interessante. Mas não podemos ignorar a cultura reinante na nossa sociedade, que promove o amiguismo e ignora a competência, o percurso profissional e o currículo.

É isto que queremos?

Não basta termos sido os únicos trabalhadores do país a quem foi negada a recuperação do tempo de serviço? Não basta sermos os únicos que têm na carreira travões absurdos de progressão? Aqueles a quem, apesar da vasta formação académica e profissional, os vencimentos se mantiveram iguais nos últimos anos e que, mais uma vez, no próximo ano, sentiremos uma perda real de vencimento?

Queremos a extinção do concurso nacional por graduação para serem criados procedimentos concursais vagos e pouco transparentes? Queremos o fim da mobilidade interna? Queremos o fim dos QA e QZP passando a haver quadros intermunicipais? Queremos que os pagamentos aos professores sejam feitos ao abrigo de fundos europeus, não respeitando as tabelas de vencimentos? Queremos que a colocação de professores e/ou técnicos seja feita através das câmaras?

É sabido que estas medidas serão para todos os professores e não apenas para os que entrarem posteriormente na carreira.

Na essência, estas regras correspondem ao fim dos concursos nacionais, à municipalização da gestão de professores, ao fim de um estatuto da carreira docente. Se não for agora, já não haverá nada a fazer. Estamos num ponto em que, se não agirmos com firmeza, seremos cilindrados.

Santana Castilho escreveu na semana passada “Ante a tormenta que se avizinha, a participação democrática vem depois do grito de revolta. É preciso que alguém o dê! É preciso convocar, não sondar. O Sindicato S.TO.P. convocou. Agora é a nossa vez. Está nas nossas mãos.

Dos fracos não rezará a história. Organizemo-nos nas nossas escolas e demos conta do nossa força e união!

 

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18 comentários

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    • Mic on 28 de Novembro de 2022 at 16:08
    • Responder

    Muito bem explicado!
    À conta disso, três dias de greve é o mínimo que farei e que TODOS os colegas deveriam fazer.
    Ficar à sombra dos descontos nos salários dos outros é muito pouco solidário…e como foi dito, o problema afeta novos e velhos professores. Ninguém pense que se escapa através dos pingos da chuva.

      • Sardanisca on 29 de Novembro de 2022 at 2:56
      • Responder

      Este zkaramba não é o basbaque do Sardão?

        • Ricardo Freitas on 29 de Novembro de 2022 at 9:34
        • Responder

        Você deve ser dis tais que não faz nenhum. No entanto o money deve chegar-lhe a casa. Uma coisa é certa, você deve ter sido um quebra cabeças para os professores que tentaram fazer de você uma pessoa de bem. Mas cabeças ocas…

      • 123oliveira4 on 29 de Novembro de 2022 at 4:17
      • Responder

      Mesmo calado só dizes asneiras.
      Frustado.

      • PJ on 29 de Novembro de 2022 at 8:47
      • Responder

      Burgesso

      • Profrevoltada on 29 de Novembro de 2022 at 9:33
      • Responder

      Prof Karamba, esteja mas é calado e não diga asneira asneiras.
      Este ser devia ser impedido de fazer qualquer tipo de comentário neste blogue. Só sabe achincalhar toda a classe docente. As publicações são sempre depreciativas.
      Esteja calado não diga asneiras.

      • Sem equívocos on 29 de Novembro de 2022 at 9:57
      • Responder

      Pouco solidário e nada ético.

    • municipal on 28 de Novembro de 2022 at 19:11
    • Responder

    Essas pertensoes do governo sao ilegais.
    Se fosse só para quem entra na carreira ainda engolia, senão é puramente ilegal.

    Os advogados dos sindicatos não o sabem?
    Estão á espera de que^ para atuarem?

      • maior on 29 de Novembro de 2022 at 11:51
      • Responder

      Ó “colega”, não engula que parece mal.

    • municipal on 28 de Novembro de 2022 at 19:11
    • Responder

    pretensões

    • Mirtha on 28 de Novembro de 2022 at 21:41
    • Responder

    Greve??? Aqui em neste país terceiro mundista… numa classe mais do que dividida… Não estou a ver isto resultar. De uma forma geral os descendentes de Visigodos é coisa que ficou há séculos diluído. ELES sabem disse… e como sabem disse, fazem tudo o que querem com o povinho.


  1. Agora é esperar para ver se, afinal de contas, estamos assim tão mal ou demasiado bem. Até agora, estamos todos satisfeitíssimos!

    • Daniel Romeiro on 29 de Novembro de 2022 at 0:23
    • Responder

    Uma greve é um investimento financeiro, como todos sabemos investimentos pequenos não têm retorno. Aquilo a que temos assistido são greves demasiado curtas no tempo, sem efeitos reais na sociedade a não ser a perda de salário de quem a faz. Greves de um dia ou dois ou três, não têm impacto. Uma greve só deve parar quando aquilo que é reclamado sai em diário da república, até lá são apenas promessas. Hoje em dia toda gente quer mandar no trabalho dos professores. De ignorantes passaram todos a especialista em (des)educação. Uma das maiores vítimas neste aspeto tem sido o 1º ciclo, qualquer coisa que o menino não gosta, mail para a professora, portanto o nosso problema não são apenas as progressões nas carreiras, o problema é mais profundo. No caso do 1º ciclo se por acaso a ou o professor(a) diz-lhe para não serem totós, mail para professora, se por acaso (como já assisti) dizem que já não são bebés que já têm idade de se comportarem de outra forma mail para a professora, se ficou de castigo por algum motivo mail para a professora, etc, etc etc. por aí fora, portanto o nosso problema não se centra apenas nas progressões nas carreiras.

      • 123oliveira4 on 30 de Novembro de 2022 at 3:28
      • Responder

      Tem razão Daniel mas o que vejo constantemente é que os professores “põem-se a jeito”, dão o seu nº de telefone aos papás, criam e entram em grupos de whatswapps com os pais, respondem aos e-mails a qualquer hora do dia e da noite (inclusive ao fim-de-semana), etc, etc.
      Depois estão à espera do quê? Milagres?
      Talvez seja por muita culpa de certos docentes que a classe profissional e qualificada mais desunida do país leva constantemente desaforos (os tais e-mails que refere no seu texto).
      Parem de ser totós e façam apenas o que vos compete, muitos docentes até parecem competir entre eles mesmos para ver quem é o diretor de turma ou professor titular mais bonzinho e amigo dos meninos e dos papás. Claro está que depois os restantes professores passam por serem maus professores.

    • Carlos Manuel Moreira on 29 de Novembro de 2022 at 10:32
    • Responder

    O problema é como isso se vai organizar! Os outros sindicatos (que são para aí 20) andam a fazer o quê?

      • Luís on 29 de Novembro de 2022 at 10:51
      • Responder

      Estão VENDIDOS.

      • RF on 29 de Novembro de 2022 at 21:57
      • Responder

      Organiza o teu orçamento, pá! Julgas que a greve vai durar dois anos? Gasta menos em p**** e vinho verde. Faz o que te compete como um ser moralmente decente e deixa-te de arranjar desculpas que nem servem para limpar o cu.

    • maior on 29 de Novembro de 2022 at 11:42
    • Responder

    “É sabido que estas medidas serão para todos os professores e não apenas para os que entrarem posteriormente na carreira.”
    Já estou a ver a solução…
    Os “colegas” mais uma vez a fo… os “contratados.

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