O jugo do conformismo, da apatia, do alheamento e da obediência acrítica, implacavelmente, transformou a maior parte das escolas em lugares onde se funciona muito, mas onde se vive muito pouco…
Muitas vezes, sem acções conscientes e intencionais e sem pensamento crítico, os automatismos comportamentais sucedem-se e repetem-se, num círculo vicioso de trabalho insano que aprisiona, praticamente impossível de quebrar…
Trabalho ininterrupto, repetitivo, sem fim à vista e, muitas vezes, sem quaisquer efeitos positivos ou finalidades claras ou definidas…
E o pior é que há muitas escolas onde já poucos parecem importar-se realmente com isso…
O conforto e a segurança proporcionados pelo hábito, pelo ritual e pela acomodação parecem fazer com que poucos se queiram comprometer com qualquer ruptura, mudança ou progresso, adaptados que estão à previsibilidade das suas (agonizantes) rotinas…
O primado da sobrevivência sobrepõe-se, muitas vezes, ao da dignidade e é dessa forma que nas escolas se vai aceitando tudo…
Com toda a lucidez, José Saramago escreveu que: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós” (Conto da Ilha Desconhecida)…
Desistentes de si próprios e dos outros, parece haver muitos profissionais de Educação que não conseguem “sair da ilha”…
Serão felizes assim?
Talvez sejam. E, se assim for, este texto não passará de uma perplexidade ou de uma inquietação alheia, sem qualquer fundamento…
Mas também podemos fingir que está tudo bem e ceder à toxicidade da “ditadura” dos afectos positivos e à falácia das aparências optimistas…
Resumindo, a pergunta a colocar será esta: adoptamos o optimismo panglossiano ou o pessimismo do Velho do Restelo?
Nem um, nem outro… Talvez Ariano Suassuna tivesse razão: “O optimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser realista esperançoso”…É imperioso “sair da ilha”… Não se pode ser esperançoso sem conseguir “sair da ilha”…
Sem “sair da ilha” não se pode auspiciar, nem lutar, por melhores salários, carreiras mais atractivas, menos trabalho insano, mais democracia…
Não “sair da ilha” é o que mais convém a quem tutela a Educação…
Plausivelmente, se muitos ousassem “sair da ilha”:
O Decreto–Lei nº 75/2008 de 22 de Abril e o actual modelo de ADD já teriam sido revogados há muito tempo e todas as suas iniquidades extintas; a Classe Docente não teria sido alvo de uma humilhante usurpação relativa ao tempo de serviço, ímpar na Função Pública desde o 25 de Abril de 1974; a Tutela respeitaria os profissionais de Educação e talvez algumas das suas legítimas pretensões fossem atendidas; o trabalho dos profissionais de Educação seria efectivamente valorizado e reconhecido…
Quem não “sai da ilha” arrisca-se a ser ignorado, a ser deliberadamente desconsiderado por terceiros ou, pior que tudo, a tornar-se “desertor” de si próprio…
Os profissionais de Educação não podem sujeitar-se a serem transformados numa espécie de alquimistas, postos ao serviço da fantasia, da ilusão e do devaneio…
Aceitar o anterior, é deixar-se anular e silenciar…
(Matilde, pseudónimo de Paula da Conceição Marques Cardoso Martins Dias).