7 de Agosto de 2022 archive

Pouco mais de 500 voltam às escolas

 

Dos 2100 docentes em mobilidade estatuária, só  547 vão regressar às escolas no próximo ano letivo.

Não devem chegar para as encomendas e vão deixar muitas instituições desfalcaras de profissionais, até CFAE’s…

 

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Há escolas onde florescem “eucaliptos”…

Há escolas onde florescem “eucaliptos”…

 

A maioria dos profissionais de Educação parece encontrar-se em “modo de sobrevivência”, que é como quem diz, vai fazendo o possível para permanecer viva e manter a sanidade mental, apesar de todas as contrariedades e “dissonâncias cognitivas” que a assolam e fustigam em termos laborais…

Após 14 anos de ditadura nas escolas, os profissionais de Educação limitam-se, agora, a sobreviver, e isso já não será pouco, dadas as circunstâncias…

Limitar-se a sobreviver costuma ser a postura mais expectável, por parte de quem se sente irremediavelmente estafado, asfixiado e agoniado com tamanha escola fictícia, postiça e travestida e com tantos pretensos “iluminados” a comandar o seu destino…

A escola de hoje, frequentemente, oprime e “castra”, ao mesmo tempo que, continuamente, formula exigências irrealistas e ilusórias…

A opressão e a “castração” costumam advir, sobretudo, das lideranças existentes em algumas escolas, muitas delas, plausivelmente mal aconselhadas pelo conforto dos respectivos gabinetes e pela isenção de horários e suplementos remuneratórios, de que comummente usufruem…

Enquanto não for revogado o DecretoLei nº 75/2008 de 22 de Abril e eliminado, ou pelo menos minimizado, o problema do défice democrático presente em muitas escolas, não existirão as condições necessárias para reivindicações sérias e consequentes de Classe Profissional, nem para se verificar a participação activa e efectiva dos profissionais de Educação nas estruturas organizacionais de uma escola…

Ao longo dos últimos 14 anos, os profissionais de Educação parecem ter vindo a interiorizar a ideia, quase sempre decorrente da sua própria experiência, de que a maioria das Direcções se constituiu como uma extensão do Ministério da Educação nas escolas, enraizando-se a convicção de que nada haverá a fazer, tanto em relação ao Poder de uns e de outros, como à cumplicidade existente entre os mesmos ou à simbiose aí observada…

O resultado mais óbvio desse juízo, costuma ser uma excruciante resignação e uma inultrapassável sensação de “abandono”, experimentadas por parte significativa dos profissionais de Educação…

A realidade mostra-nos que na maioria das escolas existe medo…

Medo que, no geral, parece obstaculizar a acção: medo de represálias, de censura e de intimidação, através do qual se mantém a hierarquia e se desincentivam eventuais insurreições…

Quem é que efectivamente manda no Conselho Geral?

Quem é que efectivamente manda no Conselho Pedagógico e Administrativo?

Quem é que efectivamente manda nos Departamentos ou nos Grupos de Recrutamento?

Quem é que efectivamente manda nas Coordenações de escolas?

Quem é que efectivamente manda na ADD?

Quem é que efectivamente manda na elaboração dos Regulamentos Internos e dos Projectos Educativos?

Sem hipocrisia, e abdicando do politicamente correcto, a resposta às questões anteriores não poderá deixar de ser esta: o Director, ou aqueles em quem o próprio delegue determinadas competências…

De que servirá uma pretensa participação diligente dos profissionais de Educação em órgãos como o Conselho Geral ou o Conselho Pedagógico, se no final prevalecer a decisão do Director?

De que servirá a apresentação de Listas de Candidatura à eleição de determinados órgãos da escola, se no final o eventual vencedor se vir obrigado a sujeitar-se e a vincular-se às decisões do Director, ou daqueles em quem o próprio delegue determinadas competências, mesmo que essas deliberações sejam contrárias ao seu próprio parecer?

De que servirão discussões internas, supostamente desejáveis e salutares, por exemplo acerca de Regulamentos Internos, Projectos Educativos ou Projectos Anuais de Actividades, se a escola estiver esvaziada de democracia participativa, minada pela farsa diária e pela hipocrisia do “faz-de-conta”?

De que servirão essas discussões, se no final prevalecer a decisão do Director ou as daqueles em quem o próprio delegue determinadas competências?

A realidade da maior parte das escolas encontra-se absolutamente mascarada, sujeita a variados “truques” e artimanhas, perversamente acobertados pela Lei, ao mesmo tempo que se tenta impingir a fantasia delirante de que essas vivências serão norteadas pela tranquilidade, pela normalidade ou até pelo optimismo…

Não é legítimo esperar que sentimentos de pertença, de identificação e de comunhão se desenvolvam e cimentem em ambientes organizacionais onde a autoridade seja exercida de forma insensata, pouco transparente e desequilibrada…

E a passividade, muitas vezes evidenciada por parte significativa dos que aí trabalham, talvez seja, afinal, a forma mais óbvia de demonstrar a recusa de participar em algumas “rábulas” ou farsas pouco dignificantes e pouco edificantes, apenas destinadas a legitimar regimes autoritários encapotados de Democracia

Perante muitas deliberações tomadas de forma unilateral, recorrentemente impostas pelos efectivos decisores, e a dificuldade prática de as contestar ou inviabilizar, por se esbarrar quase sempre no Poder desmesurado e nos privilégios concedidos à figura do Director, cada vez mais, se firmará a convicção de que certos “activismos” não valerão a pena…

Previsivelmente, essa consciência tenderá a afastar e a dissuadir o envolvimento em processos pretensamente democráticos, mas na realidade, muitas vezes, dominados pela arrogância e prepotência de quem gere e administra uma escola…

E também existirá, por certo, a percepção de que intervir em determinados “Jogos de Poder”, potencialmente viciados e desleais, poderá colocar alguns dilemas morais ou até mesmo o receio da perda de hombridade…

Há líderes que são como os eucaliptos: “secam” tudo à sua volta…

Quem se lamenta da falta de participação ou de adesão dos que trabalham sob a sua autoridade, parece ignorar que, à luz do actual quadro legal, o desempenho de cargos de Direcção espelha inequivocamente a edificação de projectos voluntários e pessoais de Poder, impossíveis de serem percepcionados e aceites como representativos de outros que não dos próprios…

Mas, e paradoxalmente, espera-se desses “outros” a motivação para participarem na concretização de tais propósitos…

Sobreviver em contextos semelhantes ao anterior pode tornar-se num desígnio agonizante para uns, mas também num portentoso “acto de fé” para outros…

E lutar por manter a dignidade, a cada jornada, parece ser uma tarefa cada vez mais difícil para os profissionais de Educação…

(Matilde)

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