Um novo ministro é sempre uma nova esperança, e mais ainda quando é um especialista das ciências da educação com um respeitável know how no mundo das escolas.
Nos meus 60 anos de profissão conheci muitos ministros. Excelentes alguns, outros meros comissários políticos para a educação, outros ainda que foram nomeados por engano.
Tiveram todos um denominador comum: nenhum conseguiu inverter a lógica centralista e burocrática do ministério da educação, nenhum confiou suficientemente nos professores e nos pais para uma gestão autónoma e responsável das escolas, nenhum conseguiu construir a escola de todos e para todos num verdadeiro clima de igualdade, de inclusão e de qualidade. O défice continua enorme e tende a aumentar.
Veiga Simão, apesar do tempo e das circunstâncias, deu talvez os passos mais destemidos, ao sair da escolaridade mínima para a escolaridade de longa duração e ao expandir as universidades públicas para além de Coimbra, Lisboa e Porto, contra o monopólio e a resistência que enfrentou com grande coragem. Aveiro, Braga, Évora, Beira Interior, Faro, foram algumas das respostas que contiveram a avalanche de universidades privadas que, salvo honrosas exceções, comprometeram o nível e dignidade do ensino superior.
Alguns ministros tiveram boas ideias e bons planos de mudança, mas não conseguiram demolir o “monstro”, leia-se ministério, que se vai mudando de esquina em esquina, mas leva consigo toda a bagagem herdada ao longo de séculos e mais aquela que acrescentou. Um baú cheio de antiguidades e memórias dos nossos bisavós. O ministério da educação que ainda temos é uma aberração, não pelas pessoas que aí trabalham e dão o seu melhor, muitas exemplares, mas pelo modelo organizacional centralista e vertical, pelo gigantismo que estagna e estrangula qualquer iniciativa local, que retira aos pais, aos professores e aos alunos toda a iniciativa, que anula toda a hipótese de participação dos principais atores das escolas na condução dos seus próprios destinos. O nosso ME herdou um instinto paralítico, paralisa tudo o que está à sua volta, com a pressão e aval de forças que agem de fora para dentro do ME. Forças ultrapassadas e anquilosantes que não vejo nos países democráticos desenvolvidos. Os alegados defensores dos professores podem ser lobos com pele de cordeiros. O ME tem de ser firme na defesa da qualidade das escolas e de quem a promove.
Hoje, a imagem mais degradante que emana do ME tem a ver com o desprezo e desprestígio dos professores, uma classe minada e gasta por muitos fatores, mas onde se salienta um genocídio de talentos, de vocações, de entregas, de profissionalismo, que morrem com a extradição para fora das suas áreas de residência, das suas casas, das suas famílias, dos seus filhos, todos votados ao abandono. Famílias desfeitas, filhos “órfãos”, pais idosos assistindo ao desmoronar da própria família e sofrendo um envelhecimento sem qualidade e sobretudo sem tranquilidade de espírito. Exagero? Ponham-se na pele de um casal de professores de Viseu com dois filhos de 2 e 4 anos, com os pais a caminhar para a idade da doença e da invalidez, ela colocada em Bragança e ele em Portimão, cada um tendo de garantir residência provisória por não terem futuro previsível, cada um tendo de fazer centenas de quilómetros para ver os filhos e os pais de fugida, com os salários insuficientes para fazer face a esta vida de andarilho. Haverá maior castigo? Os nossos tribunais, se lhes faltarem ideias para condenar os maiores criminosos, basta nomeá-los professores.
O atual ministro conhece bem o problema e parece determinado a resolvê-lo. A única maneira de resolver bem é passar a colocação dos professores para a esfera de competências das escolas. Tudo o que possa ser resolvido nas escolas é aí a sede própria. Medo do compadrio e das pressões partidárias? Há países onde um CD que recrute um professor por razões de compadrio, de partido ou outros interesses privados, é automaticamente despedido. Em Portugal o problema é melindroso porque o exemplo vem de cima. Uma grande parte do pessoal dos gabinetes ministeriais, da administração pública e das autarquias são familiares dos dirigentes ou membros do respetivo partido.
Há países onde a equipa do ME e respetivos serviços se limita a 3 ou 4 dezenas de pessoas, ou menos, porque são delegadas nas escolas todas as competências que aí podem ser geridas com melhor conhecimento das necessidades concretas. Há uns anos atrás, os serviços centrais e desconcentrados do ME ultrapassavam as 10 mil pessoas. Muitos dos “funcionários” que temos a mais são professores, davam bom jeito nas escolas. Com esta massa de administrativos concentrados no ME, as escolas perderam a iniciativa, todas as decisões são tomadas a montante. As escolas têm de pedir autorização para tudo, até para cumprir a lei. Quem manda é quem está no seu gabinete em Lisboa muitas vezes com total desconhecimento das situações concretas das escolas e de quem aí trabalha.
Não se afigura fácil a tarefa do novo ministro. Espero que tenha a mesma coragem e os apoios que teve Veiga Simão para combater o monopólio das universidades. Espero que seja o novo ministro a conseguir a libertação dos professores agrilhoados e a dar-lhes o conforto de exercer uma profissão tão desafiante e gratificante. Ainda há quem seja professor por vocação. Por quanto tempo?
diário as beiras | 09-06-2022
9 comentários
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“(…) nenhum confiou suficientemente nos professores e nos pais para uma gestão autónoma e responsável das escolas”… Eu não quero que um ME confie nos pais para uma gestão de escolas. Os professores não se intrometem nos locais de trabalho dos pais. Era o que faltava, dar poderes de gestão aos pais. Alguns nem pais sabem ser.
Finalmente um texto de jeito.. acho que certas coisas estão a mudar. Não sei quem escreveu mas acho que ver as coisas do outro lado faz perceber melhor o mundo
Esperança num ministro que já o é há 6 ou 7 anos (vem libertar-nos como os russos estão a libertar os ucranianos)????
Entregar as colocações ao nepotismo e ao TRÁFICO de influências????
Se a democracia nas escolas MORREU há 15 anos, agora até as colocações de professores passariam a salazarentas!
As perseguições e as ameaças nas escolas existem e são completamente cobertas pela igec e pelos organismos da tutela, também por isso muitos professores fogem das escolas e outros mudam sistematicamente, como se de refugiados de guerra se tratasse. Seria interessante analisar o número de professores que se AFASTA do local de residência, fugindo do assédio laboral d@ diretor@…
Existe um número significativo de cidadãos com formação adequada, muitos até aparecem nas listas de candidatos, então por que fogem da escola?
Pelo vencimento, mas também pelas miseráveis condições de trabalho a que teriam de sujeitar-se. A começar por um@ putinh@ a gerir a escola, com total impunidade do seu execrável comportamento.
É exatamente isso! Como não interessa aos mandachuvas, quase ninguém diz que o cancro que está a matar a escola a partir dos intestinos é mesmo o do diretor. Ainda não existe cura para esta doença…
Ora vejamos:
– podes nunca mais ir para uma sala de aula aturar putos ranhosos ou adolescentes malcriados;
– vais para um gabinete lá em cima com boas cadeiras, net e ar condicionado;
– recebes um suplemento remuneratório;
– todos os lambe botas passam a idolatrar-te e a sorrir muito para ti;
– gostas de saber o que dizem nas tuas costas, pois tens “orelhas” em todo o lado;
– podes oferecer os melhores horários à pandilha;
– tens isenção de horário e podes sempre inventar que estiveste em mais uma reunião;
– mandas os outros aturar as chatices pois portas-te como uma ser altivo que não se mete com a ralé e não gostas de chinelos;
– podes aparecer em todas as fotografias em primeiro plano sempre com um vestido novo depois de ires ao cabeleireiro ou afim;
Para quem é que este cargo se torna apetecível? Para gente de bom senso, democrata, equilibrada?
Acertaste!
Não, é atraente para as vedetas alucinadas lá da terrinha.
Infelizmente, ainda não se encontrou remédio para tal perturbação…
Os diretor@s são como os generais venezuelanos, recebem mordomias e proteção injustificadas para exercerem o poder pelo medo e assim sustentarem a ditadura.
Pensem bem nisto, em 2008, quando todos os professores sofreram cortes e congelamentos brutais, estes comissários políticos foram AUMENTADOS EM 100%. Leu bem, 100%.
Por que e para que terá sido?
Para se comportarem como os kapos do século XXI. Têm desempenhado esse papel de forma brilhante.
Não concordo com o texto , nem com o ME !
Já que o ME tinha tomado uma atitude pessoal e Prepotência, que passou por cima da lei imunidriprimidos, e adoptou a lei sua maneira. Quando foi decretado em Assembleia da República de proteger docentes com várias doenças de imunitário.
E o MP ao fazer a lei há sua maneira,pôs em risco de vida, os docentes com várias doenças em contacto com pessoas com Covid.
Por aqui se viu que o MP não tem simpatia, docentes com várias doenças e incapacitantes.
Até decretou novamente, uma lei sem pés nem cabeça, para docentes com doenças incapacitantes, e querem concorrer ao regime MPD .
Onde vai pôr em perigo de vida , as distâncias que terão de percorrer para lecionar numa Escola que fica a 20 kilometros, e no regresso são mais 20 kilometros.
Mas com as doenças incapacitantes, algumas de foro oncológicos, outras pôr acidentes em serviço, outras docentes com deficiência física , outros invisuais, existe e muitas mais doenças.
Além é inconstitucional esta lei , que maior parte docentes não tem um Atestado Multiusos, para concorrer.
E atualmente, nunca terá tempo de apresentar tal documento para concorrer ao MPB , já que as juntas médicas estão estão com dificuldades de entregar os Atestados Multiusos e atraso .
O ME nem teve em conta , como PR que assinaram um decreto lei , que tem erros que vão prejudicar vários docentes, que ainda não tenham um Atestado Multiusos.
E assim nunca poderam concorrer, sem o documento, já que as Escolas e suas Direções nunca aceitaram sem um Atestado Multiusos, que é necessário como a lei assim determina.
Além deveria o ME, ter em conta este erro, e só deveria entrar em vigor a nova lei do MPD, no ano lectivo 2023/ 24 .
E os docentes, que estariam a lecionar no ano lectivo 2021/22 pelo regime de MPD, entrariam automaticamente no regime e nas Escolas onde estão a lecionar.
Mais um textozinho previsível e miserabilista. Que nauseante! Enfim…
Esperança? pensei que o nome dele fosse O Joãozinho
Uma bela tentativa de branquear a imagem do sonso. Não colega, os sessenta anos não justificam tudo|