Para poder finalmente ter a estabilidade necessária ao começo de uma vida como professor, não bastou mudar de país em 2007. Com o dinheiro contado para mais ou menos três meses, e estando em Londres há dois meses e meio e o fundo dos bolsos à vista das mãos a nadar nas calças, foi preciso aceitar trabalhar a hora e meia de casa com os alunos mais difíceis da cidade, os miúdos excluídos de East Ham, numa escola que nem por isso era uma escola ou parecia uma escola, antes um conjunto de pré-fabricados encavalitados entre um beco e duas ruas secundárias.
Basicamente, aceitei o pior trabalho possível nas piores condições possíveis e entre ter emprego ou regressar a Portugal com uma mão atrás, outra à frente e ainda mais dívidas fruto do dinheiro emprestado, obviamente decidi não regressar.
Os pré-fabricados de East Ham ainda lá estão, eu não. Se a experiência de mais de um ano serviu de mote para uma carreira já com mais de 14 anos, os dias eram vividos entre a agressividade e a violência de crianças ainda hoje demasiado novas para tanta agressividade e violência numa das zonas mais carenciadas da cidade e onde tudo faltava, e ainda falta, às famílias, às escolas e aos serviços sociais.
Sem condições para poder ensinar alunos a anos-luz de uma sala de aula e com todas as necessidades básicas e mais algumas por cumprir, ao fim de pouco mais de 12 meses mudei de município, desta feita para Islington, a 45 minutos de casa e numa escola sediada num edifício vitoriano, ergo, com mais de 100 anos e, tal como tudo com mais de 100 anos nas mãos de quem não deve, a cair aos bocados.
Mas fazendo agora parte da Direcção, entre currículo e salário correspondente o emprego era, e é, uma oportunidade e eu nunca tivera oportunidades.
Islington? Não é tão carenciada como East Ham mas está lá perto. Assim como lá perto está Haringey, onde trabalhei um ano mais tarde como Head Teacher de uma escola para alunos com necessidades médicas e entre um município e outro na zona norte de Londres perdi a conta à quantidade de portas e janelas partidas entre murros, pontapés e cadeiras no ar da parte de crianças dos 6 aos 16, sem qualquer destrinça de género, raça ou credo.
A violência, quando existe, existe para todos.
A ajuda é que nem por isso. E sem condições, fui-me embora uma e outra vez e se me perguntarem talvez ainda hoje estivesse a trabalhar em Islington mas à data a proposta de trabalho como Head Teacher foi não só uma tentação mas também a recompensa de dois anos e meio tão difíceis como longos e, por conseguinte, fui à entrevista, disse adeus a colegas e amigos ainda hoje presentes e durante 8 meses estive à frente dos destinos de uma escola.
Tinha 32 anos de idade e estava em Londres há pouco mais de 3 anos.
Para chegar a este ponto testemunhei a violência do capitalismo e da desigualdade nos rostos e nas vidas de crianças e pais entre o desemprego, a delinquência, as dependências e os abusos nem por isso diferentes das realidades vividas em tantas grandes cidades no mundo de hoje.
E compreendi a ciclópica tarefa diante de mim num país supostamente entre os mais ricos do mundo mas onde se contam pelos dedos de uma mão os poucos municípios de Londres, num total de 32, onde ainda existem meios e apoios sociais para os mais necessitados e os mais necessitados somos todos nós.
E por não ter condições, não obstante as promoções e a carreira meteórica, fui-me embora num total de três vezes até acabar nos arredores de Wimbledon, onde ainda hoje me encontro, paredes meias com um torneio de ténis de prestígio mundial e ao lado de Wimbledon Village onde o metro quadrado é o mais caro do país.
Talvez assim se explique a presença de psicólogos, de terapeutas da fala, a polícia na escola dois dias por semana, dois terapeutas cognitivo-comportamentais, o assistente social, professores e assistentes dedicados à promoção do futuro, de um futuro, e quase tantos adultos como alunos se de facto queremos, e queremos, fazer a diferença e fazer a diferença resume a paixão pelo ensino.
Uma paixão traduzida em 11 anos na mesma escola com o apoio de uma equipa multidisciplinar e de uma hierarquia onde todos temos um papel a cumprir e a responsabilidade repartida equitativamente.
Em terras de Sua Majestade precisei de 3 anos e o sacrifício aqui descrito para construir um currículo e amealhar a experiência necessária à posição que hoje ocupo.
Em Portugal temos professores com mais de 60 anos ainda à procura de um lugar no quadro. Se a isto juntarmos os baixos salários, os horários incompletos, tantas turmas como níveis de ensino, mais de 30
alunos por turma, a falta de progressão na carreira e a ausência de tudo nas escolas, acabamos sem ninguém interessado em leccionar.
Só assim se explicam as vagas por preencher num retrocesso aos anos 80 durante os quais qualquer um podia ser professor, quiçá medida propositada no sentido de denegrir o ensino público em favor do privado.
Ou então o resultado de um sistema de ensino onde tanto ainda está por fazer, a começar pela estabilidade da carreira docente.
Eu sei o que tive de passar lá fora para ter condições de trabalho. Mas a estabilidade e a carreira nunca foram um problema. Aliás, se assim o desejasse ainda agora estaria em East Ham, Islington ou Haringey. Mas a estabilidade não basta, é apenas o começo e voltar a Portugal nunca será uma opção se nem começar podemos.
7 comentários
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E se eu disser que o salário de um professor em Portugal é melhor (em paridade de poder decompra) que no Reino Unido??????
este artista que se encontra no Reino Unido deve estar riquissimo a viver num quartinho dos baratinhos por 600 Libras….
Vai catar piolhos….
Não digas asneiras….os Professores em Portugal são dos mais bem pagos….
Sabes o que é “paridade do poder de compra”????????
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-Salário médio mensal: Portugal 1.314€ ; Reino Unido 3.527,04
– Custo de vida sem renda de casa: Portugal 527,88€ ;Reino Unido 767,87€
– Custo de gasolina por litro: Portugal 2,028€ ; Reino Unido 2,129€
Ranking dos países com maior PIB em paridade com o Poder de Compra: :
1º Luxemburgo
2º Irlanda
5º Suíça
18º Alemanha
26º França
28º Reino Unido
32º Itália
40º Espanha
45º Portugal
86º Brasil
és um porco suíno, nojento , ressabiado para lá de não conheceres nada de nada. Para além de não conheceres o João e a Ana. és um inútil mesmo
Professor Karamba
Deve estar a brincar de certeza, Só pode? Ou então não é professor! Ou não vive em Portugal!
Os professores de Portugal são dos mais bem pagos?
Só se for o professor Karamba!
Já agora, se ganha assim tão bem, pode distribuir pelos seus colegas que ganham tão mal.
Os professores, em Portugal ganham muito mal senhor Karamba. Pois de professor não tem nada, se fosse professor não dizia tamanho disparate, e sabia o sacrificio que faz um professor para chegar ao fim do mês com alguns tostões no bolso.
Portugal vai ser descolonizado?
Professor Karamba, eu até lhe ia responder.
Mas acabei por apagar a mensagem porque não vale a pena tentar lhe explicar.
Só para sua informação o João André è VP numa escola vive na sua própria casa mais a esposa já lá vão muitos anos !
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