Estou farta de Semideuses!

 

A Educação, dentro e fora das escolas, está subjugada ao poder de muitos Semideuses, “divindades” crentes na sua própria invencibilidade e perfeição, convictos da sua irrefutável razão e sempre muito cheios de si…

 Estou farta de todos os Semideuses que, com notável hipocrisia e cinismo, governam a Educação e a tornam mais dependente de alguns Egos do que das Políticas Educativas em si mesmas:

 – Dos que governam as escolas como se as mesmas fossem propriedade sua, muitas vezes mal aconselhados pelo conforto proporcionado pelos respectivos gabinetes ou pela camarilha de bajuladores do regime, mas que, e apesar disso, dispõem da autoridade e do poder para decidir sobre o destino profissional de tantos outros;

 – Dos que, nas escolas, se consideram “Astros-Rei”, mostrando-se incapazes de reconhecer perspectivas diferentes das suas, movendo-se por um inultrapassável pensamento egocêntrico, apenas competentes para lidar com um ponto de vista, que normalmente é o seu;

 – Dos que, empossados, pelos que governam as escolas, em determinados cargos ou “órgãos-fantoche”, dominados pelo servilismo, se prontificam para legitimar regimes autoritários encapotados de Democracia, mostrando-se incapazes de contrariar qualquer ordem ou decisão emanada pelos doutos superiores, por mais absurda ou injusta que a mesma seja;

 – Dos “bem iluminados” que dominam a “doutrina” do Ministério da Educação, prenhe de “ladainhas esotéricas” e ininteligíveis, camufladas de “inovação”, e que recusam aceitar e assumir a realidade, substituindo-a pela fantasia quimérica e pelo pensamento mágico…

 Quantos desses conhecerão o que efectivamente se passa nas escolas?

 Quantos desses saberão que os seus “rasgos de genialidade”, traduzidos pela profusão de textos impregnados de artificiais e inúteis jargões, não têm afinal qualquer aplicabilidade prática ou benefícios visíveis, nem para os Alunos nem para os Profissionais de Educação?

 “Cátedras” distantes da realidade, costumam significar prolixidade burocrática e incapacidade de simplificar e de gerar efectivos proveitos…

 Quanta “inclusão” e quanta “flexibilidade” apenas plantadas num sem-número de papéis… Não o verão ou não o quererão ver?

 – Dos que, incapazes de defender imparcialmente os interesses dos seus representados, agem como Semideuses do Sindicalismo, seguindo cegamente uma cartilha política que os vincula a agendas e a fretes partidários, mostrando-se inábeis para suscitar credibilidade e aceitação consensual;

 – Do maior Semideus de todos, o Ministro da Educação, incapaz de assumir e de reconhecer que nas escolas actuais não existe Democracia, pensamento crítico ou pensamento independente e que, em vez disso, existe silêncio e uma Democracia “postiça” e “travestida”, sem credibilidade e pervertida pela manipulação, imposta pela vigência do Decreto-Lei nº 75/2008 de 22 de Abril…

 E enquanto esse Decreto-Lei não for revogado, bem pode o Ministro da Educação perorar com todas as Teorias da Educação, as já inventadas ou até as por inventar, que nenhuma delas servirá os objectivos de uma Democracia impostora…

 A não ser que a espúria Democracia dos tempos actuais tenha adoptado, de forma velada, um dos ideários do Estado Novo: todos ignorantes, todos caladinhos, mas todos obrigados a serem muito felizes!

 Estou farta de tantos “teóricos” e de tantos “especialistas”, elevados ao estatuto de Semideuses, mas incapazes de criar condições para que se cumpra o mais elementar desígnio da ainda memorável Lei de Bases do Sistema Educativo:

 A educação promove o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva.” (Princípios Gerais, Artigo Segundo, Número 5).

 Passadas mais de três décadas da publicação de uma Lei fundamental para o Sistema Educativo, regredimos, nos últimos catorze anos, à “Idade das Trevas”, e no momento actual agimos como “castrados”, dominados pela opressão e pelo obscurantismo, como convém aos Semideuses…

 

Arre, estou farto de Semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

 

(Poema em Linha Recta, Álvaro de Campos).

 

(Matilde)

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4 comentários

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  1. Só falta colocar que estamos fartos dos ” bajuladores, os coitadinhos e os permissivos” que alimentam esses semi deus 👏👏👏

    • Estêvão Silva on 14 de Maio de 2022 at 10:42
    • Responder

    Excelente artigo.

  2. Eu também!
    E o que fiz?
    O oposto daquilo que os semicoisos impõem.
    Faça-se isso e a hipócrita fantochada cai!
    Não há que ter medo porque esses coisinhos estão cheios de rabos presos.

    • Daniela Sousa on 14 de Maio de 2022 at 15:02
    • Responder

    Concordo tal e qual com a perspetiva da autora. É um retrato fiel da completa palermice e alienação que se vive nas escolas. Mas aquilo que me angustia ainda mais é saber que tudo continuará igual (ou pior) pois todos assobiam para o lado e seguem as suas vidinhas. Tudo está instalado.
    Parece que já ninguém quer saber de nada, que todos esperam um “dia da libertação” ou que seja a podridão total a acabar com o sofrimento de um estado de doença tal, que a “educação” já nem se reconhece a si própria.

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