A bolsa de recrutamento não foi justa – Luís S. Braga

 

Uma das vantagens de estudar filosofia, não como mera disciplina para ter nota, mas como tema importante para a vida é ver que ela traz ajuda às decisões de vida.
Por exemplo, a que levou a que ontem os horários da bolsa de recrutamento sejam todos anuais, é justa?
O filósofo John Rawls na sua Teoria da Justiça ajuda a entender.
Para os que ficaram colocados é favorável.
Mas ser favorável não quer dizer ser justo.
Porque eleva muito o nível de vantagem de uns (os colocados de ontem) sem compensar outros, que estavam a colaborar com o sistema, mas que ficam muito prejudicados no tempo de serviço e remuneração.
No limite, alguém menos graduado, que recusou um horário com prejuízo para o sistema há meses, pode ter mais vantagem que outro que o aceitou com prejuízo para si.
Para os que estão presos a horários de substituição não transformáveis em horarios anuais a sensação de logro é justificável.
Foram desfavorecidos, porque tendo feito escolhas num certo quadro, elas se concretizaram e estão a sofrer efeitos num quadro que mudou. Ter aceite um horário, há semanas, pode agora ser prejuízo face às vantagens que outros recebem para resolver a emergência.
E a medida tomada, que faz falta ao sistema, tem de ser compensada para os que estavam a servir o sistema pelas regras antigas não se sentirem prejudicados.
Um dos problemas dos gestores do sistema educativo é não perceberem coisas como o que é a lei das consequencias imprevistas (uma medida mesmo “boa” tomada numa parte de um sistema afeta todas as suas condições de funcionamento para lá da zona que tem efeitos positivos) ou não perceberem a importância da justiça global e comparativa para cada indivíduo para a harmonia do sistema que gerem.
Por isso, percebo bem a indignação dos contratados amarrados a substituições parciais e precárias face ao resultado da Bolsa de recrutamento de ontem.
E acho essencial corrigir. O sistema de colocação de professores não é só para colocar, é para colocar com Justiça.

 

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5 comentários

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  1. alguma vez foi justa?

    • Lurdes Veloso on 30 de Abril de 2022 at 18:26
    • Responder

    Uma injustiça…
    Aqueles contratados que se sujeitaram a aceitar horários com poucas horas para angariar um tempo de serviço, gastando o vencimento praticamente em gasolina…

  2. os últimos são sempre os primeiros

    • Não me calo, não ajoelho e não rezo on 30 de Abril de 2022 at 23:17
    • Responder

    Estes decisores nunca são responsabilizados pelas suas decisões. Não sabem nem querem saber das suas consequências e assim mostram bem a baixeza a que nos levam, a humilhação a que nos sujeitam, as trapalhadas de xico espertismo e a inversão de valores que parece ter sido transformada em moda pimba de goverção e sempre, mas sempre sem responsabilização pelo impacto na vida de cada um e na ética e estruturação da vida em sociedade!

    • O Pensador on 1 de Maio de 2022 at 22:30
    • Responder

    É por esta e por outras razões que o sistema de recrutamento centralizado no ME é injusto. Neste caso trata de forma diferente o que deveria tratar por igual, noutros o trata por igual o que deveria tratar diferente como recrutar professores para as zonas do País onde há escassez. Nestas zonas, os salários têm de ser necessariamente maior do que nas zonas onde os docentes não estão em falta, porque eles tendo de vir de outras zonas do País tem despesas acrescidas (que não têm na zona de onde são naturais). E mesmo assim, terá de ser caso a caso. Haverá situações onde o acréscimo será significativo e outras onde não é. Não sendo perfeito, terá de passar pela municipalização. Os críticos dirão que só os amigos ficarão com os lugares. Isso acontece com um sistema rígido e com poucas vagas. Se todo o País utilizar o sistema descentralizado todo de uma só vez haverá lugar para os amigos e não amigos (não necessariamente para todos…). As Regiões Autónomas tinham uma falta crónica de professores até começarem a favorecer os seus. Alguém ouve falar delas agora?

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