Dezembro 2021 archive

As “inovações” que aí vêm na Educação

 

A Educação em Portugal continua a inovar. Desta vez, anuncia-se no Secundário a possibilidade de os alunos escolherem as disciplinas que querem estudar. Por enquanto, em turmas-piloto, quiçá no futuro, uma generalização à esfera nacional.

Infelizmente, nos últimos anos, temos constatado uma clara deterioração da qualidade do ensino público, medida por rankings discutíveis, mas que constituem a única fonte de informação comparativa face ao ensino privado (absolutamente credível, dado o exame ser igual para ambos). Por muito que se afirme que as realidades são incomparáveis porque as respetivas sociologias são diferentes, a verdade é que sempre assim foi e a qualidade medida do ensino público já esteve bem melhor.

Com mais esta inovação receio bem que, a prazo, a qualidade média do ensino público ainda se agrave mais. Ou seja, por muito bem-intencionados que sejam os autores destas alterações de percurso estudantil, existe a forte probabilidade da existência de uma fuga generalizada dos alunos às dificuldades de determinadas disciplinas, como a matemática ou físico-química, perante a complacência das direções de escolas (até me arrepio a pensar na escassez futura de certos quadros como por exemplo engenheiros, dada a importância primordial damatemática…).

Mal comparado, faz lembrar os doentes que fazem auto-prescrições à revelia médica! Veremos as consequências futuras de mais estas liberdades originais, mas receio fortemente que se traduzam em facilitismos perniciosos para a Sociedade, porque, infelizmente, as alternativas existentes (os estudos no setor privado) não são acessíveis para a maioria da população e, no longo prazo, agravar-se-ão as diferenças sociais.

Manuel Boto (In SOL)

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Alteração do Despacho Normativo n.º 10-A/2018 em Consulta Pública

 

Publicitação do início do procedimento tendente à segunda alteração do Despacho Normativo n.º 10-A/2018, de 19 de junho, que estabelece o regime de constituição de grupos e turmas e o período de funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino no âmbito da escolaridade obrigatória.
1 – Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 1 do artigo 98.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de janeiro, alterado pela Lei n.º 72/2020, de 16 de novembro, torna-se público que, por decisão conjunta do Secretário de Estado Adjunto e da Educação e da Secretária de Estado da Educação, é dado início ao procedimento conducente à elaboração do despacho normativo que procede à segunda alteração ao Despacho Normativo n.º 10-A/2018, de 19 de junho, que estabelece o regime de constituição de grupos e turmas e o período de funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino no âmbito da escolaridade obrigatória.
2 – A alteração supra referida justifica-se pela necessidade de proceder ao alargamento do âmbito de aplicação do estipulado nos n.os 7 e 8 do artigo 6.º do Despacho Normativo n.º 10-A/2018, de 19 de junho, passando o limite mínimo de 14 alunos por turma também a aplicar-se ao Curso Profissional de Luz, Som e Efeitos Cénicos, e ao alargamento do âmbito de aplicação do estipulado no n.º 9 do artigo 6.º do Despacho Normativo n.º 10-A/2018, de 19 de junho, passando o limite mínimo de 14 alunos por turma também a aplicar-se aos Cursos Profissionais de Cenografia, Figurinos e Adereços e de Luz, Som e Efeitos Cénicos.
3 – Para este efeito, designa-se como responsável pela direção do procedimento, nos termos do artigo 55.º do CPA, o Diretor-Geral dos Estabelecimentos Escolares, Dr. João Miguel Gonçalves.
5 – No prazo de 10 dias úteis contados da publicitação do presente anúncio, poderão constituir-se como interessados e apresentar contributos ou sugestões, no âmbito do referido procedimento, os particulares e as entidades que comprovem a respetiva legitimidade, nos termos previstos no n.º 1 do artigo 68.º do CPA.
6 – A constituição como interessado no presente procedimento é feita exclusivamente através do portal ConsultaLEX (https://www.consultalex.gov.pt).

 

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Voo livre sobre a escola – Carlos Grosso

 

Diz o Parol.edu.conça: se os alunos não querem saber, a responsabilidade é do professor, que não soube motivar o aluno, que não fez o pino na aula, que não trouxe para a aula fogo de artificio.

Voo livre sobre a escola

Pedi licença aos excecionais Padre Bartolomeu de Gusmão e poeta António Gedeão para me montar na «Passarola voadora» e andar às voltas sobre a escola.

Relato-vos algumas partes interessantes e inesperadas do que vi nestes últimos anos.

Vi montanhas de despachos burocratas a submergir os professores em papeladas inúteis.

Vi professores desesperados a trabalhar dez horas por dia para preencherem todos os requisitos de papeladas inúteis.

Vi alunos que todos os dias chegam à escola quinze minutos depois da hora, o que a tolerância extremamente flexível continua a permitir.

Vi alunos no recreio, sentados de livre vontade, agarrados a um aparelhómetro vagamente paralelepipédico, sem interagirem, sem brincarem. Não era castigo imposto por outrem, mas sim moléstia infligida por gigantes tecnológicos.

Vi professores com idades obscenas, de rastos, de cabelos brancos, de muletas, a sofrerem com uma paciência esgotada e uma incapacidade agonizante em compreender o adiamento da reforma e a indisciplina.

Vi professores aflitos por não conseguirem dar uma ajuda no acompanhamento dos filhos dos filhos, sofrendo pelos filhos e pelos netos que raramente têm a possibilidade de passar uns dias com a sabedoria longa dos avós.

Vi alunos que, em todas as aulas, conversam uns com os outros, mais até do que fazem no recreio, onde não há restrições ao uso do aparelhómetro vagamente paralelepipédico, que falam nas aulas sem autorização e ao mesmo tempo que o professor.

Vi alunos extremamente interessados nos estudos e na aprendizagem dos conhecimentos escolares a serem constantemente incomodados pelo ruído de colegas e a exigirem ordem na sala de aula.

E diz o Parol.edu.conça: esses alunos são retrógrados, são alunos da escola do antigamente, da escola dos avós e dos bisavós. Os professores têm de prepará-los para a escola do século XXI.

O Parol.edu.conça é uma personagem que vive fora da escola, mas que tem uma enorme influência nela. O Parol.edu.conça gosta de ler livros sobre Teoria da Educação, gosta de escrever sobre teoria do ensino, mas não gosta de ter sete turmas, não gosta de aturar diariamente duzentos alunos, não gosta de ter centenas de fichas de trabalho para corrigir, centenas de testes para avaliar e catadupas de sínteses descritivas para encher dossiers que não passam de uma praga ecológica.

Vi professores sem tempo para refletir, sem tempo para passar um fim de semana descansado sem trabalho escolar, sem tempo para ler um livro, assistir a uma exposição, brincar com os filhos, como se Ser Professor fosse embalar pacotes de farinha ou construir tijolos ou vender gelados. Quem se dedica a esta tarefa sabe que tem hora de abrir e hora de fechar a loja bem definidas, sem preocupação com os gelados sobrantes que hão de ser vendidos no dia seguinte, sem necessidade de levar gelados para vender em casa, depois do jantar.

O professor não é uma marioneta industrializada. O professor é um condutor de crianças e jovens, é um pedagogo. Precisa de tempo e de espaço para refletir sobre os melhores percursos educativos, sobre a arte de ensinar. O professor não está formado quando termina o respetivo curso. Grandiosa parte da formação docente é conseguida no desempenho da profissão. O professor precisa de continuar a formar-se durante muitos anos. Para isso, o professor tem de ter tempo, tempo para além das muitas aulas, para além das muitas atividades não letivas, para além dos muitos trabalhos de casa. O professor precisa de tempo para a sua vida e para se orgulhar de ser professor. Os professores precisam de tempo para partilharem algumas boas práticas pedagógicas. As reuniões para que são convocados versam esmagadoramente sobre “eduquices” e não sobre partilha de conhecimentos científicos.

Vi professores empenhados em longas reuniões a discutir os parâmetros mais adequados para avaliar as atitudes e qual o “peso”, qual o coeficiente que devem ter na média ponderada da avaliação escolar. Contendo afincadamente o mal-estar que me provoca estar a relatar-vos alguns pormenores destas discussões, aqui vai: É a assiduidade? (2%) É a pontualidade? (2%) É o respeito pelas orientações do professor? (3%) É o respeito pelas intervenções dos colegas? (2%) É a autonomia na realização das tarefas? (2%) É a participação de forma crítica, reflexiva e com profundidade? (4%) É demonstrar vontade em melhorar as suas competências (emocionais, cognitivas, motoras e sociais)? (4%) É o respeito pelas regras da sala de aula? (2%) É a capacidade para trabalhar em grupo? (1%) É trazer os materiais escolares limpos e organizados? (1%) É aspirar ao trabalho bem feito, ao rigor e à superação? (4%) É respeitar a diversidade e agir de acordo com os princípios dos direitos humanos? (4%) É revelar autonomia pessoal centrada nos direitos humanos, democracia, cidadania, equidade, respeito mútuo, livre escolha e bem comum? (6%) É realizar as tarefas no tempo estipulado? (1%) É cumprir com as regras de interação social e de civismo? (2%) É respeitar as regras institucionais que permitem atuar em segurança, adotando comportamentos que promovem a saúde e o bem-estar, nas suas relações na sala/escola (cumprimento do regulamento interno e uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social)? (4%) É tudo isto e mais alguma coisa? (100%)

E diz o Parol.edu.conça: É primordial discutir e definir o peso de cada indicador. Só após essa definição será possível inserir nas folhas de cálculo Excel a fórmula de cálculo das médias, para a avaliação final.

Como já se disse, por regra o Parol.edu.conça não trabalha na escola. Quando, raramente, isso acontece, o Parol.edu.conça não percebe bem o que é isso de inserir fórmulas em folhas de cálculo, mas di-lo com tanta eloquência que é capaz de convencer alguns dos mais novos ou alguns dos mais distraídos, mas poucos. Porém, todos estão sujeitos às ordens de Parol.edu.conça.

– Caros colegas, a reunião já dura há três horas, estamos todos muito cansados e o meu filho está na escola à minha espera, pelo que proponho que a reunião continue na próxima quarta-feira – diz o professor Miguel.

A ninguém convinha mais uma reunião na próxima quarta-feira, mas também percebem que já não há disposição nem capacidade para continuar a discussão. Aceitam.

A professora Carolina já tem uma consulta marcada para a próxima quarta-feira, mas vai tentar desmarcar para poder estar presente.

O professor Francisco abomina estas discussões (discretamente chama-lhes “palhaçadas”) e está mais interessado em gastar tempo na organização das suas aulas, mas não gosta de faltar a reuniões para as quais foi superiormente convocado.

Vi alunos que, nos testes de avaliação de conhecimentos, obtiveram média de 15 valores a Economia, mas cuja avaliação final foi de 14 valores, por baixa avaliação nas atitudes. Ou seja, o aluno que revelou conhecer certas partes dos conteúdos, deixou imediatamente de os saber por atitudes que não foram apreciadas pelo professor.

Vi alunos que, nos testes de avaliação e aplicação de conhecimentos, obtiveram média de 13 valores a História, mas cuja avaliação final foi de 15 valores, por altíssima avaliação nas atitudes. Ou seja, terão existido alguns conhecimentos que não estavam adquiridos, mas que foram magicamente incorporados pela excelente atitude.

A escola ajuda a formar atitudes? Obviamente. A escola ajuda a melhorar algumas atitudes? Certamente. A alteração das atitudes tem, frequentemente, reflexo nas aprendizagens? Seguramente. Mas, para além do reflexo nas aprendizagens que foi sendo demonstrado nos diversos instrumentos de avaliação escolar, o conhecimento do aluno sobre determinadas matérias não aumenta nem diminui porque o professor avalia as suas atitudes. As atitudes formam-se, valorizam-se, adequam-se, mas não se medem numericamente!

Vi alunos que querem aprender o máximo possível.

Vi professores que não querem saber das aprendizagens essenciais e que querem ensinar o máximo aos seus alunos.

Vi alunos que não têm qualquer interesse nas aprendizagens escolares.

Diz o Parol.edu.conça: se não querem saber, a responsabilidade é do professor, que não soube motivar o aluno, que não fez o pino na aula, que não trouxe para a aula fogo de artificio.

Vi professores que não se preocupam em ensinar, nem se os alunos aprendem ou não, e que os deixam fazer o que lhes apetecer.

Vi alunos a chamarem “filho da p**a” ao professor ou a acariciá-lo com um “vai pró ca**lho” e cuja reação dos pais, ao receberem a notificação, foi: «Se ele fez isso, é porque o professor lhe fez alguma!»

Vi professores a fingirem que não viram o aluno levantar-lhe o dedo do meio, para não se sujeitarem ao infindo processo de averiguações sobre a veracidade dos factos relatados na eventual participação de ocorrência.

Vi professores a ficarem doentes e arrastarem-se até à baixa médica por exaustão.

Vi salas de professores quase sempre vazias e sem convívio.

Vi o Ministério da Educação a desvalorizar as avaliações externas.

Vi demasiados alunos a serem sujeitos a RTP. Não, não se trata da estação televisiva, mas dos espetaculares Relatórios Técnico-Pedagógicos.

Vi professores a terem de pedir silêncio na sala de aula, diariamente.

– Isso são professores que não acompanham os tempos. São professores que não compreendem os jovens, que não estimulam uma geração tecnológica que está altamente preparada para multitasking, diz o Parol.edu.conça.

Como se a disponibilidade de equipamentos tecnológicos fosse capaz de alterar o cérebro humano e as sinapses produzidas. As características do cérebro humano são as mesmas dos avós e dos bisavós.

Vi professores a serem apanhados pela pandemia e a revelarem altíssima capacidade de adaptação no ensino a distância.

Vi alunos durante meses em casa, sem computador e sem comunicação com a escola.

Vi alunos de pijama, deitados no sofá, esticados à beira da piscina, a assistirem às aulas no respetivo aparelhómetro vagamente paralelepipédico.

Vi professores que passaram um ano letivo completo sem conhecerem a cara dos respetivos alunos e alunos que passaram um ano letivo completo sem conhecerem a cara dos respetivos professores.

Vi professores que lecionavam a distância sem ligar a câmara de vídeo, escudando-se na proteção de dados.

Vi alunos sem alguns professores durante meses.

Vi concursos de recrutamento de professores sem nenhum concorrente.

Vi professores a chamar «burros» aos alunos.

Vi professores obrigados a uma deslocação de centenas de quilómetros da sua habitação, a alugarem uma casa mais próxima da escola onde foram colocados e a sujeitarem-se a um rendimento líquido inferior ao salário mínimo, apenas para ganhar tempo de serviço e mais algumas décimas na graduação.

Vi professores com onze turmas.

Vi professores que deixaram a profissão e muitos outros que andam ansiosos por encontrar alternativa para o fazerem.

Vi alunos a apreciarem extremamente as aulas, a aprenderem imenso com os seus professores e a atingirem quadros de mérito e de excelência.

Vi encarregados de educação a atribuírem enorme valor à capacidade dos professores dos seus educandos em ensinar conhecimentos escolares e em adequar comportamentos.

Vi professores ainda entusiasmados com a profissão.

Custa-me revelar-vos que é com pouca esperança e com um doce-amargo de fel que vos relato o que vi.

 

 

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Recomendação ao Governo de medidas no âmbito da educação de infância

Resolução da Assembleia da República n.º 364/2021

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O ano do Tiago em revista…

 

Foi à bola e sentou-se na tribuna…

Foi ver os Olímpicos e sentou-se nas melhores filas…

Visitou umas escolas, mas não se sentou porque as cadeiras são de madeira ou plástico duro…

Foi-se confinando e desconfinava sempre que o chefe ordenava…

Levou umas vacinas e, certamente, experimentou um ou dois cotonetes…

Deve ter ido à praia apanhar uns raios, mas isso já é especulação.

 

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QUERIAM SER PROFESSORES. E AINDA QUEREM, MAS… SÃO “IT’s”

 

QUERIAM SER PROFESSORES. E AINDA QUEREM

Voltemos às escolas. Ninguém. Não se vê vivalma (som de grilo). Cada escola tem um sistema informático carregado às costas da beatice tech de dois ou três professores que nunca escolheram ser técnicos de informática e que hoje nada mais são do que isso. Que remédio. Escolheram ser professores de Artes visuais, Educação Física, Fisico-Química, Português, Matemática mas, quando se descobriu que “gostavam de computadores e assim” logo ficaram incumbidos de planificar, construir e gerir extensas redes informáticas que incluem várias centenas de computadores, que todos os anos têm de ser limpos de lixo e de vírus, reparados e renovados; produzir e manter websites institucionais, gerir backups, num trabalho solitário de milhões de horas que ninguém paga.

Nenhuma destas pessoas pensou um dia “Quando for grande, quero reparar computadores e redes”. Queriam ser professores. E ainda querem. Um professor de Alcobaça, confessou-me que o pai, pescador da Nazaré, um dia disse-lhe que gostaria muito de o ver no alto mar a trabalhar nas redes. “Ele é que tinha razão, só que não são de pesca”. Pois não só vive enredado em redes, como também é director de turma e dá aulas a cem alunos. Evidentemente, enquanto estiver com eles, o sistema está proibido de “ir abaixo”. Oremos, Senhor.

Compreenda-se: as solicitações para resolver problemas digitais numa escola são às centenas por mês. Dezenas por dia. E vão desde aquele professor que não percebe por que razão estúpida o seu monitor não liga, apesar de não estar ligado à tomada eléctrica, até à ocorrência de um bug numa programação. Pergunta óbvia de quem não sabe nada: “Por que é que não atribuem essas tarefas aos professores com habilitação em informática?” Por duas razões. Por um lado, porque não há professores de informática em número suficiente para ensinar informática, quanto mais para o resto. Por outro, porque quem escolhe ser professor de informática é porque gosta de fazer com que os miúdos aprendam informática. Ou seja: querem ser professores. Se quisessem ser técnicos de manutenção e reparação de computadores, tinham-no sido. Mas não são.

Este estado de permanente improviso é intolerável. As escolas colocam cada dia terabytes de informação crítica, íntima, sobre pais e alunos em hosts comerciais como a Google ou a Microsoft, esperando que ninguém esteja verdadeiramente interessado em saber que o Meireles tem asma, diabetes ou espinha bífida. Não existe nenhuma política consistente em matéria de protecção de dados educacionais.

Rui Correia (SIC)

 

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Partir a loiça” ou, nem que fosse, “partir um prato

“Partir a loiça”, que é como quem diz, protestar de forma exaltada, elevar o tom de voz e mostrar desagrado ou indignação, de um modo explícito e público…

Na maior parte das escolas, há muito tempo que praticamente não se protesta ou reivindica, “não se parte qualquer loiça, nem sequer um prato”, e muito menos se reclama de forma exaltada; se eleva o tom de voz; ou se mostra desagrado ou indignação, explícita e publicamente…

A “etiqueta dos costumes” vigente não o permite… Mas, e paradoxalmente, concede que se cometam os mais variados atropelos à liberdade de expressão, na medida em que, muitas vezes, se bloqueia e veta a livre manifestação de opiniões ou de ideias, pairando frequentemente no ar a possibilidade de existirem represálias e censura…

Indecorosamente, essa “etiqueta dos costumes” também costuma tolerar aqueles que agem como se fossem os proprietários de determinadas Escolas Públicas, confundindo a prestação de Serviço Público com a defesa primordial de interesses e ambições pessoais…

No geral, cala-se, consente-se e aguenta-se, quase sempre com receio de “escândalos” ou de “cair em desgraça”…

Sempre muito “certinhos”, contidos, conformados, silenciosos e acomodados ao ritual, é assim que se quer a gente que trabalha nas escolas…

Quantas vezes apetece “partir a loiça”? Mas quantas vezes se “parte a loiça”?

Nas escolas existem alguns “bem iluminados” que só conseguem lidar com um ponto de vista, que normalmente é o seu…

Pontos de vista diferentes desses são frequentemente interpretados como afrontas ou agravos, muitas vezes intolerados e quase sempre indesejados…

Esses “bem iluminados” parecem mover-se por um inultrapassável pensamento egocêntrico:

Não reconhecem perspectivas diferentes das suas; os outros têm o dever de pensar igual a si; sempre muito ufanos, vêem-se a si próprios como o “Centro do Universo”, eles são o “Sol”, e todos devem “gravitar à sua volta”; incapazes de mostrar empatia, não compreendem a necessidade de dar explicações a alguém; ainda que levemente contrariados, tendem a reagir de forma impetuosa e desproporcionada, dominados pela irritação, teimosia e mau humor, incapazes de gerir a sua frustração …

(Jean Piaget deve estar a “dar voltas na tumba”, assombrado com alguns adultos “birrentos”, que parecem não ter conseguido ultrapassar a Fase do Egocentrismo Infantil).

De que serve a falta de ousadia patente em ser sempre “muito certinho”?

Serve, sobretudo, para incentivar e reforçar a continuidade dos comportamentos abusivos e autoritários de muitos “bem iluminados”… Não sendo contrariados nem confrontados com qualquer oposição, que necessidade terão de alterar essa conduta?

Tantos “Órgãos-Fantoche” e tanto servilismo, encapotados de Democracia… Tanta “ladainha esotérica” e ininteligível, camuflada de “inovação”…

Ser muito “certinho” pode mesmo chegar a ser confrangedor… Confrangedor, sobretudo quando se observam pessoas incapazes de se afirmarem e de pensarem por si próprias e que se deixam anular de uma forma incompreensível, dispostas a abdicar da sua dignidade, como se fossem propriedade de alguém ou como se tivessem abomináveis “obrigações de vassalo”…

Desde o ambiente claustrofóbico e asfixiante que se vive em muitos Agrupamentos até às políticas do Ministério da Educação que, recorrentemente, culminam em monumentais trapalhadas e absurdos, motivos não faltam aos profissionais de Educação para “partir a loiça”…

E são tantas as trapalhadas e os absurdos “made in” Ministério da Educação, quase sempre corroborados e ratificados pela maior parte das Direcções de Agrupamentos, que se chega ao despautério de considerar tal hábito como normal e aceitável…

Contudo, a abundância desses motivos não tem gerado reacções contestatárias, contundentes e ostensivas, por parte dos profissionais de Educação, que parecem resignados a aceitar o marasmo, em vez de darem visibilidade à sua insatisfação…

O que ganham os profissionais de Educação com essa atitude? Não ganham nada e têm vindo a perder muito…

Perde-se a credibilidade das reclamações, ainda que as mesmas sejam quase sempre realizadas de forma “oficiosa”, e perde-se a força da classe profissional que, pelo elevado número de constituintes e pela respectiva formação académica, deveria ser capaz de se afirmar e de se fazer ouvir…

Não há dúvida de que os profissionais de Educação têm vindo a ser vítimas de muitas imposições desarrazoadas remetidas por Direcções de Agrupamentos e pelo Ministério da Educação, mas isso também não os iliba da atitude passiva frequentemente demonstrada…

Obviamente, o Ministério da Educação conhece bem essa passividade, conta com ela e sabe que, à partida, poderá decretar as medidas mais fantasiosas e delirantes, sem encontrar resistência significativa…

Só assim se compreende que o trabalho dos profissionais de Educação seja frequentemente desrespeitado e que esteja refém de medidas educativas absurdas e insanas há vários anos, sem que nada, realmente consequente, aconteça no sentido de as contrariar ou invalidar…

E não se sai disso… E não se luta por melhor do que isso…

Os maiores Sindicatos e os Partidos Políticos, tanto os de Direita como os de Esquerda, não estão dispostos a “partir a loiça” por ninguém, já se percebeu…

O que resta? Resta a contribuição pessoal e insubstituível dos profissionais de Educação, se conseguirem olhar além do seu próprio umbigo…

Quanta raiva contida e reprimida, à espera de ser exteriorizada, existirá por aí?

Há quanto tempo, cada um, não “parte um prato”?

(Aproxima-se o Ano Novo e com ele 365 novas oportunidades para “partir a loiça”… Ou isso ou 365 novas oportunidades para continuar a aceitar que façam de si “gato-sapato”…).

(Matilde)

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ESCOLAS DE REFERÊNCIA PARA ACOLHIMENTO

Escolas de referência para Acolhimento de filhos e outros dependentes de trabalhadores cuja mobilização para o serviço ou prontidão obste a que prestem assistência aos mesmos na sequência da suspensão das atividades letivas e educativas de 2 a 9 de janeiro, nos termos do Artigo 15.º do Decreto-Lei n.º 104/2021, de 27 de novembro:

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800 escolas abrem para filhos de trabalhadores essenciais

 

O Ministério da Educação (ME) informou hoje que 800 escolas do continente estarão abertas durante as duas “semanas de contenção” da pandemia de covid-19 para filhos de trabalhadores essenciais e fornecimento de refeições a crianças beneficiárias de ação social.
Numa nota, o ME revela que, entre 27 e 30 de dezembro e entre 03 e 07 de janeiro, estará em funcionamento uma rede de escolas de acolhimento com cerca de 800 instituições de ensino, “dando resposta a filhos ou outros dependentes de trabalhadores essenciais e a crianças e jovens sinalizados pelas CPCJ” (Comissões de Proteção de Crianças e Jovens).
Segundo o Governo, estas escolas também estão abertas para “fornecimento de refeições a alunos beneficiários da Ação Social Escolar ou que necessitem deste apoio”.
A lista das escolas disponíveis para acolhimento destas crianças está disponível em https://www.dgeste.mec.pt/index.php/destaque_1/escolas-de-referencia-para-acolhimento-2/
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PARADO NÃO É SOLUÇÃO – Luís Granjo

 

“Libertem as crianças” é uma expressão forte, uma expressão que nos leva a pensar que as crianças de hoje vivem oprimidas, bloqueadas, sem espaço e tempo! Será?

O Prof Carlos Neto, no seu mais recente livro (2020) “Libertem as crianças – a urgência de brincar e ser ativo”, faz uma chamada de atenção à sociedade em geral para os perigos de estarmos a criar “crianças totós, de uma imaturidade inacreditável”. Numa escola, onde as crianças passam a maior parte do tempo fechadas, com intervalos, ou períodos de recreio cada vez mais curtos e sem possibilidade de explorar a brincadeira, mais o trajeto casa-escola-casa feito no conforto do automóvel, retiram atividade física, que a longo prazo terá o seu impacto na saúde pública.

A pandemia e os últimos tempos que temos vivido, em que as palavras confinamento e isolamento se tornaram “virais” no nosso dia a dia, vieram exponenciar a visão do Prof José Neto, porque os intervalos são menores e desencontrados, o que em termos sociais tem os seus efeitos negativos, não podendo brincar com uma grande maioria de colegas da escola, a utilização de material para a prática informal desportiva no recreio está proibida, pelo simples contexto de partilha, e as atividades que os pais suportam em horário extraescola, como a música, desporto, dança, vivem rodeados de um cem número de obrigações que, por si só, desmotivam muitas crianças à sua não adesão. Ou seja, A CRIANÇA ESTÁ A PAGAR UM PREÇO MUITO ALTO, NÃO BRINCA, NÃO IMAGINA, NÃO SE DESENVOLVE!

A falta de atividade física desencadeia problemas de saúde, como o ganho de peso, aumento da tensão arterial e aumento de risco das doenças cardiovasculares, que no seu todo resultam na maior pandemia a ser travada nos próximos anos, a obesidade, que diminui a imunidade humana. Estar parado é uma pandemia.

Num estudo recente, Gonzaga, Y. et al. (2020) apresentaram os dados de uma pesquisa bibliográfica com base de dados da Scielo, no ano de 2020, que constata que o confinamento reduziu drasticamente a atividade física levando ao surgimento de comorbidades associadas à obesidade, intolerância à glicose e também transtornos psicossociais como ansiedade e depressão.
A ACSM (colégio americano de medicina e desporto) divulgou um guia que sugere a atividade física de intensidade moderada, de extrema importância nesse período em função da Covid-19, e uma observação importante, e que de acordo com as recomendações da OMS (organização mundial de saúde) para indivíduos saudáveis assintomáticos são de 150 minutos de atividade física por semana para adultos e 300 minutos por semana para crianças e adolescentes. De uma forma geral realça a importância da realização de atividades físicas durante o período de pandemia, mas com intensidade moderada, preferencialmente em lugares abertos ou então dentro de casa e diminuir o período sentado ou deitado.

Cordeiro, J. (2021) realizou um estudo sobre crianças com problemas na coordenação motora e o impacto da Covid-19 nas crianças portuguesas, onde verificou que a inatividade física em crianças tem aumentado, não atingindo os valores recomendados, podendo prejudicar o seu desenvolvimento cognitivo e motor, principalmente nas crianças com perturbação no desenvolvimento da coordenação motora. Esta perturbação pode resultar em problemas no desenvolvimento motor, físico e social. É provável que nas situações de confinamento físico a inatividade física se acentue. As conclusões do estudo constatam que as crianças com perturbação no desenvolvimento da coordenação motora são menos ativas que as crianças típicas, o que reforça a necessidade de procurar estratégias que quebrem esta tendência e promovam uma vida mais ativa e saudável.

Numa perspetiva de que a atividade física pode proporcionar uma melhor qualidade de vida, Aragão, A. et al. (2020), realizaram uma reflexão sobre os efeitos que a atividade física pode proporcionar para uma melhor qualidade de vida, averiguando a importância da atividade física para jovens e adolescentes, na medida em que diminui o risco de doenças como obesidade, asma, hipertensão, diabetes, bulimia e até Covid-19. Neste estudo, foi realizada uma revisão bibliográfica de cinco estudo distintos, Piola et al. (2018), Crochemore-Silva et al. (2020), Fantineli et al. (2019), Barbalho et al. (2019) e Santos et al. (2019) em que se constata que a atividade física é muito importante, não só para o público-alvo, a criança ativa, mas também para a sociedade em geral. O estudo revela que a prática de atividades físicas ajuda na promoção ou mesmo extinção de doenças psicológicas, crónicas e físicas. Reforça o estudo que a prática de atividade física ajuda a tornar o ser humano são, pois além dos benefícios físicos, a componente lazer traduz-se numa sensação de bem-estar e melhor autoestima, ou seja, verifica-se que a atividade física tem um efeito positivo para uma melhor qualidade de vida.

A ciência é, nos dias de hoje, mãe das nossas preces, e ficará um marco histórico sobre a avassaladora capacidade que a raça humana teve em responder a uma pandemia com uma vacina, que embora necessite de se reformular ao ritmo das mutações do “bicho”, mas que nos dá confiança para o futuro.

A ciência, como vemos, também nos diz que parado não é solução, e se aqui e ali é necessário ajustar, reformular, reforçar cuidados,…, parar é que já não é solução. A doença perdurará e continuará a desequilibrar a nossa normalidade, mas isolar, confinar, parar são palavras completamente em extinção, o que a sociedade, e em especial as crianças precisam é de sair de casa, tornarem-se proativos na prevenção/contenção da Covid-19, estudar, brincar, socializar, no fundo serem FELIZES.

Mexam-se.
Professor Luís Marques

 

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