Os Critérios de Avaliação por Domínios, essa admirável invenção do actual Ministério da Educação, parecem estar instalados em praticamente todos os Agrupamentos de Escolas…
Se se fizer uma pesquisa pela Internet, percebe-se imediatamente que os inúmeros documentos relativos aos Critérios de Avaliação dos Alunos, publicados pelos Agrupamentos de Escolas, de Norte a Sul do país, são compostos por dezenas de páginas, algumas delas difíceis de decifrar e de descodificar…
Perante a complexidade e a abundância de tais documentos, e passados poucos minutos de leitura, tende a ficar-se deveras perplexo e atordoado com a “operacionalização” deste novo Modelo de Avaliação:
Muitos Domínios, muitos Subdomínios, muitos Temas, muitas Ponderações, muitos Instrumentos de Avaliação, muitos Instrumentos de Registo, muitos Descritores por Níveis de Desempenho em cada Domínio, muitas Tabelas para Operacionalização dos Critérios de Avaliação em cada Domínio, muitas Áreas de Competências, muitas Menções Qualitativas e Quantitativas, etc, etc, etc…
Tudo isso cruzado com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e com as Aprendizagens Essenciais, mais duas indizíveis “inovações” do actual Ministério da Educação, origina, em alguns casos, documentos cujo significado se torna praticamente inacessível…
Inacessível, pela difícil interpretação e compreensão, sobretudo para grande parte dos alunos e dos pais/encarregados de educação, apesar de serem eles os principais destinatários desses documentos…
Uns e outros, mostram-se muitas vezes confusos, “perdidos”, sem perceber bem qual será o resultado final de determinados momentos avaliativos ou que “contas” deverão ser feitas para se justificar a atribuição de um certo resultado…
A Avaliação dos Alunos parece estar transformada numa enorme trapalhada, sem fim à vista…
Os Critérios de Avaliação por Domínios, nos moldes actualmente impostos pelo Ministério da Educação, não passam de uma fantasia, fundamentada em pressupostos teóricos inconcretizáveis, em termos práticos…
Sejamos honestos e realistas… Como pode um professor, muitas vezes com mais de cem alunos e cinco ou mais Turmas, ter disponibilidade temporal e mental para:
– Nortear-se por uma visão holística, inclusiva, integradora e auto-reflexiva, tendo como objectivo a “reformulação/melhoraria das práticas, através da constante indagação, questionamento e investigação dessa mesma práxis e seus resultados”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).
– Conseguir olhar para cada um dos seus alunos, considerando cada um deles “como um ser singular, procurando observar e analisar os processos individuais de aprendizagem”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).
– Fazer uma “interpretação inteligente do currículo”, dedicando “tempo e inteligência à interpretação/reflexão/apropriação dos documentos curriculares”, acionando “mecanismos de feedback de qualidade, no sentido de melhorar o desempenho dos alunos”? (de acordo com o Projeto MAIA, Folha 14, Critérios de Avaliação: Questões de Operacionalização).
Em resumo, nada se descomplicou, nada se descomplexificou, nada se simplificou, muito pelo contrário…Tanta prolixidade, incapaz de produzir efeitos práticos, por desconhecimento e/ou negação da realidade…
De que serve a teoria subjacente à “avaliação criterial”, defendida pelo Projeto MAIA, se a mesma não tiver aplicabilidade prática? E se se constituir apenas como um sinónimo de carga burocrática acrescida?
A “avaliação criterial” permite avaliar “melhor e de forma mais transparente e clara”, conforme defendido pelo Projeto MAIA? A subjectividade, intrínseca a qualquer processo avaliativo, diminuiu com a implementação de tal Projecto?
A Educação parece estar a tornar-se num enorme conjunto de equívocos e de absurdos e isso fez-me lembrar deste texto, também ele repleto de desacerto, incoerência e alucinação:
Do Capitão ao 1º Sargento
“Amanhã haverá um eclipse do Sol, o que não acontece todos os dias. Mande formar a Companhia, às 7 horas, em uniforme de instrução. Todos poderão, assim, observar o fenómeno, do qual darei explicações. Se chover nada se poderá ver e os homens farão a formação no alojamento, para a chamada.”
Do 1º Sargento ao 2º Sargento
“Por ordem do Sr. Capitão, haverá um eclipse do Sol, amanhã. O Capitão dará explicações às 7 horas, o que não acontece todos os dias. Se chover, não haverá chamada lá fora. O eclipse será no alojamento.”
Do 2º Sargento ao Cabo
“Amanhã, às 7 horas, virá ao quartel um eclipse do Sol, em uniforme de passeio. Se não chover, o fenómeno da chamada será lá fora e o Capitão dará as explicações no alojamento.”
Do Cabo aos Soldados
“Atenção: Amanhã, às 7 horas, o Capitão vai fazer um eclipse do Sol, em uniforme de passeio. Ele dará todas as explicações no alojamento, fenómeno que não acontece todos os dias. Caso chova, não haverá chamada.”
Entre Soldados
“O Cabo disse que amanhã o Sol, em uniforme de passeio, vai fazer um eclipse para o Capitão, que lhe pedirá explicações. O fenómeno é capaz de dar uma bela encrenca, dessas que não acontecem todos os dias. Deus queira que chova!”
(Roubado da Internet, de autor desconhecido, com algumas adaptações minhas).
O que resta? Resta a “apologia do absurdo”, afirmando em total solidariedade com os Soldados: Deus queira que chova!
(Matilde)
13 comentários
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O professor e a boa pratica.
Aliando a teoria à pratica, no dia a dia melhora, o desempenho e estimula a criatividade, incrementa a produtividade na escola – empresa. Na pedagága levaste e a na pedagága levaram, ao longo dos anus, os professores que não defecarem ao despertar de evidências, concretas e produtivas, das suas escorrências,cimentadas nas metas definidas pela gestão, e aprovadas em pedagogicas-glorias educativas centradas nos alunos. Desortear-se por uma visão holística, inclusiva, integradora e auto-reflexiva rumo ao universo pandémico .
uiui o olhómetro é melhor.
Isto parece um artigo de bota a baixo, ou é um artigo de bota abaixo?
Percebo que há demasiada complexidade neste MAIA, e que o foco do professor se baralha entre ensinar, categorizar, avaliar, interpretar…
Indo à base do ensino logo no seu começo nos primeiros anos, há que apostar e muito na sua qualidade humana e no valor que pode ter um trabalho de acompanhamento o mais personalizado possível.
O ensino que dá oportunidades, também descrimina quando quer que se mantenha dentro de um quadrado, num padrão apadrinhado pelo, feito a jeito de um caminho sempre a direito, incapaz de dar oportunidades a alunos que frustram em não conseguir brilhar naquele padrão maravilhoso das boas notas, quadradas, que põem no lixo da “sociedade da secretária” os que são muito bons indispensáveis e geniais em tantas e possíveis funções.
Professores há muitos…. Bons professores não são assim tão poucos, e por favor não se deixem ficar pela generalista visão de querer viver num quadrado, porque pois claro ele é fácil de definir e entender, mas também depois, foi só um quadrado apenas….
Numa sociedade que educa dentro de um quadrado de zero a vinte, o lixo do insucesso, ou os malabarismos de o evitar, que marginaliza expulsa e insiste em desvalorizar os serviços, em prol do trabalho de secretaria… Fazendo acreditar que os serviços são uma espécie de sombra…. Para quem não presta… Sem orgulho sem valor. Outros no lado oposto, que também vivem no mesmo quadrado têm a vida fácil e tiram vinte a tudo… São Ferraris numa pista de andar a pé…. E os do meio…. O que são eles…?
Valorizar, Acreditar, Incentivar, Cativar.
Dar formação a todos, mas não a tal formação de todos, se me entendem….
Assim de repente vi no MAIA uma ferramenta que aprecia um aluno de forma menos quadrada. Dar-lhe uma boa oportunidade de fazer ir mais além, e…. VALORIZAR aqueles que se ficam e desperdiçam num sistema feito a jeito de se acomodar dentro de uma autoestrada sem saídas…
És pouco xuxa, és 🙂
As reuniões de professores de departamentos curriculares têm aqui uma enorme importância. Mais do que darem informações e decisões das Direções e Conselhos pedagógicos, têm de trabalhar em conjunto e proporem alterações, mudanças e soluções para questões pedagógicas incluindo a avaliação dos alunos.
Ficar calado não é opção; criticar por criticar também não. A atitude que se exige é a de descomplicar mantendo a exigência e a de produzir algo claro para todos – alunos, professores e famílias.
Há coisas que têm de mudar. Não a mudança louca de todos os anos que tudo complica, que faz perder tempo e energias.
Pior do que esta avaliação por domínios e por níveis de desempenho (os critérios gerais e específicos de correção e classificação já aparecem há anos nos exames nacionais), pior do que isto são todos os projectos e todas as siglas que invadem as escolas e que Santana Castilho refere no texto anterior. E quando estas questões se misturam, todo o trabalho dos professores passa a ser um trabalho em esforço, uma entropia em turbilhão constante, algo verdadeiramente estéril.
Resumindo, os professores têm de fazer ouvir as suas decisões na escola, separando o que é supérfulo do que é essencial, o que se torna compreensível para todos daquilo que é um disparate de burocracia que gira à volta de tudo.
Simplificar, agir em conjunto, negar (quando é fácil ceder) é urgente para se manter a sanidade mental. Um professor tem de estar a 100% nas suas turmas e com os seus alunos. Tudo o que o distraia deste seu trabalho tem consequências negativas a curto, médio e longo prazo.
Perdoem-lhes que não sabem o que fazem!
(Mecanismo Administrativo para Inquinar a Avaliação)
Conclusão lógica a que chego: no meu tempo de estudante fui mal avaliado. 🤔
Ainda me lembro de ter tido um colega “daqueles…dos antigos… rijos que nem a cortiça…” que tinha sido professor no meu tempo de aluno, naquela mesma escola. Quando, no início do anos 90, lhe começaram a falar em grelhas, o senhor disse em plena sala de professores:
– Porcaria de grelhas para quê? Está tudo aqui! – disse ele, alto e em bom som, apontando com o seu indicador para o local do corpo humano onde se situa ao cérebro…
Sempre que nos colocam à frente mais uma “porcaria” como as que são referidas no texto e outras que tais, pergunto-me a mim mesmo se, à conta das tais “porcarias”, o ensino estará necessariamente melhor que no tempo do nosso antigo, mas pragmático, colega.
mais uma fantasia de última hora do thiaguito!
Avaliação por domínios, projeto MAIA e afins é sucesso garantido!
E há diretores que vibram como se tivessem descoberto a cura para todos os males!
Colegas que debitam cassetes e não conseguem ver nenhum inconveniente!
Diretores de Centros (de)Formação que agilizam sessões e mais sessões, formações e mais formações…Urge mudar a mentalidade dos professores (retrógrados, insensíveis, que não conhecem o 54 e o 55….) Se calhar até as igrejas podiam colaborar!
Mas ninguém consegue ver que muitos alunos estão extremamente ansiosos por motivos diversos : problemas familiares, pressão dos pais pelas notas que não conseguem obter, pressão do professor x ou y, porque o aluno ainda não cumpre os requisitos exigidos no perfil do aluno (nem vai cumprir) e ninguém consegue ver também que a maioria dos professores está exausta, ansiosa, porque está a viver uma situação anormal há anos, porque se preocupa com a família, com os alunos….
Mas isso que importa? Não é muito mais importante a grelha a,b,c,d….? o feed back? E toda a trapalhada que alguns pseudo-intelectuais nos impõem….
Enfim….Precisamos de um Gouveia e Melo que ponha ordem na educação!
Deus queira que chova!
É urgente voltar a centrar a atenção no aluno! Para isso, precisa- se de tempo e não de inúmeros planos, com siglas fantásticas, que ninguém lê mas que ocuparam imenso tempo a quem foi empurrado para os elaborar, redirecionar e reformular. Versam matérias perfeitamente do mundo da utopia. O que não se consegue perceber é como é que não há ninguém na administração que tenha dois dedos de testa e que perceba que se caiu numa outra dimensão muito longe da do ensino.
A maior parte das vezes nunca chove!!!
Deus queira que chova!
É urgente voltar a centrar a atenção no aluno! Para isso, precisa- se de tempo e não de inúmeros planos, com siglas fantásticas, que ninguém lê mas que ocuparam imenso tempo a quem foi empurrado para os elaborar, redirecionar e reformular. Versam matérias perfeitamente do mundo da utopia. O que não se consegue perceber é como é que não há ninguém na administração que tenha dois dedos de testa e que perceba que se caiu numa outra dimensão muito longe da do ensino.
A maior parte das vezes nunca chove!!!
Esta coisa do MAIA ou dá dinheiro a alguém, ou dá resultados estatísticos e faz as direcções ficarem bem vistas perante o Poder.
Isto (que eu ainda nem percebi o que é, porque não tenho paciência para absurdos inúteis) está a ser imposto sem debate, sem direito a voto, pela figura omnipotente do Senhor Director, uma invenção da Maria de Lurdes Rodrigues e do seu partido.
Isto é mais um passo para o abismo, para a desconstrução dos valores básicos da Sociedade. Toda a escola será uma contínua Cidadania e Desenvolvimento, com os seus temas fracturantes artificiais, visando uma sociedade de indivíduos acríticos, de jovens pioneiros do Partido.
Só nos veremos livres disto de a 30 de Janeiro não continuarmos a votar nos nossos carrascos.
Pode ser que chova no dia 30 de janeiro de 2022!!! Vamos fazer por isso .