22 de Novembro de 2021 archive

Vamos supor que há falta de professores

 

Vamos supor que há falta de professores em certas zonas do país.

Vamos supor que nessas zonas, a escassez de professores é mesmo muito grave.

Vamos supor que essas zonas do país são zonas onde um t1, na melhor das hipóteses, custa 500€ e um quarto ronda os 250€.

Vamos supor que um professor contratado em Portugal, mesmo com 2 décadas de serviço, não saí do índice 167, ou seja, 1.°escalão e o seu vencimento, dependendo do desconto de IRS, SS e eventualmente ADSE, ronda os 1100€.

Vamos supor que a classe docente envelhecida, essa cheia de regalias de que se fala nas notícias, ronda os 60 anos. mas os joviais professores ainda contratados andam quase nos 50. vamos só supor, claro.

Com quase 50 anos a malta ou é casada ou divorciada ou nem uma coisa nem outra, mas tem família, certo. todas as pessoas têm família, certo. vamos só supor que a malta tem família.

Por ventura até poderão ter filhos. filhos que ou estão ou entrarão na universidade. Portanto, casa da família. Casa ou quatro para onde se vai trabalhar, transportes, comida, despesas de educação ou propinas da universidade dos filhos ou mesmo lares dos pais de quem, obviamente, não podem cuidar.

Vamos só supor que para além dos contratados, há técnicos de AEC, que na verdade são professores, mas como estão nas AEC recebem pelo índice 126, independentemente de serem profissionalizados. Não recebem sequer o ordenado mínimo nacional. repito, nem sequer recebem metade do ordenado mínimo nacional.

Vamos supor que este é o retrato da educação de Portugal. reformulo, vamos supor que esta é a vida de milhares de professores em Portugal. os tais milhares de quem querem “tratar” num espaço de 10 anos, até 2030. Entretanto, pode ir para professor qualquer pessoa que precise ganhar uns trocos em part-time. Eu por exemplo, enquanto estudei trabalhei na restauração no verão, mas agora a malta pode ser professor e fazer umas tasks quaisquer. Malabarismo. Equilibrismo. Palhaçadas.

Entretanto se quiserem posso começar a cuspir fogo neste circo. Agora pensem. Agora por favor pensem que professores querem para os vossos filhos. Que educação almejam para o nosso país.

Eunice

 

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Conselho de Turma em 2030 – Paulo Serra

 

 

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A idade média dos professores já vai nos 50,9 anos

 

Por carreiras, o BOEP mostra que a idade média dos trabalhadores supera o valor global de 47,7 anos entre os assistentes técnicos e os assistentes operacionais (com 50,2 e 50, 4 anos, respetivamente),  professores do ensino básico e secundário (50,9 anos).

Para Miguel Lucas Pires, a questão das remunerações e da evolução na carreira poderá ser um problema no recrutamento de pessoas para as carreiras mais qualificadas, porque “no privado as condições são tendencialmente mais favoráveis”.

Junto das menos qualificadas, acredita, o problema é menos relevante devido às condições oferecidas pela administração pública como a estabilidade do vínculo ou a proteção social acrescida.

 

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Vêm aí os computadores para as secretarias das escolas

 

Autoriza a Secretaria-Geral da Educação e Ciência (SGEC) a assumir encargos plurianuais com a aquisição de computadores de secretária (desktop computers), para dotar os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas de meios de computação adequados às necessidades administrativas e de gestão.

Portaria n.º 643-A/2021

 

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Falta de professores também já afeta colégios

 

Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo pede reunião urgente ao Governo.

Falta de professores também já afeta colégios

A falta de professores também já está a pressionar os colégios, que se defendem com o aumento da carga horária dos docentes. Entre as disciplinas mais críticas estão a matemática, físico química, informática e inglês.

A Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) pede, por isso, ao Governo medidas imediatas.

Neste contexto, o diretor executivo da AEEP avança à Renascença que ainda, esta segunda-feira, vai seguir para o Ministério da Educação um pedido urgente de reunião.

Rodrigo Queiroz e Melo defende que é possível avançar já com soluções e refere que foi com “alguma surpresa” que ouviu “as notícias do Governo a anunciar que qualquer resolução deste problema teria que ser na próxima legislatura”.

“Se há questões de fundo, que admitimos que não é agora o momento para as lançar, há medidas muito imediatas que não têm qualquer custo financeiro que poderiam ser resolvidas já, nomeadamente ser emitida uma portaria da habilitação própria”, defende Rodrigo Queiroz e Melo, acrescentando que “ainda hoje deve seguir o pedido de reunião urgente”.

Em causa, segundo o diretor executivo da AEEP, está “a portaria pré-Bolonha e, portanto, um licenciado em matemática, agora, não pode lecionar matemática no ensino secundário, sendo que aqui, a única questão é que se licenciou no pós-Bolonha”.

“É uma portaria muito simples e que permitiria recrutar aqui mais uns milhares de professores que não são via de ensino”, conclui Rodrigo Queiroz e Melo.

Os professores fazem greve às horas extraordinárias recentemente contratadas.

O protesto está previsto durar entre 22 e 26 de novembro.

 

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Carta aberta de um professor orgulhoso de o ser – João André Costa

Quando ando na rua, quando ando nos transportes públicos, quando vou jantar fora à Sexta e ao Sábado, quando saio da escola não posso deixar de me surpreender com as conversas alheias de quem ao meu lado se senta.

Rapidamente reconheço os temas, os alunos, os problemas com que nos deparamos no dia a dia entre conteúdos leccionados e pais em apuros mais as crianças e sempre as crianças e quase parece que pelo entusiasmo com que conversam que de facto não saí da escola, ainda lá estou ou então é a escola que sai comigo, sempre viva, sempre presente, consciente, significante, vital, viva.

E não há vergonha nenhuma, antes pelo contrário, só orgulho. Sempre que saio à rua é de todo impossível evitar este arrepio na pele que me percorre de alto a baixo quando, de repente, sinto que pertenço a algo, a um grupo, a um movimento, uma paixão, uma bandeira em riste e quem a leva somos nós, os professores.

Os professores que nunca deixam de o ser e toda as oportunidades são oportunidades para ensinar. Em troca? Em troca reconhecem-nos o mérito nas escolas, desempenhamos funções de coordenação, subimos na carreira e ao fim de 10 anos já estamos no topo. Em troca?

Em troca damos o litro, chegamos ao fim-de-semana com a língua invariavelmente de fora mas sem um livro ou caderno para corrigir ou rever em casa, o trabalho fica todo na escola, só o espírito é que não, esse está em todo o lado, o espírito de missão, e quanto às férias a mesma coisa e as férias fizeram-se para desligar e descansar. Em troca? Em troca leccionamos das 9 da manhã às 3 da tarde, às 3 da tarde os miúdos vão para casa que pouco depois os pais também e os serões, mal ou bem, ainda são em família. Do resto tratamos nós, até porque delinquência ainda há muita e famílias desestruturadas muito mais e a escola é mesmo o pilar social onde ainda tantos procuram o apoio que nunca tiveram.

E para que assim seja trabalhamos em estreita colaboração com assistentes sociais, psicólogos, terapeutas, orientadores profissionais, empresas e escolas técnicas mas também profissionais de saúde, bancos alimentares, decisores políticos entre tantos outros e entre tantos outros somos uns mas unos, parte de um movimento, com um propósito, um fim, um objectivo, que é o mesmo objectivo de todas as crianças: crescer.

Não tenho medo nem vergonha de o dizer: tenho orgulho em ser professor, em ser alguém com um papel activo, relevante. Com as nossas mãos não moldamos apenas vidas mas o nosso futuro.

E ao contrário do que em terras lusas acontece, aqui os governantes não nos atacam, a participação sindical é uma premissa básica e quando nos pisam os calos somos 500 mil nas ruas. Conclusão: não nos pisem os calos.

Quando há 20 anos abdiquei do ensino em Portugal, abdiquei também da incerteza, da precariedade, da subjugação. Abdiquei igualmente dos epítetos de inútil e incapaz com que os meus pares me classificaram: coitado, é professor, diziam. Perfeitamente incapaz em Portugal mas perfeitamente capaz de coordenar o ensino de todas as crianças hospitalizadas de um município de Londres. E de caminho dirigir uma escola. Até hoje. Ainda hoje. Sem favores. Sem conluios nem nepotismo. Sem vender a alma ao Diabo.

Ao que parece, durante os próximos 10 anos a falta de professores em Portugal promete ser uma lacuna difícil de preencher, ou não fossem necessários mais 34000 professores.

Quando há 20 anos acabei o curso havia 30000 professores no desemprego e eu era um deles. A coincidência dos números não é por acaso e se hoje estamos na situação em que estamos tal só acontece porque um país pobre de mentalidades não soube aproveitar os seus recursos. E isto, meus caros, é a verdadeira pobreza. Entretanto? Entretanto passaram 20 anos e os professores à data desempregados fizeram-se à vida, eu também, e já não voltam.

Ou voltam na premissa das mesmas condições salariais e laborais. Se assim for, já temos as malas feitas. Estamos só à espera de um telefonema.

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