Há alunos sem professor desde o início do ano letivo e as dificuldades para encontrar substitutos são cada vez maiores. Governo prometeu medidas, mas nada mudou ainda
Na revista do SPGL (Escola Informação, n.º 279) de Outubro de 2021, foi publicada uma notícia sob o título: “Agrupamento de Escolas Gil Vicente. De como uma má gestão pode destruir uma escola”
No momento presente, o lema que melhor define a actuação do Ministério da Educação parece ser este: Os Unicórnios são nossos amigos…
A alucinação e o devaneio, numa “dinâmica perpétua e circular” (conceito roubado do Projecto Ubuntu…), parece ter-se instalado definitivamente no Ministério da Educação, fazendo prevalecer a convicção de que o entretenimento continua, agora mais evidente do que nunca, e agora também, previsivelmente, em modo de: “Bora lá, brincar a sermos felizes!”…
Ainda que o elenco de perguntas possa ser considerado como “minimalista”:
O que importa o número de alunos por turma?
O que importa a instabilidade profissional que afecta a Classe Docente ou os vícios impactantes da respectiva Carreira?
O que importa a falta de professores nas escolas?
O que importa a burocracia e o entulho de papéis? Ou se o preenchimento infindável de tabelas e de grelhas dominarem qualquer reunião, apesar de não terem qualquer reflexo ou efeito prático e concreto na função de ensinar?
O que importam as condições físicas e materiais das escolas?
O que importa se existirem alunos com fome e entregues a si próprios?
O que importam as “minudências” terrenas e mundanas?
Nada disso importa… O que importa é “animar a malta” com “Projectos Encantados, Meigos e Afectuosos”, supostamente “cheios de Luz” e, de preferência, em regime de “fast-food”: “prontos a comer”, à partida muito apelativos e persuasores, mas quase sempre enganadoramente saciantes…
O Ministério da Educação teima em não querer percepcionar a realidade existente nas escolas e em negá-la obstinadamente, enredado numa espiral de dogmatismo e de afastamento das vivências tangíveis…
O lema oficial do Ministério da Educação e de muitos Agrupamentos de Escolas bem podia passar a ser: Os Unicórnios são nossos amigos, tal é o grau de irrealismo e de fantasia que por aí grassam… E quando a isso se junta uma certa porção de lamechice, obtém-se um “Conto de Fadas”, mas sem um final feliz e sem que todos vivam felizes para sempre…
E isto sem querer menosprezar os autênticos “Contos de Fadas” e sem ignorar a sua importância lúdica e o seu papel na compreensão de alguns processos mentais…
Mas não nos enganemos, a pretensa “Felicidade” vem acompanhada de um “preço” e a estratégia do Ministério da Educação, digna de um ardiloso Maquiavel, não pode deixar de se assinalar:
Os Projectos mais recentes patrocinados pelo Ministério da Educação, divulgados no passado dia 6 de Novembro, pela voz do Secretário de Estado Adjunto e da Educação (por via da Agência Lusa), na prática, parecem visar a atribuição de mais uma responsabilidade aos professores, que não aparenta ser pequena:
A responsabilidade pela boa saúde mental dos alunos, nada menos do que isso…
Pela via anunciada, parece esperar-se que os professores consigam capacitar os alunos ao nível da gestão das emoções, da relação consigo e com os outros, da auto-estima, da confiança e do controlo das atitudes…
Ou seja, por tais Projectos, a responsabilidade pela aquisição de competências sociais e emocionais por parte dos alunos passa a ser vinculável e imputável aos professores, ainda que isso seja apresentado de forma ligeiramente subreptícia…
A frequência de uma formação inerente aos Projectos, com algumas horas de duração, capacita, em termos técnicos e científicos, os professores para tal desígnio?
Ou pretende dar-se aos mesmos a ilusão de que tal é possível, aproveitando para posteriormente os culpabilizar se os resultados obtidos não corresponderem aos desejados?
A formação académica, teórica e prática, necessária e imprescindível para intervir nessas situações deixou de o ser?
Os Sábios do Ministério da Educação acreditarão convictamente que as dificuldades sócio-emocionais experimentadas por alguns alunos são solucionáveis, recorrendo à implementação de Projectos como os que se avizinham ou que já estão em marcha em algumas escolas?
Não quero acreditar que seja assim… E tenho dúvidas de que os alunos venham a ser, efectivamente, os principais destinatários destes Projectos…
Honestamente, não sei se isto é “chico-espertice”, ignorância ou se é mesmo má-fé…
Cada um decida como entender, mas consciente de que determinadas “Formações Holísticas, Metafísicas ou Transcendentais” pressupõem que terceiros aceitem e assumam uma responsabilidade que, na verdade, não pode ser da sua competência, nem fazer parte das suas atribuições…
A Educação parece estar com dificuldades em distinguir entre o que é real e o que é imaginário ou fantasia, dominada pelo Pensamento e pelo Poder Mágico, de que são exemplos todos os “Rituais de Papéis” associados à realização de reuniões numa escola ou Projectos apresentados como se fossem uma panaceia miraculosa…
E os professores parecem estar a caminho de serem transformados em Alquimistas, a quem se exige ser capaz de curar todos os males, agora também os que afectem a saúde mental dos alunos…
Desde que os professores aceitem que tal epíteto lhes seja atribuído, o Ministério não terá quaisquer motivos para se ver obrigado a “descer à Terra”…
Se o verdadeiro objectivo é “recuperar aprendizagens”, como se atinge tal fim sem que aos professores seja concedido o tempo e a serenidade necessários para ensinar?
Nessa pretensa recuperação, que cabimento têm as absurdas e insanas tarefas burocráticas, o actual número de alunos por turma ou a falta acentuada de professores em algumas Disciplinas?
Ou “recuperar aprendizagens” não passa de um pretexto para justificar a tomada de decisões irrealistas, com possíveis finalidades duvidosas e obscuras?
Quanto custa ao erário público a implementação destes Projectos e que valoração é esperada na relação custo-benefício?
Cada um tem o direito de acreditar no que quiser, inclusive em Unicórnios, mas quando a Fantasia se torna no pensamento oficial, algo de muito errado está a acontecer…
Responsáveis da Confederação Nacional das Associações de Pais e da Associação Nacional de Directores de Escolas Públicas dizem que tem existido “excesso de zelo” nas decisões de encerramento e fecho de escolas. Nesta segunda-feira, existiam 169 surtos activos em estabelecimentos de ensino.
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