Foram hoje efetuadas 705 colocações de docentes, no âmbito do Concurso Interno de Afetação, pertencentes aos quadros da Região e do restante território nacional, para o próximo ano escolar.
Segundo a Secretária Regional da Educação, “o concurso deste ano foi mais complexo uma vez que, para além da habitual colocação dos docentes de quadros de escola que pretendem lecionar noutra unidade orgânica, foram integrados também, pela primeira vez, os docentes colocados em quadros de ilha”.
Já vários professores me perguntaram qual a data provável para a saída da Reserva de Recrutamento 1.
Ao longo da última década a Reserva de Recrutamento 1 tem sido publicada na primeira quinzena de setembro, com exceção do ano letivo 2014/2015, que foi publicada apenas no dia 23 de setembro. O dia da semana em que a reserva de recrutamento 1 tem sido publicada nos últimos 3 anos calha sempre numa sexta-feira.
Assim, tendo em conta estes dados aponto que a RR1 possa ser publicada no dia 3 de setembro de 2021, numa sexta-feira, desde que a DGAE peça às escolas as necessidades até ao dia 31 de agosto. Caso não o faça, a probabilidade das colocações na RR1 saírem no dia 3 de setembro será quase nula e apenas na semana de 6 a 10 de setembro poderá ser publicada esta lista de colocações que terá apenas horários anuais, completos e incompletos.
Não será novidade para ninguém que trabalhe em contexto escolar que, na maior parte das escolas, os alunos “fogem” dos respectivos Refeitórios…
Os motivos apresentados pelos alunos para justificar essa aversão passam quase sempre pela quantidade (pouca) e/ou pela qualidade (questionável e duvidosa) da comida que aí é servida frequentemente, sem esquecer alguns erros de confecção, traduzidos muitas vezes pela ausência ou pelo excesso de sal e por apresentar pratos de carne, algumas vezes praticamente crua, mais notórios quando o frango faz parte da ementa do dia… Quando o peixe faz parte do cardápio, também não é raro apresentar-se com um cheiro tão intenso que faça colocar a hipótese de não se encontrar nas melhores condições…
Mas a verdade é que as suas queixas e reclamações, apesar de recorrentes, parecem não ser ouvidas por ninguém… Quase sempre, os Assistentes Operacionais que apoiam na logística dos Refeitórios veem o que aí se passa, mas não parece que reportem os problemas existentes às Direcções dos Agrupamentos; e se reportam raramente existe uma intervenção que conduza à alteração visível e efectiva desse estado de coisas…
Quantos adultos de uma escola são utentes assíduos desses Refeitórios e conhecedores efectivos do que aí é servido aos alunos?
E não adianta de nada sermos hipócritas: nas condições descritas é legítimo que os alunos procurem outras alternativas de alimentação, apesar das opções disponíveis poderem ser ainda menos saudáveis e menos aconselháveis…
– Se existe a preocupação genuína da parte do Governo relativa à Alimentação das crianças/jovens em contexto escolar porque não intervém ao nível do controle efectivo da qualidade da comida que é servida nos Refeitórios Escolares? Porque não existem inspecções regulares, e sem aviso prévio, a esses espaços? Ou será que não existem porque, em primeira instância, o principal responsável pela qualidade da comida aí servida é o próprio Ministério da Educação?
Previsivelmente, o problema também será conhecido por grande parte dos pais, mas incompreensivelmente não é comum ouvirmos a Confederação das Associações de Pais a reivindicar a melhoria das condições da comida que é servida nos Refeitórios Escolares… Porque não o fazem, sendo este um assunto que teoricamente deveria ser do seu maior interesse?
A venda, pelas escolas, de determinados alimentos agora proibida pelo Governo faz sentido sem estarem resolvidos outros problemas de fundo como o descrito anteriormente? Ou será apenas uma medida propagandista, baseada na aceitação previsível que a mesma teria em termos de opinião pública?
Além do mais, e como frequentemente acontece perante proibições deste género, a procura de estratégias para contornar e “furar” a interdição costuma apresentar-se quase sempre como uma espécie de desafio, muito criativo… Ou seja, a proibição em si mesma não irá provocar qualquer alteração significativa ao nível dos hábitos alimentares das crianças/jovens e que possa ser considerada como duradoura, antes pelo contrário…
Percebe-se o objectivo do Governo: intervir em questões de fundo, como a flexibilização das políticas laborais, no sentido de permitir, por exemplo, a existência de horários de trabalho mais favoráveis ao acompanhamento de crianças/jovens seria muito mais dispendioso e muito mais complexo do que incumbir o Ministério da Educação de aplicar algumas medidas desgarradas, avulsas e demagógicas, como as mais recentes relativas ao Desporto Escolar no 2º Ciclo (ciclismo) ou à Alimentação…
Mais uma vez, e incompreensivelmente, também não é comum ouvirmos a Confederação das Associações de Pais a reivindicar ao Governo a melhoria das condições de trabalho, em particular a flexibilização dos horários laborais, no sentido de as Famílias poderem apoiar e acompanhar com maior proximidade os seus educandos… Porque não o fazem, sendo este outro assunto que teoricamente também deveria ser do seu maior interesse?
– Se existe preocupação genuína da parte do Governo no sentido de combater o sedentarismo das crianças/jovens porque se permite que os mesmos tenham horários semanais de aulas sobrecarregados, com a consequente obrigatoriedade de passar a maior parte do seu dia sentados dentro de uma sala de aula? Ou será que esse ponto é “intocável” porque, em primeira instância, o Ministério da Educação é o principal responsável por essa situação, nomeadamente pelo facto de as crianças/jovens serem obrigados a passar a maior parte do seu dia na escola?
Presume-se até que esse sedentarismo seja considerado como “bom” por parte do Ministério da Educação, uma vez que é promovido por si… Todo o restante será certamente considerado como “mau” e com efeitos físicos e psicológicos altamente nefastos…
E depois ignora-se mais esse problema de fundo e faz-se de conta que os alunos do 2º Ciclo vão deixar de ser sedentários, pela medida agora inscrita no Desporto Escolar…
A Escola e a Família são entidades distintas, com funções insubstituíveis e atribuições específicas que não devem ser confundidas. E cada uma dessas entidades, com funções particulares e intrínsecas, mas também complementares na formação das crianças e dos jovens, deve assumir a sua responsabilidade no desempenho das respectivas atribuições…
Por outras palavras: à Escola o que é da Escola e à Família o que é da Família, sem atropelos e sem ambiguidades…
Aumentar sistematicamente as funções da Escola, ao mesmo tempo que se fomenta a dita “Escola a tempo inteiro”, é contribuir para a desresponsabilização e desoneração da Família e fomentar o “abandono oficioso” das crianças e dos jovens, sobejamente conhecido de todos, mas socialmente tolerado…
O “abandono oficioso” não é aquele que legalmente é reportado às CPCJ… O “abandono oficioso” é aquele que é praticado no seio de muitas Famílias, com o conhecimento e conivência de muitas Associações de Pais e que, de certa forma, também é promovido pelo próprio Ministério da Educação, pela promulgação de medidas que difundem a ideia, profundamente errada, de que à Escola tudo é possível, até substituir a Família em algumas das suas principais funções…
Claro que sabemos que essa “solução” também é a mais almejada por muitas Famílias e que a “Escola a tempo inteiro” foi uma das reivindicações da Confederação das Associações de Pais… Contudo, não parece que a “Escola-Depósito” de crianças/jovens seja a mais benéfica para os mesmos…
Fazer de conta que é e tentar iludir a opinião pública com medidas falaciosas como as mais recentes, relativas à Alimentação e ao Desporto Escolar, é apenas mascarar os problemas de fundo e enveredar pela via do mais fácil e, sobretudo, do menos dispendioso…
As crianças e jovens precisam de adultos que sirvam como modelo de honestidade e de confiabilidade, mas nesses pontos este Ministério da Educação não poderá ser considerado como um exemplo a seguir…
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